✩‧₊ doze.

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Beatriz.

Meu final de domingo acabou se tornando choroso. Com Baunilha à tira colo, aproveitei minha melancolia para me permitir passar o dia remoendo os acontecimentos recentes, porque eu sabia que qualquer esforço para tentar evitar o assunto seria em vão. No final, também acabei aproveitando para dormir cedo visto o cansaço do sábado, mas acordei nessa manhã de segunda com o humor péssimo e sem alguma disposição.

Talvez esse seja um daqueles momentos na vida em que quanto mais remoemos o assunto, mais ele parece doer. E ainda que eu tenha aquele sentimento de que nenhum dos dois envolvidos tecnicamente me deve nada, eu insisto em me sentir traída. Mas, sentimentos são definitivamente imprevisíveis e incontroláveis, então o máximo que consigo me forçar é respirar fundo e encarar as tarefas do dia com um sorriso, mesmo que com minha mente trabalhando a todo instante.

Nem mesmo quando chego ao trabalho, encontrando sobre minha mesa uma pilha de assuntos pendentes, minha mente cede margem à uma trégua. Passo a manhã me ocupado ao preencher formulários e guias, com o típico barulho de teclados e mouses como trilha sonora - o que contribui para minha enxaqueca.

Daniel, por sua vez, dá uma breve passada no setor logo que chega, mas hoje sua função pela manhã foi coordenar uma etapa de processo seletivo, logo, a única pessoa que poderia me distrair do assunto - ou torrar a minha paciência de vez - não está presente nas primeiras horas do dia.

Se aproximando do horário do almoço, digito algumas rápidas mensagens a meu amigo, mas quando o relógio bate meio-dia em ponto, sigo sem resposta. Forço um sorriso, imaginando que Dani esteja ocupado o suficiente para não conseguir me responder e me levanto da mesa sem escolha a não ser almoçar sozinha.

No corredor da área de administração, passando pelas salas de reunião, sigo o caminho até o elevador. Assim que as portas metálicas se abrem, meus olhos repousam sobre Daniel, que ergue o olhar com um sorriso surpreso ao me encontrar.

— Bom dia!

Dani me abraça assim que adentro o espaço, deixando um beijo sobre minha cabeça.

— Eu 'tava' indo buscar a senhora para almoçar, tinha acabado de ver suas mensagens. Não deu para ver antes.

— De boa, Dani. — murmuro em resposta, me acomodando ao seu lado enquanto esperamos que o elevador desça.

— Uhm... — ele sibila, exalando desconfiança.

Percebo que o olhar de Daniel sobre mim tem um breve toque de curiosidade, mas decido me esquivar do assunto enquanto possível - o que dura talvez nem três segundos inteiros.

— Mal humor? — ele me questiona, soando pretensioso.

— Enxaqueca. — confirmo.

— Final de semana foi bom? — Daniel enfim se permite perguntar, chegando a soltar um suspiro de alívio. — Já que eu não ouvi nada de você, eu acredito que sim.

— Depende. Até domingo de manhã? Perfeito. — Daniel torce o rosto, se esforçando para entender. — Talvez moralmente errado, mas a essa altura, eu quero que todo mundo se foda.

— O que rolou no domingo à tarde? 'Pera', não só domingo à tarde, o que rolou no final de semana para você dizer que é moralmente errado?

— O que você esperava que acontecesse? — murmuro, dando a Daniel brecha suficiente para que ele compreenda.

— Você ficou com o Henrique. — ele imediatamente supõe e eu apenas assinto. — E quem tem culhão de dizer que é moralmente errado? Moralmente errado é o meu...

Improvável | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora