✩‧₊ nove.

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Beatriz.

— Eu ainda não acredito que vocês estão me dispensando.

Caminho até a sala custando a equilibrar as três taças na mão em conjunto com a garrafa logo abaixo do braço. Renata, assim que me vê, deixa o celular de lado, levantando e se prontificando a me ajudar. Já Daniel, muito distraído com Baunilha no tapa da sala, sequer desvia a atenção para resmungar:

— Meu amor, você quer marcar 'rolê' em cima da hora, desse jeito não dá.

— Em cima da hora? — estendo a taça até ele, que se distraí por uma breve fração de segundo, apenas para pegá-la — Eu avisei vocês duas semanas atrás! — esbravejo, frustrada.

Me sentando sobre o sofá, vejo Renata estender a garrafa de vinho por cima da cabeça de Daniel, servindo minha taça. Como nenhum dos dois vai poder me acompanhar no show amanhã, eles se convidaram para vir na minha casa, achando uma garrafa de vinho pudesse me comprar – e, dando meu primeiro gole na bebida, concordo que talvez tenha sido uma boa ideia.

— E nós dois já tínhamos compromisso, 'pra' você ver — Daniel resmunga.

— Nós somos pessoas muito requisitadas — Renata completa, jogando o cabelo em uma tentativa de parecer arrogante.

Ainda com a taça à boca, emendando outro gole, não contenho a vontade de revirar os olhos. Em seguida, Renata serve Daniel, que não desvia sua atenção por um instante sequer de Baunilha, que tenta a todo custo mordê-lo.

— São dois filhos da puta, isso sim — eu resmungo, ainda com a taça à boca.

— Eu por acaso tenho culpa de ter um encontro? — Renata dispara, indignada — Eu estou encalhada há dois anos, em algum momento as coisas têm que andar.

Rio baixinho, concordando através de um breve aceno de cabeça. Até que Daniel me interrompa, me perturbando:

— Afinal, por que você 'tá' tão irritada assim? Só por que vai estar sozinha com o Henrique?

Aproveitando sua distração e a nossa proximidade, acerto um chute leve sobre sua costela. Embora não diga nada, ele demonstra reação se contorcendo, na tentativa de alcançar meu pé, mas eu cruzo as pernas sobre o sofá antes que ele possa me alcançar.

— Primeiro: é óbvio que eu estou feliz por você — pontuo, encarando Rê. Com o braço sobre o encosto do sofá, toco seu ombro, recebendo um sorriso singelo em resposta — Espero que ele seja um cara descente e que eu não precise chutar a bunda dele.

— Amor, 'cê' não 'tá' dando conta do seu, quem dirá dos outros. Sossega — Daniel murmura, segurando a risada. Eu aproveito para acertá-lo outra vez, fazendo com que ele dirija um palavrão baixo para mim.

— Segundo: eu e o Henrique não vamos estar sozinhos, com certeza vai ter muito mais gente por lá.

— Uhum... — Dani resmunga, mas eu o ignoro.

— Terceiro: é óbvio que eu não quero ir sozinha, eu vou ficar sozinha lá o show inteiro? Com que cara?

— Você vai ter companhia pós-show — me observando por cima da taça, Renata pontua com malícia.

— Larga disso, Rê — insisto, começando a me sentir frustrada.

Estico o braço para alcançar o pote com amendoins sobre a mesa de centro e Daniel me observa atento, com um olhar quase solidário. Mas eu não me convenço – sei que ele vai insistir no assunto pelo resto da noite.

— Aí amiga, se eu já achava que rolava um clima entre vocês naquele dia que a gente foi 'pro' barzinho, quem dirá agora, né?

Endireito a postura contra o encosto do sofá, precisando respirar fundo para encontrar uma justificativa para o que quer que tenha acontecido entre Henrique e eu. E, quando exprimo essas palavras em voz alta, elas me parecem tudo, menos convincente:

Improvável | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora