✩‧₊ sete.

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Beatriz.

Tamborilando os dedos sobre a mesa, tento conter o balançar da minha perna, suspensa ao cruzar as pernas. A semana passou mais rápido do que eu gostaria e a ansiedade foi o principal sentimento que me invadiu durante todos esses dias, a espera desse encontro.

A verdade é que eu nunca sei o que esperar de momentos com a minha mãe. No geral, eles tendem a ser incômodos, como se não passássemos de duas desconhecidas – o que talvez sejamos.

Desde que deixei sua casa, oito anos atrás, a rasa relação que nós tínhamos deixou de existir. Não sei se é possível deixar de amar alguém em teoria com um vínculo tão próximo, alguém que me deu a vida, mas amor não é um sentimento que me vem à mente quando penso em minha mãe.

— Bia! — sua voz me tira dos meus devaneios e eu me levanto da mesa com um pulo.

— Oi, mãe. — cumprimento-a com um aceno.

É quando ela se aproxima, se esgueirando, de novo provando nossa falta de intimidade que eu imediatamente me condeno por ter aceitado esse convite. Um encontro por ano deveria ser suficiente. Por que então ela decidiu aparecer em São Paulo tão ocasionalmente?

Enquanto nos abramos, em um gesto sem sentimento ou significado, continuo me questionando internamente: será que essa poderia ser uma tentativa de reaproximação? Por mais improvável que soe, é impossível me conter quando me lembro que essa é a segunda vez que nos encontramos na capital desde que me mudei para cá.

— Tudo bem? — questiono assim que nos afastamos.

Ela toma seu lugar a mesa, de frente para mim. Sorrindo, de forma a destacar as pequenas rugas na extremidade dos olhos, ela assente.

— Todo mundo bem, a vó, o vô?

— Ah, o de sempre, né filha? — deixando os ombros caírem, enquanto dispõe as mãos sobre os braços da cadeira. — Eles estão indo, mas a idade está chegando, então...

— Com licença. — o garçom pede ao depositar os cardápios a nossa frente.

— Obrigada. — agradeço antes que ele tenha a chance de sair.

Abrimos os cardápios, começando a nos distrair dentre as opções. Meus olhos seguem atentos a parte de bebidas, pensando que um pouquinho de álcool pode ser a única solução para tornar essa refeição mais aceitável.

— Nós não deveríamos esperar o seu namorado? — minha mãe sugere.

— Sim, mas eu pensei em pedir alguma coisa para beber enquanto ele não chega.

Bato a mão contra meu celular, fazendo a tela acender. 12h25. Tecnicamente Heitor não está atrasado ainda, nós apenas estamos adiantadas – em cinco minutos.

— Eu pensei que ele viria com você. — há uma pontinha de questionamento e acusação na voz de minha mãe quando ela dispara.

— Ah, o Heitor mora longe então para ele ir me buscar ficaria complicado, sabe? — tento me justificar, sem tirar os olhos do cardápio.

— E ele não dormiu por lá?

— Não, ele tinha um jantar na casa dos pais.

— E você não foi convidada?

— Eu fui, só preferi não ir. — digo, outra vez entrando em defensiva. Lutando para não escorregar pela cadeira, desparecendo por debaixo da mesa, continuo a me explicar: — O pai dele é empresário e tinha alguns assuntos pendentes para tratar com o Heitor, então foi quase um jantar de negócios.

Improvável | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora