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"Eu sei que entre o céu e a terra, todos me condenariam. Entre eu e você, meu coração era mais importante, mesmo que isso custasse minha liberdade no final."
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Nikolai não queria ficar a manhã inteira encarando seu melhor amigo dormindo, mas algo naquele rapaz que o salvou do circo fazia seus pensamentos borbulharem e seu coração acelerar. Ele chegou a se perguntar se era medo o que ele sentia.
Ele gostava de sentir esse "medo".
— Estranho, não? — Ele murmurou abraçando os propios joelhos. — Muito estranho.
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O trem finalmente chegou a seu destino e a dupla saiu as pressas.
Ninguém na estação estava realmente atrasado para alguma coisa, mas todos andavam para lá e para cá com muita rapidez.
— Dostoy, me deixa comprar um doce? — O acrobata lamentou após passar por mais uma vendinha na rua.
— É preciso guardar um pouco de dinheiro, Nikolai — Fyodor rebateu do mesmo jeito que tinha rebatido ao passar pelas três vendinhas passadas. Nikolai só pode fazer um bico e continuar seu andar cabisbaixo.
Outra vendinha se passou, dessa vez, com pastilás que pareciam incrivelmente deliciosas. Nikolai foi pedir outra vez mas Fyodor já estava indo em direção a ela.
Nikolai esperou por perto mas, como havia muito barulho em volta, ele não conseguiu escutar o que seu amigo discutia alegremente com o vendedor. Eles provavelmente estavam falando em outra língua, por isso o bobo da corte não conseguia entender. No final, o vendedor o deu duas pastilás e um pacote branco com formato um tanto estranho. Finalmente, eles foram embora pela rua.
— "Obrigaduu"! — O palhaço exclamou, olhando para seu doce com o olho brilhante. — Eu me pergunto, o que Dostoy comprou na barraca? — Ele perguntou em um tom provocativo.
— Um presente para você —, o crente revelou. — Porém você só pode abrir quando chegar a hora certa — Fyodor sorriu levemente. — Agora, só precisamos chegar em casa.
— Em casa? — Nikolai perguntou. — Nós estamos indo para casa?
— Para minha casa — Fyodor disse enquanto olhava para sua comida com agonia. — Talvez ela esteja suja e com varios ratos, mas, por favor, não se importe.
— Não vou me importar! — Nikolai disse, já tendo devorado sua parte do doce. — Sua casa deve ser tão bonita quanto você.
O acrobata parou um segundo na rua, pensando no que o que ele acabou de dizer significava. Fyodor parou e observou o palhaço paralisado – e um pouco vermelho – a sua frente. O russo não pode segurar um pequeno riso.
— Você é que sabe, já que, aparentemente, eu sou tão bonito quanto uma casa velha e mofada — ele disse por fim, enquanto sorria de lado e seguia rua a cima. O palhaço não pode fazer nada além de gargalhar e ir atrás dele.
Depois de algum tempo andando, eles finalmente chegaram em casa. Nikolai abriu a porta e se admirou com a beleza da casa que, sinceramente, não era tão pequena. Um lustre grande e luxuoso, porém muito empoeirado, estava instalado no teto, perto do corrimão do andar de cima.
— Tudo isso é seu? — Nikolai perguntou perplexo, jogando sua mala em um sofá preto que se encontrava por perto.
— Os donos antigos morreram, aqui é um lugar abandonado — Fyodor contou, abrindo um armário de onde saíram vários ratos em fileira. Nikolai abaixou para fazer carinho em um deles, mas o rato guinchou e correu para o outro lado do cômodo. — Aceita um chá? — Ele estendeu um bule cheio de rachaduras e com bastante poeira.
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Liberdade É Uma Consequência | FyoLai
Hayran KurguNikolai Gogol, o acrobata, fugiu do circo onde trabalhava para procurar a liberdade que um assassino havia prometido. Os sentimentos o deixam louco, mais do que já é, e tudo isso é culpa do seu parceiro, Fyodor Dostoyevsky. -> Ler os gatilhos antes...