Capítulo XIV: Carta de Despedida

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"Aqui, em meio ao que restou, eu percebo que a liberdade nunca existiu. Liberdade é uma consequência do amor que eu matei."

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Era a primeira vez que Nikolai usava sua habilidade desde o dia em que Fyodor se foi. Ele fez um portal transportar a banheira para sala, de frente ao seu tecido.

Era difícil encarar o corpo de Fyodor, principalmente porque ele já estava desfigurado e podre. Nikolai pegou uma cadeira e colocou na frente do lustre.

Tudo tinha que estar perfeito! Esse seria o último show do acrobata, com ninguém na plateia além daquele que Nikolai mais amou.

O acrobata pegou o revólver prateado na gaveta do armário e subiu na cadeira, desdobrando a carta que ele tinha escrito na noite anterior. Ele pigarreou e começou seu show.

— Caro convidado, meu amado, Dostoy. É um prazer te ver aqui! — Ele forçou um riso para fora de sua garganta, mas a plateia não se moveu. — Eu sou Nikolai Gogol, o maior é melhor acrobata do Circo de Copas, e hoje, estou aqui para comemorar meu último dia de vida!

Não houve aplausos.

O acrobata continuou, mesmo que cada palavra rasgasse sua garganta.

— Eu escrevi uma carta. Uma carta de amor, porque, mesmo sendo O Palhaço Maniaco, eu ainda sinto remorso em matar.

Ele segurou o papel com mais força, ainda que com cuidado para não o amassar.

Por toda sua vida, ele continuou dizendo a suas vítimas que era louco, que não sentia, que não amava... O preço que ele pagou para aprender que essa não era a verdade foi muito caro, tanto para ele quanto para Fyodor.

Meu amado Dostoy —, ele começou a ler a carta, sentindo seus olhos formando as lágrimas, mas mantendo seu sorriso estampado em seu rosto.

"Eu quero ser livre! Por muito tempo pensei que liberdade fosse uma ilusão para nossos cérebros maldosos, mas as coisas mudaram quando eu te vi.

Me convenci que iriamos dominar o mundo com sua perseverança e habilidade. Mesmo aqueles que nunca te viram temeriam seu nome, meu amado Demônio!

Mas mesmo quando o sol não nascer de novo, mesmo quando o a lua parar de brilhar e mesmo quando as estrelas caírem na terra, eu ainda te verei no reflexo do espelho."

Nikolai respirou fundo, afastando as lágrimas e rindo de quão ridículo aquilo soava. Ele sempre foi muito expressivo, aquele show não seria diferente. Cada frase vinha junto com expressões dignas de uma peça teatral.

"Eu sei que entre o céu e a terra, todos me condenariam. Entre eu e você, meu coração era mais importante, mesmo que isso custasse minha liberdade no final.

E parece que o tempo não é relativo. Parece que o tempo importa demais. Parece que o tempo anda muito devagar. Cada dia parece um ano. Eu te conhecia a minha vida inteira!"

"A lebre que pulava alegremente por minha cartola quebrou a perna e cansou de fazer shows."

Ele riu um pouco.

— Aqui eu fiz uma metáfora... gostou, Dostoy? — Algumas lágrimas escorriam por seu rosto risonho, se disfarçando em meio ao seu sorriso.

"Eu a digo: 'Dance, pois isso será a única coisa que garante sua sobrevivência. Cuidado com os cacos de vidro e tente não derrubar o lustre!' Mas ela não me escuta e volta a chorar.

Liberdade É Uma Consequência | FyoLai Onde histórias criam vida. Descubra agora