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"Eu não sabia, por isso senti sua falta. Ser livre nunca foi meu principal objetivo. Eu queria deixar de sentir, deixar de amar."
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O acrobata mal dormiu naquela noite. Ele podia perceber que tudo estava diferente agora. Nikolai sentia ainda mais vontade de pendurar Fyodor pelo pescoço com seus tecidos. Ele se recusava a admitir o quanto ele amava o anêmico.
Naquela tarde, Fyodor tinha planejado algo especial. Nikolai acordou com a melodia de um violoncelo.
Ele desceu os degrais da escada com pressa, parando no meio dela ao ver Fyodor tocar os acordes com tanta perfeição. "Тëмная ночь"* era uma canção que transmitia de o sentimento de saudade e devoção. Nikolai sentiu que não era a primeira vez que ele a ouvia. Ele se manteve paralisado, assistindo o amado Demônio murmurar a letra da música.
[N. Música russa que retratava um soldado no campo de batalha cantando em saudade a esposa. "Dark is the Night" é o nome em inglês.]
"Eu sei que você vai me encontrar com amor, não importa o que aconteça comigo...
A morte não é terrível, com ela mais de uma vez nos encontramos na estepe
E agora ela está girando em cima de mim. Você está esperando por mim e não durma no berço
E então eu sei que nada vai acontecer comigo..."
— Bonito — Fyodor levantou a cabeça em direção ao bobo da corte quando ouviu sua voz. O acrobata descia as escadas, seu rosto demonstrava uma expressão fascinada.
— O que você acha bonito? — Fyodor perguntou, colocando o arco de lado, sorrindo ao ver Nikolai vir em sua direção.
— Tudo que você toca fica bonito — Nikolai sorriu pequeno, coisa que o assassino não estava acostumado a vê-lo fazer, já que o acrobata sempre optava por gargalhadas quando queria se expressar.
— Bom dia, моя любовь — ele encostou o violoncelo contra a poltrona enquanto Nikolai o abraçava firmemente.
Com o rosto do acrobata enterrado em seu ombro, Fyodor tentou pensar em um motivo para se afastar dele, falhando miseravelmente em sua tarefa. Ele gostava de ter Nikolai perto de si, mas não queria que nada de ruim acontecesse com o acrobata enquanto ele estivesse por perto.
— Bom dia Dostoy — Nikolai o abraçou com mais força.
— Há algo que você gostaria de me dizer? — Fyodor perguntou, pousando suas mãos nas costas do acrobata. Nikolai hesitou antes de responder com uma voz sonolenta.
— Eu gostaria que você cantasse para mim — Nikolai pediu, se afastando de seu ombro para olhar nos seus olhos.
Fyodor pode perceber que Nikolai não usava mais a carta em seu olho quando ele estava em casa com ele. Era como o ver de verdade, por trás de todos as brincadeiras e jogos.
Essa não era a primeira vez que Fyodor o via melancólico e cabisbaixo, como se uma onda de depressão o atingisse repentinamente. As vezes, aquilo durava dias, em outras, horas. Fyodor tentava continuar do seu lado quando isso acontecia. Transtorno de personalidade Bipolar*, como ele pesquisou.
[Distúrbio associado a alterações de humor que vão da depressão a episódios de obsessão.]
— "Na escura noite... Apenas balas, estão assoviando na estepe. Apenas o vento está uivando nos fios telefônicos..." — ele murmurou a canção perto do ouvido do palhaço, que voltou a colocar sua cabeça em seu ombro. Fyodor acariava lentamente os fios brancos da trança do acrobata. — "E as estrelas brilham fracamente..."
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Liberdade É Uma Consequência | FyoLai
FanfictionNikolai Gogol, o acrobata, fugiu do circo onde trabalhava para procurar a liberdade que um assassino havia prometido. Os sentimentos o deixam louco, mais do que já é, e tudo isso é culpa do seu parceiro, Fyodor Dostoyevsky. -> Ler os gatilhos antes...