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Era noite de sexta-feira, e Wangji já havia saído para tocar no Sandy’s. Ele partiria cedo na manhã seguinte para voltar a Nova York. Eu havia dito que não assistiria à apresentação, mas estava quase mudando de ideia. Não sabia quando e se ele ia voltar. Afinal, ele tinha vindo para passar um tempo sozinho, sem saber que Bea e eu traríamos o caos para sua vida. Eu, no lugar dele, não sei se voltaria.
De repente, olhei para Bea:
— Quer sair para ver o tio Wangji tocar? Promete que vai ser boazinha?

Deixei a bebê no berço e comecei a me despir apressado, com medo de demorar muito para me arrumar e acabar ficando em casa por falta de coragem. Minutos depois, Bea e eu estávamos prontos e dentro do carro.
Voltar ao Sandy’s me deixava nervoso. Eu não ia lá desde o verão passado. Também estava inexplicavelmente aflito com a ideia de Wangji me ver na plateia depois de eu ter dito que não iria.
Quando entrei, ele estava no meio de uma canção que eu não conhecia. Como sempre, a multidão estava hipnotizada, e ômegas se aproximavam cada vez mais do palco para ver melhor aquele rosto bonito. Eu sempre me emocionava quando assistia a uma de suas apresentações. Felizmente, Bea se comportava no canguru, e eu pude aproveitar cada momento.
Fui até o bar para cumprimentar Rick, o bartender, que me deu uma água com gás por conta da casa. Relaxado em meu lugar, fechei os olhos e me deliciei com a voz de Wangji cantando um cover de “Wild horses”, dos Rolling Stones. A canção parecia ter sido feita para a voz dele. Quando senti que meus olhos se enchiam de lágrimas, briguei comigo mesmo. Por que eu tinha que me emocionar tanto sempre que ele cantava? Era como se cada palavra de cada música tivesse um significado relacionado ao que eu viveria com ele.
Na metade da música, Bea começou a chorar. E a canção não era do tipo que encobria muito bem os gritos de um bebê. Muita gente olhou para mim. Ouvi algumas pessoas cochichando, provavelmente se perguntando por que alguém levara um bebê a um lugar como aquele.
Ondas quentes passeavam por meu corpo. Sem parar de cantar, Wangji olhou para onde eu estava. Nossos olhares se encontraram. Quase morri de vergonha por interromper aquela linda canção. Quando a música chegou ao fim, levantei para ir à sala do fundo. Wangji fez um gesto me pedindo para ficar. Continuei andando mesmo assim, até a voz amplificada pelo microfone me fazer parar.
— A bebê que acabaram de ouvir chorando é muito especial para mim. Ela se chama Bea, cujo o mamã, Wuxian , também é muito especial para mim. Um dos meus amigos mais antigos. Enfim, essa é a primeira vez que Wuxian sai de casa para se divertir desde que Bea nasceu, há quase três meses. Ele não queria vir. Temia que as pessoas se incomodassem, caso a filha chorasse. Eu disse a ela para não se preocupar, pois o público aqui é gentil e compreensivo. Ele não acreditou em mim, mas decidiu arriscar e vir assim mesmo. Acreditem, não tem sido fácil para ele. Wuxian está fazendo um trabalho incrível criando a bebê sozinho. Ele merece uma noite de folga, não merece?
Aplausos estrondosos seguiram o discurso, e Wangji acenou me chamando para perto dele. Bea ainda berrava.
— Traz ela para cá. Traz o canguru também — falou Wangji ao microfone.

Wangji ajustou o canguru no peito e acomodou Bea nele. Minha bebê estava exatamente onde queria estar e, enfim, se acalmou. Ele  mudou a posição do violão para ajeitá-la e começou a cantar uma música que, de início, parecia uma canção de ninar. Depois reconheci “Dream a little dream of me”. Não consegui deixar de sorrir vendo Bea no palco com ele.
Os ômegas na plateia suspiravam. Se já o adoravam antes, agora sentiam os ovários entrando em combustão. O aplauso bateu recordes quando ele terminou.
Quando Wangji tirou Bea do canguru, o bumbum dela ficou na frente do microfone. Amplificado, o ruído que imitava uma explosão ecoou no restaurante. Logo compreendi que toda aquela gente havia acabado de testemunhar a diarreia explosiva da minha filha.
Wangji teve um ataque de riso. Quando me devolveu a bebê, ele ria com todas as pessoas na plateia. E sussurrou:
— Bea caprichou desta vez.
— É melhor eu trocar a fralda dela.
Quando estava me afastando, ele me chamou:
— Wuxian .
— Oi?
— Você está muito bonito.
Dei de ombros.
— Eu tentei.

A imensidão do meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora