Festa e um possível barraco

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Hoje haverá uma festa na casa de Kim – Kimberly, minha melhor amiga desde o ensino fundamental 1 – e para o meu azar a festa é de rock. Ou seja, ela é minha melhor amiga e me dá todo o apoio do mundo então provavelmente, meu álbum novo irá tocar nesta festa e eu vou morrer de vergonha. Pego minha camiseta do nirvana, meu all star preto e uma calça preta meio larga então aperto bem no nó da calça e lembro da peça que não pode faltar: minha jaqueta autografada por ninguém menos ninguém mais que Ringo Starr e Paul McCartney, mas ninguém sabe disso porque está autografada por dentro pra ninguém roubar e vender por milhões.

Me olho no espero, mas me acho feio, mas percebo que meus óculos redondos estão embasados. Limpo e me olho novamente. Ok, eu estou pronto. Pego as chaves do carro e de casa e dirijo por 30 minutos dentro de são Paulo até chegar na casa de Kim.

. . .

– Oi Cauã! – Kim diz e me abraça.

– Oi Kim! – digo – quanto tempo! Duas semanas sem se ver!

Nós rimos.

– Entra lá. Jajá vou falar com você – ela diz me empurrando pra dentro.

Ela estava belíssima. Um cropped preto meio transparente por cima e um tipo de top branco por baixo e uma calça preta larga. Sua pele preta ficou em destaque com essa roupa belíssima igual a ela. Seu cabelo está preso em um coque.

Dentro da festa tem muitas pessoas, mas logo avisto o maior babaca da história da música popular brasileira. Vou dar uma de Rita Lee e arrombar a festa se esse garoto vier falar comigo. Eu vou até o bar e pego um drinque e me sento em uma mesa perto do bolo e até agora nada de alguma música minha, ou de Kim ou de Gabriel.

Ele é o tipo garoto que canta besteiras em inglês misturado com português – garoto porque mentalmente ele parece que não cresce – e suas músicas são péssimas. Eu não me acho o melhor músico, mas ganho desse babaca facilmente.

Odeio seu cabelo preto com um topete. Odeio seu sorriso. Odeio seus olhos castanhos claro. Odeio seu corpo de gente saudável. Odeio sua pele clara de quem não toma sol. Odeio seu maxilar perfeito. Odeio o fato de ele ser um amigo de Kim. Odeio suas orelhas de tamanho medianas. Odeio a roupa que está usando. Odeio tudo nesse garoto. Ele é um babaca de merda, egocêntrico e nem se me pagarem eu vou gostar desse garoto em qualquer sentido.

Ele percebe que estou olhando para ele o que é uma péssima coisa porque estou com o olhar furioso e o nariz enrugado. Ele bem na minha direção e eu desvio o olhar, mas ainda estou furioso por Kim ter chamado esse filho da puta pra essa festa. Porque ela tinha que ser uma atriz famosa que conhece muita gente famosa?

– Oi, quanto tempo hein Cauã – ele me diz esticando a mão na minha direção. Eu não a pego. Ele recolhe sua mão e me olha feio – aparentemente você continua sendo o mesmo babaquinha.

– Como se você não fosse um – eu dou uma risadinha debochada.

Ele apoia uma mão na mesa ficando de frente pra mim e a outra ele segura a gola da minha camiseta e me puxa pra perto do rosto dele.

– Se você continuar, a situação ficará grave.

– Foi você que começou – merda. Pareci uma criança agora. Só faltou completar falando "vou contar pra minha mãe que você quem começou"

Kim aparece.

– Tá rolando uma tensão sexual aqui ou eu estou louca? – ela nos olha com uma cara de estou interrompendo algo?

– Você que está louca – dizemos ao mesmo tempo olhando para ela e ele me solta. Minha camiseta fica toda amarrotada.

– Esse babaca do seu amigo – resmungo olhando de Kim para Gabriel – veio encher a porra do meu saco.

– Espere aí. Eu vim como um sinal de paz e amor. Bem Peace & Love, mas você começou a ser grosseiro e eu só devolvi na mesma moeda – ele cruza os braços.

– Chega crianças – ela diz – por favor. Não estraguem a festa nem arrumem briga. Vão para o bar beber e conversar – ela aponta para o bar.

Nós damos de ombros e vamos.

Chegando lá, nos sentamos e ele pede uma bebida toda estranha e eu peço Vodka com limão porque estou sem paciência. Nós bebemos em silencio por um tempo.

– Suas músicas são um lixo de barulhentas – ele diz.

– Ah, me desculpe melhor cantor fodão do Brasil – digo e bufo – você canta em inglês mano. Nem musica brasileira deveria se considerar.

– Você faz o mesmo.

– Calma aí. Aquilo são covers de músicas internacionais.

– Pior ainda. Você tá copiando.

Eu respiro fundo e solto o ar de uma vez. Não vou perder meu tempo discutindo com esse babaca.

Ele fica falando da sua ex namorada por 12 minutos completos.

– Meu Deus Gabriel, esquece essa garota e para de falar dela! – eu exclamo.

Ele pega o resto de sua bebida e joga em mim. Eu me levanto e fico de frente pra ele.

– Você tá doido garoto?

Eu pego um copo cheio de uma bebida que eu não sei e derrubo na sua cabeça. Ela escorre pelo seu corpo. Ele me olha furioso.

– Qual foi!? – ele grita comigo e me empurra.

Eu bato de costas na parede e caio no chão. As bebidas na prateleira da parede balançam. Ele se levanta da banqueta e me estende a mão eu levanto e empurro ele de volta. Ele quase cai, mas se escora na bancada do bar derrubando vários tipos de bebidas caras. A festa parou e começou a olhar para a gente.

– Crianças, parem por favor!? – Kim grita.

Gabriel vem na minha direção de novo e tenta me empurrar, mas eu chuto seu saco e ele cai no chão gritando.

– Porra Cauã. Chutar já é de mais

Eu dou de ombros.

Gabriel pega meu pé e me puxa, fazendo eu cair no chão. Ele fica em cima de mim e começa a me socar, eu tento fazer uma espécie de escudo com os braços, mas não adianta muita coisa.

Três seguranças aparecem e dois puxam ele de cima de mim e outro me puxa. A prateleira range e as bebidas caem. Por sorte não caem em cima de nós.

Cada bebida dessa deve valer várias notas de cem reais, estamos fodidos.

Um amor entre notas músicaisOnde histórias criam vida. Descubra agora