✩‧₊ dois.

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Beatriz.

Sinto minha pele quente diante da combinação de areia morna e sol forte. Há uma brisa suave, vinda do oceano, que equilibra a sensação de calor e faz o cheiro do mar salgado correr até minhas narinas.

Acordei nessa manhã de sábado com uma mensagem de Renata me intimando a um bate e volta até a cidade de Praia Grande. Como meus planos não incluíam nada além de uma limpeza rápida em casa, aceitei, e em meia hora Renata estava estacionando em frente de casa.

Essa é, sem dúvidas, uma das maiores vantagens de se morar na capital: o acesso prático à tudo; interior, litoral, áreas montanhosas, chácaras, cachoeiras, tudo à disposição há no máximo uma hora de distância. Involuntariamente, me pego pensando que eu deveria ter dito isso a Henrique – um dos principais motivos que fez com que eu me apaixonasse por São Paulo.

— Quem diria que a gente ia encontrar um clima desse em pleno inverno. — Renata constata, observando o fraco movimento na praia.

Por se tratar de um final de semana fora de temporada e de um trecho de praia distante do centro, nós desfrutamos da faixa de areia praticamente sozinhas.

Eu tenho minhas pernas estendidas para fora da toalha, com o peso do meu tronco apoiado em mãos, posicionadas um pouco para trás para que meu corpo tenha acesso ao sol. Mesmo com usando óculos de sol, mantenho os olhos fechados pela claridade em contato direto com meu rosto.

Renata está sentada ao meu lado, com as pernas cruzadas e uma garrafa de cerveja em mãos. Nossas coisas estão dispostas de baixo do guarda-sol, junto a duas cadeiras alugadas. Há uma caixinha de som acima do cooler, da qual um pagode qualquer ecoa baixinho.

— Esse inverno tem sido quente. — contasto.

— A gente devia aproveitar 'pra' descer mais vezes então, antes que chegue a época de temporada.

— Total. — concordo, me sentindo acolhida pelo barulho do mar. — A gente devia vir para passar um final de semana, da próxima. Alugar um apartamento pequeno...

— Eu estava conversando com o Dani sobre isso. Combinando de vir para cá no ano novo.

Desvio minha atenção para observar Renata, que leva a garrafa de cerveja à boca enquanto admira a paisagem.

— Por que eu não fui convidada?

— Você vai passar o ano novo em casa?

Me vejo desviando o olhar quando Renata me encara. A resposta para essa pergunta é: eu não sei. Ainda é cedo para pensar no assunto, mas embora eu tenha dois convites certos, sei que provavelmente recusarei aos dois.

— Talvez.

— Pensei que você ia aproveitar para ir para Ubatuba com o Heitor. A família dele não tem casa lá?

— Ah, Rê, você sabe que eu não me sinto muito confortável com a família dele. Esse ano então a irmã dele vai vir do exterior com o namorado, então...

Encolho os ombros, não fazendo questão de esconder meu desconforto.

— Hm... entendi.

Renata empurra seu tronco, fazendo com que seu ombro toque o meu e eu sorrio. Sei que essa é sua forma de demonstrar apoio, sem adentrar o assunto.

— Apesar de que eu já pretendo passar o Natal sem ele, então...

— O que? — ela me questiona quando não concluo a frase.

— Talvez eu vá passar o ano novo em Ubatuba.

Há um momento de silêncio. Eu sei que nenhum de meus amigos é excepcionalmente fã de Heitor, mas após mais de um ano de relação, eles têm feito um bom trabalho em tolerá-lo – apesar das críticas constantes.

Improvável | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora