✩‧₊ dezoito.

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Henrique.

— Que milagre você por aqui. — a voz de Mohana dispersa meus pensamentos e vem acompanhada de uma risada baixa de Juliano.

— Uai, milagre eu estar na minha própria casa? — resmungo quando meu olhar a encontra.

Me levanto para cumprimentar minha cunhada, que logo se senta sobre a poltrona a minha frente. Ela exibe orgulhosa a barriga de talvez sete ou oito meses de gestação. Meu irmão vem logo atrás, carregando Maria Antônia, a filha mais velha, nos braços.

— Ultimamente, sim. — Mohana rebate, com um sorrisinho típico de quem está prestes a me provocar. — Que tanto 'cê' 'tá' fazendo tanto em São Paulo, Henrique?

Faz alguns dias desde que estou em Porto Nacional - talvez dez dias não contínuos, com os shows do final de semana. Por mais que eu preferisse estar com Beatriz, eu senti que talvez tudo estivesse sendo intenso demais.

Não que eu tenha problema com isso, talvez seja consequência de tudo aquilo que eu disse para Bia, sobre como eu tenho sentido essa mudança em mim. Mas, eu sei que Bia talvez não esteja pronta para viver um relacionamento com toda essa intensidade. Eu sequer sei se eu deveria estar tratando isso como relacionamento, quando tudo ainda parece tão incerto.

Eu acredito que Bia talvez tenha compreendido. Ela não soou relutante ou sequer se mostrou desapontada. Talvez ela estivesse tentando não transparecer, com a intenção de não me reter a ela, presumindo que eu precisava de um tempo em família, ou talvez ela apenas não se importe. Confesso que a segunda opção me perturba mais do que eu gostaria.

— Ih, vai fingir que seu excelentíssimo marido não te contou? — resmungo, deixando meus devaneios de lado ao apontar para Juliano. — Eu sei que essa fofoca 'tá' rolando faz tempo, Moh.

— Faz um tempinho sim, o que, umas duas semanas? Mais? — ela indaga ao marido, que dá de ombros, claramente em uma tentativa de evitar ser trazido ao meio do assunto. — Foi daquela vez que a sua mãe falou que te pegou mentindo.

— Mentir com essa idade é feio, viu? — Juliano murmura com malícia, claramente se divertindo.

— Mais feio ainda é sair por aí contando os segredos dos outros, viu 'nim'? — eu resmungo em resposta, apontando para ele. Percebo que Mohana disfarça a risada e Juliano semicerra os olhos, como se me desafiasse.

— Oh 'véi', se você não queria que eu contasse, não deixasse tão óbvio. Quer vir dizer que 'tá' em São Paulo porque 'tá' trabalhando, 'tá' trabalhando o cacete. — ele também resmunga.

Suas palavras, no entanto, parecem atrair mais a atenção de Mohana do que necessariamente a minha, porque minha cunhada prontamente diz:

— Juliano, não na frente da Maria, né?

— Desculpa, amor. — Juliano prontamente pede, insistindo a esposa instantes logo após: — Mas eu não menti não, viu?

Sua provocação, no entanto, parece mais voltada para mim do que a qualquer outra pessoa por aqui.

— 'Tô' ficando em São Paulo por causa dela mesmo, vai fazer o que? Me julgar? — eu indago retoricamente, dando de ombros. Juliano me olha com apreensão, talvez não sabendo distinguir se meu tom é de brincadeira.

— Se liga, Henrique, onde 'cê' 'tá' se metendo.

— Moh, eu 'tô' tranquilo. Eu sei que não é convencional, e eu não espero que alguém aqui entenda, mas... eu sei que eu 'tô' bem assim, e ela também.

— Ih, maluco, 'cê' 'tá' sendo amante mesmo?

Mohana desvia o olhar de Juliano até mim, expressando outra vez toda sua descrença. Ao perceber que minha expressão não vacila, ela parece se dar conta daquilo que tento deixar subentendido.

Improvável | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora