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Aquelas primeiras horas de espera em que Bea estava na unidade de terapia intensiva foram terríveis, as mais assustadoras da minha vida.
Ela estava ligada a tubos intravenosos e com a máscara de oxigênio. Os médicos fizeram vários exames procurando lesões internas e problemas neurológicos. Aparentemente, depois de uma parada respiratória, podia haver um dano cerebral tardio não perceptível de imediato. Ia demorar um pouco para todos os resultados saírem.
Sem prognóstico claro, minhas preces silenciosas eram ininterruptas. Pedi a Deus para poupar minha bebê de sequelas. Bea dormia muito, provavelmente exausta depois do trauma, então era difícil avaliar a evolução do quadro.
Mas ela abriu os olhos, e eu tinha que agradecer por isso, por ela estar viva e respirando. Graças a Deus eu havia acordado naquele momento. Se houvesse chegado ao quarto dela um minuto mais tarde, o desfecho poderia ter sido bem diferente. Eu não suportava nem pensar nisso. Definitivamente, alguém estava tomando conta da gente nesta noite. Até ter todas as respostas, precisava me concentrar no positivo, no fato de ela estar viva, e continuar rezando.

No meio da manhã, eu ainda não havia saído do lado de Bea. Tinha medo até de ir ao banheiro e perder a visita do médico, que poderia trazer mais informações. Uma enfermeira simpática finalmente me obrigou a beber alguma coisa e ir ao banheiro. Ela prometeu ficar de olho na Bea e garantiu que não ia acontecer nada enquanto eu estivesse ausente.
No banheiro ao lado da estação da enfermagem, as lágrimas começaram a transbordar dos meus olhos. Cheia de culpa, finalmente desabei. Não fosse aquele suéter idiota e meu descuido, nada disso teria acontecido. Não olhei o berço antes de colocá-la para dormir. Tentei me controlar, porque precisava parecer forte quando voltasse para perto da minha filha. Ela era intuitiva, e eu não podia deixar que ela sentisse meu medo.

O médico apareceu pouco depois de eu voltar para o lado dela.
— Sr. Wei...
Fiquei em pé e senti meu coração apavorado.
— Sim?
— Acabamos de receber o resultado dos exames. Não houve nenhuma lesão interna, só uma leve fratura nas costelas, a qual vai se resolver sozinha. O exame neurológico também não mostrou nada, mas quero observar ainda algumas coisas nas próximas vinte e quatro horas antes de a liberarmos. Ela não precisa mais ficar na unidade de terapia intensiva, então vai ser transferida para um quarto comum.

Um alívio enorme me invadiu.
— Doutor, obrigado. Muito obrigado. Eu gostaria de te abraçar. Posso te abraçar? — Ele assentiu desconfortável, e eu o abracei.
— Muito obrigado.

— Poderia ter sido grave. Já vimos situações semelhantes terem um final diferente, e é comum. Bebês ou crianças pequenas engasgam com uvas, salsichas, brinquedos pequenos. Você teve muita sorte.
Assim que o médico saiu, mandei uma mensagem para Wangji.

(Graças a Deus! O médico disse que ela vai ficar bem. Querem observá-la por mais vinte e quatro horas. Estou muito feliz!)

Nenhuma resposta.

Pouco depois, Bea foi transferida para um quarto no terceiro andar. Deitada na cama nova, ela estava de olhos abertos e parecia confusa com os painéis de luz fluorescente no teto. Estava alerta, mas não  demonstrava sua alegria habitual. Provavelmente tentava entender o que estava fazendo ali.
Disseram que eu podia pegá-la no colo. Embora recebesse líquidos e vitaminas por sonda, sugeriram que eu a amamentasse. Ultimamente eu dava mais mamadeira que meu leite próprio, mas decidi amamentá-la, porque sabia que isso a confortaria. Foi um alívio ver que Bea mamava sem problemas. A cada minuto que passava, eu tinha mais certeza de que ela ficaria bem.
Tinha que ficar.

Depois que devolvi Bea à cama, Shelly, uma das enfermeiras, apareceu para verificar seus sinais vitais. Atento a tudo o que ela fazia, quase não o vi ali parado.

A imensidão do meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora