‣ Capítulo trinta e oito

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— Anna

Dezembro de 2022

Victória corria livre pelo extenso gramado verde fugindo de Daniel há vários minutos, parando apenas para recuperar o fôlego. A cena era agradável de ver. Enquanto observava a interação entre pai e filha, Anna sentiu uma onda de emoção e alegria invadir seu interior. Ela se lembrava dos momentos em que Vic questionava a ausência de uma figura paterna e como aquilo a entristecia. Agora, vê-la tão feliz ao lado de Daniel era uma prova de que seus esforços e escolhas estavam valendo a pena.

Daniel havia mudado. Mudado para melhor. Isso não podia negar.

Anna não sabia dizer se isso facilitava ou atrapalhava em sua convivência com ele. Ela tinha certeza de seus sentimentos por Léo: o amava intensamente. Por outro lado, a proximidade com o ex-namorado trazia à tona lembranças dos momentos que tiveram juntos e a química intensa que existia entre eles. Memórias e sentimentos que ela preferia deixar no passado.

Ela nem percebeu quando o rapaz dos olhos amendoados se aproximou para começar uma conversa.

— Faz um tempo que não nos divertimos assim, não é? — Anna assentiu e ele continuou — Éramos uma boa dupla. Isso você não pode negar.

Anna riu baixo e respondeu:

— Éramos. Mas eu e Léo também somos.

— Ai! Essa doeu.

— O quê? Você não podia acreditar que eu estaria te esperando até agora.

— Uma parte de mim acreditava. A outra me dizia que você era linda e interessante demais para estar sozinha.

A conversa foi interrompida por Victória que tirou os dois para brincar mais um pouco. E Anna jamais poderia imaginar que um inocente "Vocês não me pegam" dito pela sua mini-versão, fosse tão danoso.

A correria de um lado para o outro foi o suficiente para que os dois adultos desviassem de seus caminhos e colidissem com força suficiente para caírem ao chão.

Daniel tentou amortecer a queda, mas suas mãos não foram capazes de evitar que seus rostos ficassem a poucos centímetros de distância.

Ambos ficaram momentaneamente paralisados, sentindo suas respirações pesadas e seus corpos colados um ao outro. Seus olhares se encontraram, e Anna pôde ver a intensidade nos olhos amêndoas de Daniel. Sentiu seu coração acelerar. O passado e o presente se entrelaçaram em um turbilhão de emoções.

Ela tentou desviar o olhar, desvencilhar-se daquela situação, mas o rapaz igualmente atraído, segurou delicadamente seu rosto com as mãos, mantendo-a imóvel.

A voz dela saiu baixa, quase um sussurro:

— Por favor, me deixe levantar...

A risada de Victória deu uma pausa para que com todos os pulmões ela pudesse gritar:

— Léo! Você veio! — Suas pequenas pernas corriam em alta velocidade para abraçar o tatuado.

Aquilo foi o suficiente para que Anna e Daniel se levantassem do chão às pressas. O ex-namorado batia suas mãos pela camisa tentando desprender algumas folhas que agarraram no tecido, enquanto a ondulada apressava o passo para chegar até o namorado.

— O que está acontecendo aqui? — Ele disse sussurrando.

Anna engoliu em seco, sentindo-se instantaneamente desconfortável com a situação.

— Foi apenas um acidente. Num momento estávamos correndo e no outro estávamos no chão. Não foi nada intencional.

Os músculos mandibulares de Léo saltaram, indicando o quanto estava frustrado com a situação, mas mesmo assim, seu olhar não se desviou do rosto de Anna nem por um segundo.

— Não minimize o que eu acabei de ver, Anna. Eu vi como ele segurou seu rosto e parecia bem mais do que um acidente.

Anna tentou se explicar, buscando as palavras certas para acalmá-lo, mas sabia que seria em vão. Nada do que dissesse, melhoraria a situação em que foi encontrada com Daniel.

— Eu juro que estou tentando ficar o mais tranquilo possível com a aproximação desse cara, mas ele está tornando as coisas mais difíceis —
Apertou o osso do nariz com os dedos. — Não sei quanto tempo mais posso aguentar. Doeu ver vocês se divertindo em sua cozinha. Doeu assistir cada vez que ele te tocou enquanto conversavam e doeu ainda mais ver vocês a milímetros de distância se olhando daquele jeito.

— Léo, por favor, entenda que tudo isso não significou nada para mim! — Anna segurou o rosto do tatuado em suas mãos com um certo desespero.

— O problema é o que significou para mim. Por isso, eu estou me retirando dessa batalha, — Sua voz falhava — dessa disputa por você e Victória.

— Pelo amor de Deus! É da nossa vida, do nosso relacionamento que você está falando. Isso não é uma droga de um jogo!

— Inocente é você em pensar que não é, e esperto é ele — Apontou para Daniel — que está fazendo o pior dos jogos, se aproveitando de Victória para se aproximar de você. Torço para estar errado, mas se me permite ser egoísta, torço mais ainda para que não seja tarde demais quando você perceber o que está acontecendo.

Léo fez menção de ir embora.

— Não me vire as costas novamente, Léo. Vamos resolver isso como adultos! — Exclamou — Eu te amo, droga!

— Eu também te amo, Anna. Mas EU preciso me amar primeiro e não quero ficar no meio de vocês dois.

— Não existe um "nós dois" — Apontou para si mesma e para Daniel. — É você quem eu amo, Léo. Fica. — Suplicou.

— Vocês não tiveram um encerramento adequado, e eu entendo. Resolva isso primeiro, deixe para trás o que quer que sinta por ele e, então, você pode me procurar. Está bem?

Anna o viu dar as costas e partir. Mais uma vez.

• • •

Notas da autora

Quando a gente acha que tá encaminhando pra melhorar, outra coisa acontece, e aí, eles ficam mais distantes ainda 🤡 

Mas bem, prestem atenção em uma coisa: Anna é repleta de falhas, assim como eu e você. Os traumas a moldaram assim. No entanto, uma de suas características mais marcantes, é a capacidade de reconhecer seus erros. Acredito que foi justamente aqui, que ela percebeu que poderia ter evitado não tudo, mas uma boa parte do sofrimento.

Pensem pelo lado positivo, amanhã teremos atualização dupla e domingo também!

Beijos!

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