✩‧₊ três.

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Beatriz.

— Sua energia de manhã é uma coisa invejável. — os resmungos de Daniel chegam aos meus ouvidos.

— Agora é minha culpa não ter disposição em plena segunda-feira de manhã com a porra do sistema travando.

Sobre a tela, vejo a guia aberta piscar algumas vezes, indicando erro. Eu suspiro frustrada, observando por cima da tela, Daniel, que se senta à minha frente.

Ambos trabalhamos no setor de recursos humanos de um grande hospital. Foi dessa forma como nos conhecemos há uns três ou quatro anos atrás. Entre um convite para happy hour e outro, o que era apenas uma relação de colegas se tornou uma amizade além das paredes desse hospital.

— Sabe qual o nome disso? — Daniel me questiona, arqueando a sobrancelha.

Sabendo que ele não deve falar nada sério, me contento em respondê-lo com um breve murmúrio:

­— Uhm...

— Karma por você e a Renata terem ido para a praia sem mim.

Eu imediatamente balanço a cabeça em negativa, me deparando com sua risada.

— A cara nem treme, né? Foi convidar você e você "aí, eu agradeço, mas eu já tenho um encontro".

— E vou dizer: que encontro!

Apesar da limitação, pela tela a minha frente, consigo enxergá-lo quando Daniel apoia os braços no encosto da cadeira, suspirando.

— O que? Então você vai sair com ela de novo?

— Não, né? Mas isso não quer dizer que o encontro tenha sido ruim.

Inspiro em lamentação, voltando minha atenção para o computador. Daniel é um cafajeste nato. Ele se diz jovem demais para se prender em um relacionamento e disposto a desfrutar de todas as oportunidades que apenas uma vida solteira pode trazer. Renata e eu, por outro lado, costumamos dizer que ele tem medo de compromisso. Seja por um fato ou outro, ele está constantemente ignorando mulheres após o tal primeiro encontro – e, mesmo assim, se acha no direito de julgar o meu relacionamento.

É por isso que, na maior parte das vezes, eu apenas não dou atenção. Como agora, enquanto tento acessar a página mesmo com o sistema continua falhando. Me dando por vencida, fecho meus olhos, jogando a cabeça para trás.

— Deus 'tá' vendo você me julgar.

— O que? Você vai dizer que o computador está travado por karma pelo meu julgamento?

— Não, só pensando em como pode uma corna mansa achar que tem direito de criticar a minha forma de amar.

— Daniel, eu juro que eu só não te chuto porque nós estamos no meio do trabalho! — exclamo em um tom contido.

Por de baixo da mesa, sinto seu pé alcançar minha perna, simulando um chute. Ele ri, também de forma contida, enquanto eu apenas lanço um olhar sobressalente.

— Pelo seu mal humor então quer dizer que você e o Heitor ainda não se resolveram.

Com a mão sobre o mouse, tento mais uma vez mexer sobre a guia – não obtendo sucesso.

— Depende do que você entende como 'resolver'.

— Lá vem...

Eu mordo o lábio, em um claro sinal de nervosismo.

— Ele me ligou ontem. — revelo, sem tirar os olhos da tela.

— Depois de...

­— Três dias? — digo com incerteza, não fazendo questão de contar.

Improvável | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora