Passarinho

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Olha quem voltou depois de uma semana invicta na VNL?

Ouçam Passarinho da Carol Biazin e Gabriel Froede, essa música inspirou o capítulo.

VOTEM E COMENTEM!!!!! Isso me ajuda a continuar.

Boa leitura.

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— Minha.

O pedido de Bianca foi atendido com maestria pela levantadora. Somente com uma das mãos, Macris levantou a bola do set pelo fundo meio da quadra, na altura perfeita para Bianca saltar atrás da linha dos três metros e girar o braço velozmente, batendo na bola e afundando-a na quadra adversária.

Fim do segundo set.

A decisão do Campeonato Mineiro Walewska Oliveira estava empatada e bem equilibrada até aquele momento. Os erros técnicos dos dois lados eram mais evidentes pelo início da temporada, o entrosamento ainda não acontecia com naturalidade e a falta de ritmo ficava evidente nos rostos suados e ofegantes. O Minas Tênis Clube havia derrotado a equipe da capital federal sem muitas dificuldades no jogo anterior, Bianca fez uma partida melhor do que contra o Mackenzie Companhia do Terno, mas sentia-se longe do ideal ainda. Naquele domingo, as duas equipes disputavam o primeiro título da temporada.

— Atenção pro xeque.- Carol, a central do time aurinegro, instruiu as suas companheiras na rede, erguendo as mãos espalmadas acima da cabeça.

Na arquibanca, Luiza assistia ao primeiro clássico da temporada com o seu pai. O homem, acostumado com a torcida belo-horizontina, puxava gritos e cantos de apoio, aos poucos ia aglutinando um grupo de torcedores minastenistas no ginásio em Uberlândia. Eram poucos, porém barulhentos.

— Era na pipe pra Bianca.- Luiza murmurou, lamentando o ponto de bloqueio que a equipe da casa tinha feito em Priscila Daroit.

Nicola pediu tempo e Luiza se perdeu em pensamentos. O seu primeiro jogo no profissional tinha sido um clássico pão de queijo na Arena UniBH no returno da Superliga, um dos últimos jogos da equipe antes dos playoffs naquele ano. Lembrava de como estava nervosa, os dedos tocavam as palmas das mãos úmidas e poderia desmaiar a qualquer momento. O técnico italiano não optaria por colocá-la em um jogo tão importante na sua estreia se a dominicana, Yonkaira Peña, não tivesse deslocado o dedo mindinho quando subiu para fazer um bloqueio. Victoria, a outra ponteira reserva, foi acometida de uma indisposição no percurso do hotel até o ginásio. A chance apareceu quando Luiza nem sabia como agarrá-la, tão nova para entender a dimensão de estrear num jogo daquele enquanto as duas equipes se digladiavam por cada bola.

Quando Luiza saiu das suas lembranças, a torcida minastenista reclamava da derrota no terceiro set. Ela piscou uma vez e fechou os olhos com força quando tudo ao redor de si girou. A barulho das vozes incansáveis. A música explodindo nas caixas de som. As bolas voando de um lado para o outro da quadra. De repente, o ar ficou escasso, denso demais para ser respirado facilmente, e a resposta do seu corpo foi hiperventilar. Ela inspirava cada vez mais forte, cada vez mais rápido, mas não era o suficiente. Queria correr, fugir, vomitar, gritar, entretanto estava paralisada num estado que seus sentidos falharam. Visão turva, um zumbido no ouvido que a ensurdecia, a ponta dos dedos formigaram até irradiar pelos braços. A ponteira abriu a boca para pedir ajuda e duas lágrimas desceram dos olhos cor de mel.

Ela estava tendo um ataque de pânico.

— LUIZA!- uma pessoa gritou quando o corpo da jogadora cedeu para trás, sendo amortecido pelos torcedores que a cercava.

Alberto entrou em desespero. De súbito, o homem segurou o corpo desacordado da filha nos braços largos e uma roda de pessoas começou a crescer em volta deles, atraindo cada vez mais olhares. Da quadra, as jogadoras das duas equipes pararam para ver o que estava acontecendo. Carol Gattaz foi chamada pelo primeiro árbitro, assim como Claudinha, e os três conversavam sobre o reinício da partida.

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