O que quer dizer com "dona da ex"?

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Não sabia se era um bom momento pra voltar aqui, mas acho que precisamos de uns refrescos depois desse final de semana horrível para o nosso vôlei.

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Boa leitura

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Elas dividiam o silêncio. Não era desconfortável, mas gerava expectativa, como se houvessem milhões de palavras prestes a escapar e nenhuma fosse capaz de preencher o espaço deixado por seus olhares envergonhados.

Tocava Frank Ocean no rádio do carro, as luzes da fachada da pousada que Luiza estava hospedada com o seu pai estavam acesas e elas não sabiam como se despedir.

O que aconteceria amanhã, quando voltassem para Belo Horizonte?

— Então...- Bianca pigarreou, tamborilando os dedos delgados no volante enquanto pensava no que dizer.— Teu pai bravo?

Luiza riu nasalado, abaixando a cabeça para encarar as próprias mãos no colo. Os olhos de Bianca eram tão profundos que sentia como se estivesse sendo desvendada pouco a pouco.

— Meu pai não consegue ficar bravo.- falou, dando de ombros. Ela levantou os olhos, procurando o rosto da ponteira e então sorriu de lado, sem mostrar os dentes.— Não esquenta, eu sei lidar com isso.

— Você bem?

A ponteira carioca girou o tronco, virando o rosto na direção da mais nova. Havia uma preocupação genuína na sua face, mas Luiza não entendeu.

— Uai?- a pergunta inesperada fez a mineira franzir as sobrancelhas, confusa com o sentido da indagação.— Por que não estaria?

— Ah, sei lá...- ela deu de ombros, notando as palavras embaralharem na sua mente ao sentir vontade de perguntar sobre o primeiro beijo que trocaram e como Luiza estava com "isso".— Só perguntei pra saber se vou precisar invadir o teu quarto de madrugada pra te socorrer.

A risada de Luiza inundou o carro, reverberando pelas paredes metálicas e fazendo crescer um frio estranho no estômago de Bianca. Ela gostava daquele som, de como a risada de Luiza não era tão comum, mas soava harmônica e mais aguda do que a sua voz normalmente era.

— Só se estiver morrendo de saudade.- ela devolveu a provocação, mantendo um sorriso leve nos lábios rosados.

— Te vejo amanhã?

A mais nova assentiu, sorrindo de um jeito que fez Bianca paralisar por alguns segundos. Lentamente, Luiza inclinou o corpo no espaço entre os dois bancos e apoiou a mão na coxa da ponteira, equilibrando-se ao passo que Bianca assistia os movimentos dela com atenção e expectativa. Os olhos âmbar fitaram a boca da carioca, por reflexo umedecendo os próprios lábios com a ponta da língua, depois as íris azuis e suspirou baixo, sendo acompanhada por Bianca. Quando Rezende fechou os olhos, Luiza selou os lábios na bochecha dela em um beijo calmo, instigando-a de um modo quase ingênuo, mas guardava um vestígio de desafio.

— Se não sair do carro agora, teu pai vai ficar bravo sim porque vou te sequestrar.- ela sussurrou, ainda de olhos fechados.

Luiza riu e afastou-se, voltando para o seu banco. Não gostava de despedidas temporárias, mas também já tinha abusado da compreensão de seu pai ao fugir da enfermaria e não dar notícias por horas. Elas trocaram um último olhar longo, como se conversassem em silêncio e aquele já estava virando um hábito entre as duas.

Alberto e a filha estavam hospedados em uma pousada mais afastada do centro de Uberlândia, onde as diárias eram mais baratas e a cidade ganhava um aspecto interiorano. Os dois viajaram de ônibus uma noite depois das atletas e comissão técnica do Gerdau Minas chegarem na cidade mineira, mas iriam embora com eles na manhã de segunda-feira.

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