Capítulo XII: Teatro

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"Aqui, do seu lado, com um revólver, um tecido e um caco de vidro, eu encerro esse show. Não ouço aplausos nem gritos de adoração, só o som da dor que foi deixada para trás."

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Um bom tempo se passou depois daquele dia.

No meio de uma das varias noites que Nikolai passava observando o assassino dormir, ele tirou a adaga de baixo do travesseiro, atravessando facilmente o peito de Fyodor.

Ele sempre acordava nessa hora, só para ouvir a voz paciente do que dormia ao seu lado dizendo: "Está tudo bem, Kolai, é só um sonho".

Ah, como ele estava farto de desejar aquela voz!

Naquela madrugada, aproximadamente as quatro da manhã, Nikolai acordou com um susto. Se sentando na cama, ele teteou o espaço ao seu lado, encontrando Fyodor, que acordou com seu toque.

— Моя любовь? O que foi? — Ele perguntou, acordando um pouco surpreso.

Nikolai não respondeu, sentindo a ponta afiada da adaga roçar contra seus dedos quando ele procurou pela arma debaixo do travesseiro.

— Dostoy... — Ele começou, como se estivesse provando o nome em sua boca. — Qual seria seu jeito ideal de morrer?

Fyodor encarou seus olhos com dificuldade. Eles estavam arregalados, como se pudessem sair de suas órbitas a qualquer segundo.

— Pare de pensar sobre a morte... — Ele pediu, suas mãos seguravam as do acrobata, as afastando da adaga. — Nós estamos aqui e neste momento, não precisa se preocupar com isso.

— Dostoy — ele chamou com os olhos ainda maiores e com o rosto inexpressivo. — Eu sinto muito, por favor me perdoe...

— O que você fez? — Fyodor perguntou com a mesma serenidade habitual, suspirando quando Nikolai o abraçou, sentindo a pele pálida do acrobata em suas mãos.

— Eu não te amo o suficiente, Dostoy... — Ele insistiu, seus olhos vermelhos e suas lágrimas caindo. Seu rosto continuava a esconder o que ele sentia, inexplicávelmente imóvel.

Fyodor suspirou, confuso e em alerta.

— Tudo bem, só... — Ele respirou profundamente, abraçando Nikolai com mais força. — Só se perca. Se você precisa me matar, me mate, só não mate a si mesmo.

— Eu cansei de me sentir um louco do caralho! — Nikolai exclamou, segurando Fyodor contra si.

— Você não é louco — Mentiu o assassino.

O acrobata o encarou as costas pálidas do anêmico, percbendo que econseguia ver suas costelas sob a luz fraca do começo da manhã. Pensando no peso das propias palavras, Fyodor o deitou ao seu lado e eles ficaram lá até que o sol nascesse.

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Fyodor não dormiu. Ele esperou o acrobata cair no sono antes de se vestir e descer as escadas.

Algo o incomodava.

Talvez fosse porque tudo estava muito calmo naquela manhã. Nenhum agente da máfia tentou invadir a casa essa semana, nenhuma ameaça apareceu no correio á dias, e nenhum vizinho reclamou dos barulhos que vinham da casa esse mês.

A manhã estava pacífica, silenciosa. O único barulho que Fyodor ouvia eram os pássaros do lado de fora.

Ele alimentou a "filha" deles, Leda e escondeu a garrafa de vodca. As lembranças de quando ele e Nikolai bebiam pelo menos duas dessas por dia deixaram um pequeno sorriso em seu rosto.

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