Projeções

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Três semanas. Vinte e um dias. Quinhentos e quatro horas. Trinta mil, duzentos e...

— Pipe.

Bianca gritou para Macris, já projetando o corpo no ar em um salto perfeito atrás da linha dos três metros. A levantadora fez o que foi pedido com uma habilidade que fazia o movimento parecer fácil. Quando a bola desceu na altura ideal para encaixar na sua mão, a ponteira girou o braço velozmente e acertou com força. O som da pancada na bola tocando o chão da quadra reverberou e Nyeme não teve reação de tentar defendê-la.

Bene, menina.- o técnico italiano, Nicola Negro, aplaudiu na beira da quadra, atento aos erros e acertos do time.— Nyeme, atrás da bola. Ricordi, va bene?

A líbero assentiu, ouvindo as orientações no mais perfeito portuliano do treinador. Deu alguns pulinhos sem sair do lugar, aquecendo o corpo para a próxima bola que receberia. Os treinos estavam cada dia mais intensos e havia uma explicação: a temporada começaria em três semanas.

Antes do relógio marcar meio dia, o italiano dispensou as atletas por hora. O primeiro treino do dia tinha terminado e levou consigo toda a disposição das meninas. O primeiro campeonato da temporada seria o estadual, que Nicola usaria para dar rodagem as jogadoras novas e entrosar o time, depois viria o primeiro turno da Superliga e o Mundial de clubes em dezembro. O calendário cheio exigia muito de todos, os treinos ocorriam em três períodos do dia, consequentemente fazia nascer uma preocupação maior quanto aos riscos de lesões às vésperas dos primeiros jogos.

— Almoço no Jacinta?

De súbito, Carol Gattaz tomou a frente de Bianca, que estava sentada no banco afrouxando as joelheiras distraidamente. Quando levantou os olhos azuis, um pouco assustada, teve a felicidade de encontrar a capitã sorrindo em expectativa para ela.

— Funcionárias da Keyla tem desconto?- brincou, arrancando uma risada da mulher mais velha.

O restaurante da diretora de vôlei feminino era, para as jogadoras, como uma extensão do clube. Não era incomum encontrar o grupo almoçando por lá nos intervalos dos treinos, o que garantiu a elas um cartão fidelidade dado pela própria Keyla.

— Eu ganhei uma cerveja da casa quando ela estava no restaurante da última vez que fui, mas era dia de semana e não pude beber.- a última informação foi dita com os ombros baixos e uma expressão desolada, que fez Bianca gargalhar.

— Me convenceu. Só preciso levar uns papéis pra Bruninha e te encontro no estacionamento, tá?

A central assentiu sorridente, pegou sua garrafa de água e saiu rumo ao vestiário. Recém-completados dez dias de Minas Tênis Clube, a ponteira começava a se sentir parte do grupo. Gattaz e Macris eram as jogadoras com quem mais conversava, mas tinha uma relação harmônica com todas. Exceto, uma.

[...]

— Levanta mais um pouco.- instruiu a fisioterapeuta, acompanhando o movimento da garota erguer a perna esquerda e dobrar o joelho levemente no ar.— Isso, mas dá pra dobrar mais um pouquinho esse trem.

O tom bem humorado de Bruna servia para aliviar as torturantes sessões de recuperação ao mesmo tempo que estimulava a jovem atleta a oferecer mais de si.

— Seu filho sabe que tortura mulheres indefesas durante a semana?- indagou Luiza, crispando os olhos na direção de Bruna em falsa acusação.

A fisioterapeuta riu, esperou o joelho erguido de Luiza alcançar e tocar os seus dedos suspensos no ar em uma linha limitante. Quando as peles se encontraram, Bruna deu duas batidas sutis na patela e Luiza entendeu o pedido. Desceu a perna, voltando a posição anterior, respirou fundo a fim de se preparar para repetir o movimento, mas antes que pudesse continuar, a porta da sala abriu.

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