Beatriz.
Nossos encontros aos domingos à noite são um programa fixo. Seja indo a restaurantes, cinema ou tantas outras formas que Henrique encontra de ser criativo, é aquele momento sagrado durante a semana que tentamos focar apenas em nós e no nosso relacionamento.
Nossa rotina não é de descontos frequentes, ou pelo menos, não como era até um ano e meio atrás. Eu fui resistente à ideia de me mudar para o Tocantins de início, não pela mudança em si, mas por medo de soar muito precipitado, especialmente quando não seria apenas a convivência com Henrique, mas com toda sua família, já que Henrique sempre foi tão próximo.
Até que se tornou evidente que Henrique estava cansado. Essa rotina de estrada, a distância com a família, as raras oportunidades que eu tinha de encontrá-los em Porto Nacional... acredito que eu tenha surpreendido Henrique quando me virei para ele e comentei a mudança, em uma noite casual em casa enquanto assistíamos um filme.
Henrique ficou contente, mas surpreso na mesma proporção. Mas pareceu entender quando eu pontuei que sempre fui aberta a mudanças e que eu sempre estive em primeiro plano na nossa relação, sempre respeitando o meu tempo e as minhas circunstâncias.
Com a mudança, alguns meses depois, eu me aproximei da sua família, algo que eu achava extremamente improvável. Os pais de Henrique sempre me receberam muito bem, mas a distância entre nós sempre foi resultado da distância física. E, com uma convivência tão próxima, eles passam a me acolher carinhosamente.
Deixar a vida em São Paulo foi um pouco mais difícil do que o espero, pelo meu apego em Daniel e aos meus vizinhos, mas principalmente por trocar o panorama de uma cidade grande por uma fazenda, mas eu sou fui uma pessoa maleável e disposta a mudanças, então não tardou para que eu estivesse habituada a minha nova rotina.
Pouco mais de um ano depois, a minha vida finalmente parece ter se encaminhado para algo concreto. Eu estou em um relacionamento estável, ao lado de alguém que me ama incondicionalmente e sempre foi paciente e respeitoso comigo, consegui um emprego em Palmas, não muito distante da fazenda e enfim tenho uma família amorosa, que me adotou com tanto carinho.
É evidente que as coisas estão se encaminhando a um compromisso ainda mais sério com Henrique e eu acredito honestamente que Henrique apenas tenha evitado essa proposta porque não tem a intenção de me assustar, visto todas as mudanças que aconteceram na vida em um curto intervalo de tempo. Mas, eu espero por esse momento com a certeza de que não há outra resposta além do 'sim'.
É final da noite de domingo quando deixamos o restaurante em Palmas com destino a nossa casa, em Porto Nacional. Henrique dirige tranquilo enquanto uma música ecoa baixo pelos auto-falantes. Eu apoio minha cabeça sobre o assento, um tanto quanto incomodada com uma suspeita recente. E, percebendo que talvez esteja na hora de falar sobre o assunto, chamo por Henrique:
— Amor...
— Que foi? — ele me responde de prontidão.
Henrique distrai a atenção da via para me observar e eu sorrio, transparecendo meu incômodo. Não que eu esteja à espera de uma reação negativa, mas... falar sobre o assunto torna essa hipótese real.
— Eu sei que esse talvez não seja o momento mais apropriado... — murmuro, transparecendo minha insegurança.
— Uhm...
— Será que antes da gente ir 'pra' casa a gente poderia passar na farmácia?
Henrique então parece ficar tenso. Ele volta sua atenção a mim, me questionando com cuidado:
— O que? 'Cê' 'tá' bem, amor?
— Assim... Bem eu 'tô'... — sibilo, em uma tentativa de encontrar as palavras adequadas.
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Improvável | Ricelly Henrique
RomansaA essa altura, Beatriz já se conformou com o título de "corna mansa". Ela nem mesmo se importa - ou finge não se importar - quando seus amigos próximos se referem a ela dessa forma. Não que Beatriz seja de aceitar desaforo passivamente, mas em confl...