Um amor entre notas músicais

Eu o quero de volta

Dia 1 depois de Gabriel ser preso: não achei nada.

Dia 2: Não achei nada.

Dia 3: não achei nada de novo.

Dia 4 (hoje): fio de cabelo grande e não é nosso. Pego com uma luva e guardo num saco.

Eu troco de roupa e descido levar até o advogado de Gabriel.

. . .

– Você mostrou isso a mais alguém?

Respondo que não com a cabeça.

– Vou levar para um laboratório de D.N.A

Assinto, e vou embora.

. . .

– Ele foi mesmo preso? – Alex pergunta.

Faço que sim com a cabeça.

– E você tá de boa com isso? – Kim pergunta.

Viro um shot.

– Está bem, já entendi – ela diz.

Encho o copo de dose de novo.

– Minha missão é ficar bêbado o suficiente para dormir e esquecer o que aconteceu.

– Gabriel não iria gostar que fizesse isso – ela diz – ele iria gostar que você tentasse se cuidar mesmo sem ele. Eu sou amiga dele e o conheço, Cauã.

Não respondo, eu só quero ficar bêbado. Mas ela tem razão, ele não iria querer isso. De qualquer forma, vou ficar bêbado, e é o que eu faço.

– Vem amigão, vou te levar pra dormir na minha casa – diz Alex me carregando pelo ombro.

Ele me senta no carro e me leva pra sua casa.

Durmo no sofá e ele vai dormir no seu quarto.

. . .

– Bom dia – Alex diz agachado do meu lado com uma bandeja na mão.

Eu me sento e minha cabeça está explodindo.

– Eu não estou com fome – digo.

– Eu não quero saber, come – ele diz – se você passar mal, eu te mato.

Bufo e descido comer. Gabriel gostaria que eu comesse.

Quando termino de comer recebo uma mensagem dizendo que posso visitar Gabriel hoje.

. . .

Corro até onde ele está e pulo no seu colo e começo a chorar.

– Eu vou te tirar daqui, prometo – digo.

Ele me põe no chão e me beija.

– Se eu não sair daqui, quero que viva sua vida. Namore outras pessoas, faça amigos e outras coisas. Entendeu?

– Mas eu... – tento contestar, mas ele me corta.

– Amor, por favor, não me espere – ele suspira – viva a sua vida, por favor. Pode fazer isso por mim?

Respondo que sim com a cabeça.

Ele dá um beijo na minha testa e me abraça.

O tempo de visita acaba e sou obrigado a ir embora, mas por mim ficaria o tempo todo com ele, seja preso ou não. Talvez ele esteja mentindo pra mim. Talvez ele esteja se cansando de mim. Talvez ele não goste mais de mim. Talvez ele seja um assassino...

Chego no meu apartamento e volto a estaca zero. Me entupo de remédios e vou dormir. Durmo das uma da tarde até as oito da noite, acordo assustado e todo suado. E eu tive um pesadelo, onde meu namorado era um serial killer e isso não é nada legal de se sonhar. Meu celular tem 10 ligações perdidas do advogado de Gabriel. Eu ligo de volta. Ele atende em quatro toques.

– Onde você estava? – ele pergunta.

– Eu estava dormindo.

Ele não responde.

– porque me ligou? – pergunto.

– Podemos inocentar Gabriel, mas você vai ter que expor algumas coisas pessoais.

– Faço qualquer coisa por ele – digo.

Ele suspira do outro lado da linha.

– Até contar sobre Sofia Oliveira?

– Eu não sei nada dela. Só sei que é amiga dele e... – Será que foi ela? Ela tem as chaves da casa – ela tem as chaves.

– Que chaves?

– Da casa dele. Ela tem as chaves da casa de Gabriel – coloco no vivo a voz e vou para o google.

Google

Quanto tempo demora para o cadáver começar a feder?

O cadáver começa a cheirar mal depois de 24 horas, mas piora com o passar do tempo.

Eu não acredito nisso, foi ela. Fazia um pouco mais de vinte e quaro horas que ela tinha aparecido lá.

– Foi ela – digo – fazia mais de vinte e quatro horas que ela tinha aparecido.

– Pode dizer isso na frente do tribunal?

Assinto, mas não adianta nada numa chamada de voz.

– Posso. Faço qualquer coisa por ele.

Ele explica os detalhes de como tem que ser meu comportamento no tribunal e desliga. Vai ser semana que vem e eu estou pronto para vê-la atras das grades como fez com meu homem. Ela não merece ter uma vida normal fora das grades. Gabriel não merece uma vida atras das grades vendo sol nascer quadrado.

Eu farei tudo para ter ele de volta comigo, tudo. Mas não me rebaixarei ao nível de matar alguém.