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Qingyang chegaria no dia seguinte, e isso me deixava muito perturbado.

Eu precisava conversar com alguém, por isso coagi Xingchen, meu amigo e colega de trabalho, a me visitar na ilha. Ele me encontrou no Emperor's Smile Pub para o almoço. Não nos víamos desde o fim do ano letivo. Com a agitada agenda de verão dos filhos, ele não havia conseguido uma folga até agora.

A primeira metade do almoço foi preenchida por nachos, pela história que eu tinha com Wangji e por tudo o que havia acontecido na casa de praia até agora.

— Meu Deus, eu não queria estar no seu lugar — disse ele. — O que você vai fazer?
— O que eu posso fazer?
— Falar com ele sobre o que sente.
— Ele está com a Qingyang, e ela é muito legal. Não posso dar em cima dele bem na cara dela, se é isso que você está sugerindo. Não vou fazer isso.
— Mas ele quer você, é evidente.
— Eu não acho.
— Para. E a música que dedicou a você? Tudo bem, ele não sabia que você estava ouvindo, mas é evidente que ele ainda sente alguma coisa.
— Sentir alguma coisa é diferente de fazer alguma coisa com esses sentimentos. Ele não vai desistir da namorada linda, talentosa, estrela da Broadway, que estava ao lado dele quando eu não estava, só porque velhos sentimentos foram revividos. Qingyang é uma garota incrível.
— Mas não é você. Ele sempre quis você. Foi você quem se afastou.
— Fui eu quem fugiu. Ele não vai se esquecer disso. Pode até me perdoar, mas não sei se volta a confiar totalmente em mim. Não tenho nem o direito de esperar que confie.
— Está se julgando de um jeito muito duro. Você era uma criança. — Xingchen mordeu um nacho e falou com a boca cheia. — Você disse que não vai vender a casa, certo?
— É, decidimos ficar com ela. Era o que minha vó ia querer.
— Então, ele estando com Qingyang ou não, essa casa liga vocês dois para sempre. Quer mesmo passar o resto da vida vendo o homem que você ama curtir o verão com outra pessoa?

Era como se meu coração se partisse em dois. Flashes de muitos verões se transformando em invernos desfilaram por minha mente em alta velocidade. Essa ideia era assustadora. Ano após ano de amor não correspondido por alguém intangível não era algo que eu queria suportar.
— Você não está ajudando. Minha esperança era que você me convencesse a ter um pouco de juízo, me ajudasse a entender que preciso aceitar as coisas como são e seguir em frente.
— Mas não é isso que você quer, é?
Não. Não é.

Era minha noite de folga. Eu não sabia se estava aliviado ou desapontado por perder a apresentação de Wangji. Mantivemos certa distância desde aquela noite em claro. Melhor assim, já que as coisas beiraram o impróprio naquela noite, pelo menos na minha cabeça.
Xingchen decidiu ficar e dormir na casa de praia. Com Wangji fora, ele teve a brilhante ideia de comprarmos algumas bebidas para animar a noite.
Chegamos em casa com uma sacola em que havia tequila, limões e sal grosso. Eu quase desanimei quando vi o carro de Wangji na entrada da garagem.
Era para ele estar trabalhando. O que fazia em casa?

— Merda. Wangji está em casa.
— Pensei que ele estivesse trabalhando — comentou Xingchen.
— Eu também.
Ao entrar, não o encontramos. Deixei a sacola com as compras sobre o balcão da cozinha e subi para mostrar o deque  Xingchen. E foi lá que o vimos, sentado fumando um cigarro, com as pernas apoiadas na balaustrada e os olhos voltados para o mar. Seu cabelo estava molhado, como se ele tivesse acabado de dar um mergulho. Ele estava sem camisa, e dava para ver a parte de cima da cueca por baixo do jeans. Wangji parecia um modelo da Calvin Klein. O queixo de Xingchen quase tocou o chão quando ele o viu.
— O que você está fazendo aqui? Pensei que estivesse no restaurante.
Ele soprou a fumaça do cigarro.
— Eu devia estar. Mas o lugar quase pegou fogo.
— Quê?
— Houve um incêndio na cozinha hoje à tarde. Quando cheguei lá, eles me disseram que ficariam fechados para arejar todo o ambiente. Só vão reabrir depois de uma semana, no mínimo. Acho que não volto a tocar lá antes de ir embora.
— Puta merda. Alguém se machucou?
— Não, mas Salvatore estava arrasado. — Ele olhou para Xingchen. — Quem é esse?
— Xingchen, um amigo do trabalho, professor na escola onde leciono. Ele veio passar o dia comigo. Vai dormir aqui nesta noite.
Wangji pôs o boné na cabeça com a aba virada para trás e se levantou.
— Prazer — disse ele, estendendo a mão.
— O prazer é meu — respondeu Xingchen, ao cumprimentá-lo.
Balancei a cabeça incrédulo, não só por causa do incêndio, mas por saber que Wangji iria embora com Qingyang mais cedo do que eu esperava.
— Nossa. Que coisa essa história do incêndio.
— Eu nem estava com disposição para tocar, mas nunca teria desejado uma merda dessa para o Sal.
— Talvez nem eu volte a trabalhar lá antes do fim do verão.
Ele deu mais uma tragada no cigarro e bateu as cinzas. Havia sensualidade em seu gesto.
— O que vão fazer hoje? — perguntou Wangji.
— Compramos bebida, vamos ficar em casa.
— Ai, que delícia.
Xingchen riu.
— Não é toda noite que escapo das crianças. Uma noite em casa com um amigo e bebida é o máximo de loucura que pode rolar para mim.
Wangji piscou.
— Bom, vou ficar fora do caminho de vocês, então.
— Não é necessário. Beba com a gente — convidou Xingchen.
— Não, tudo bem.
Quando ele desceu, Xingchen foi ao banheiro. Eu estava cortando limão quando Wangji entrou na cozinha e viu a enorme garrafa de tequila em cima do balcão.
— Meu Deus do céu. Acha que tem tequila suficiente?
— Foi ideia da Xingchen. Nunca bebi tequila pura. Wangji apertou os olhos.
— Nunca bebeu um shot de tequila?
— Não.
— Droga, Tapa. Vocês não sabem curtir a vida na cidade grande?

A imensidão do meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora