Manchete, sorvete, cochichos no escurinho do ônibus

662 67 27
                                    

Eu disse que voltaria.

VOTEM E COMENTEM!!!!!!!

Boa leitura

——————————————————————————

No mundo, vitórias sacramentavam o fim, a linha de chegada de um objetivo final. Vencer era como ter um atestado de competência, um aval para descansar depois de um período de sangue e suor. Dentro das quadras, a vitória era alguns minutos de uma paz temporária.

— Aumenta essa carga aí, anda.- o preparador físico do Minas Tênis Clube, Alexandre Marinho, supervisionava o treino na academia, instruindo as atletas naquela manhã de quinta.— Nyeme, flexiona os joelhos mais um pouco.

Bianca sentia as gotículas de suor escorrerem pela sua nuca enquanto erguia uma barra com mais de quarenta quilos, exaurida demais para um começo de treino.

de olho em você, Polônia.- Thaisa avisou, passando por ela com dois halteres emborrachados de muitos quilos.

— Já vão começar?- Macris apareceu logo atrás, seguindo a loira até estar de frente ao enorme espelho.

Bianca não estava entendendo os olhares incisivos que recebera naquele dia. Talvez fosse efeito do controle de carga que Alexandre havia passado depois do jogo de ontem e sua mente não tinha energia para treinar e decodificar mensagens enigmáticas de Thaisa ao mesmo tempo.

— Ué, gente, ela quem começou.- a central justificou, com o jeitinho expansivo e quase teatral que lhe era característico.— Primeiro ônibus da temporada.

Como se recebesse uma iluminação celestial, Bianca compreendeu tudo o que acontecia sem que novas informações fossem necessárias. Colocou o peso no chão, alcançando a sua toalha azul pendurada em um aparelho aleatório da academia em seguida.

— Manchete, sorvete, cochichos no escurinho do ônibus...- Gattaz reforçou, aparecendo do nada ao lado da levantadora.

— Vocês são malucas.- ela concluiu, sem precisar de mais.

Quando o time voltou do ginásio do Mackenzie Esporte Clube para a rua da Bahia no último jogo, Bianca ocupou-se com Luiza integralmente. Elas se entenderam, conversaram, confessaram dores do passado - Bianca confessou, evidentemente. Não notaram olhares das companheiras, nem pedidos para que cessassem as conversas. Nada, somente a bolha intransponível que envolveu as duas por alguns minutos.

— Do que 'tão falando?- Daroit surgiu, tirando Bianca das memórias recentes que relembrava.

— Bianca e Luiza.- pontuou Macris, recebendo um olhar incrédulo da carioca.

Macris deu de ombros, com a expressão mais inocente do universo e Bianca bufou, sabendo que seria o começo de uma longa saga de piadas e zombarias.

— Ah, o climinha no ônibus?

As palminhas animadas da ponteira loira do time mineiro fizeram Bianca abrir a boca em total surpresa. Como, aparentemente, mais de três pessoas haviam notado a conversa entre sussurros das duas na noite anterior?

— Vocês estão vendo coisa, na moral.- ela desconversou, pois não tinha o que falar e não confessaria que pensou em beijar a mineira. Não imaginava que a interação com Luiza fosse um tópico revelante para as outras atletas, mas aparentemente era. Deu um gole na sua garrafa d'água, ganhando mais alguns segundos para elaborar o que falaria.— Além disso, eu não fico com colegas de time.

— A Gattaz também não.- Thaisa rebateu, recebendo um olhar tão cético de Caroline que sua reação foi rir.

— Por que você sempre me ataca?- a capitã quis saber, colocando as duas mãos na cintura.

Entre Linhas Onde histórias criam vida. Descubra agora