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Os três meses depois do Natal se arrastaram.
Bea começou a andar na mesma época em que fez um ano, no dia 15 de março. Wangji  estava furioso por ter perdido o aniversário e seus primeiros passos. Durante nossas conversas pelo Skype, ele continuava tentando convencê-la a falar papai ou papá, mas não teve sucesso.
Aquelas semanas foram difíceis, mas ter certeza absoluta de que ele voltaria para casa era o que me fazia seguir em frente. E saber que eu ia vê-lo no último show era a cereja do bolo.
A turnê havia voltado para o nosso continente. As últimas apresentações seriam em Beijin, Qinshan e Pequim.

Finalmente chegou o fim de semana do tão esperado show em Pequim. Wangji  havia comprado passagens aéreas para mim e Bea. Do aeroporto , iríamos diretamente para o hotel ao lado da casa de espetáculos. A banda chegaria quase na hora do show, o que significava que só veríamos Wangji  depois da apresentação.
Bea se comportou muito bem no voo até Pequim . Nossa bagagem consistia em duas malas de mão e um carrinho com um guarda-sol de bolinhas.

Quando aterrissamos, Steve, o agente de Wangji , nos esperava no aeroporto e nos levou para o hotel. Tivemos que passar pela Cidade Proibida. Bea olhava tudo fascinada, encantada com as cores brilhantes e o movimento. Definitivamente, era uma sobrecarga sensorial para nós dois. Eu estava preso em casa, na ilha, havia tanto tempo que quase tinha esquecido como era a vida na cidade.

Depois do show, nós três passaríamos a noite no hotel; ficaríamos na cidade no dia seguinte e, só então, voltaríamos juntos à ilha.
Quando entramos no quarto, comecei a sentir o nervosismo. Ver Wangji  cantar sempre me emocionava, mas o ver pela primeira vez em um palco grande seria uma experiência inesquecível, sem dúvida.
Deitei ao lado de Bea na cama luxuosa, tentando fazê-la dormir para reduzir o impacto da noite agitada que teríamos. Ela dormiu por uma hora antes de sairmos.
Quando chegamos à casa de espetáculos, a fila para entrar era enorme. Olhar para o luminoso me arrepiou: Calvin Sprockett, abertura Lan Wangji. Passamos pela entrada VIP, e um lanterninha nos levou aos nossos lugares no meio da terceira fileira.
Bea estava muito bonitinha sentada no meu colo. Os fones de ouvido de redução de ruídos eram enormes. Ela parecia um extraterrestre fofo. Felizmente, apesar de tudo que havia chorado nos primeiros três meses de vida, agora ela era uma criança tranquila, e eu apostava que não teríamos nenhum problema durante o show.
Quando as luzes começaram a se apagar e o holofote iluminou Wangji , meu coração acelerou. A agitação era excitante. Ele havia me contado que a plateia era sempre muito escura para que ele pudesse nos ver do palco, mas percebi que ele olhava atentamente para o público antes de cantar a primeira música. Meu corpo praticamente derreteu no assento com a potência de sua voz amplificada. Naquela primeira nota, seu tom profundo, carregado de emoção, era incrível.
Abraçando Bea com força e balançando-a para a frente e para trás, eu o ouvi cantar várias canções que nunca tinha escutado antes. Não sabia que ele só apresentava composições suas na turnê, que não fazia nenhum cover. Tive a sensação de que havia perdido muito por nunca ter ouvido a maioria dessas canções. De vez em quando fechava os olhos, embalado pelas ondas sonoras do violão, e prestava atenção em todas as letras.
Fiquei ali sentado nos primeiros quarenta minutos, arrebatado pelo modo como seus dedos dominavam o instrumento com precisão, como sua voz mudava dependendo da música, como ele fascinava centenas de pessoas apenas com sua voz rouca, um microfone e o violão.
Wangji  havia contado que sua apresentação durava só quarenta e cinco minutos, e eu sabia que nos aproximávamos do final.

Ele falou ao microfone:
— Esta é uma noite especial por várias razões, não só por ser o encerramento da turnê, mas por estarmos no segundo lugar de que eu mais gosto no mundo, Pequim. Até pouco tempo atrás, esta cidade foi minha casa. Hoje eu moro em uma ilha, com o amor da minha vida e minha filha. Amanhã volto para casa após um longo período longe deles. Mas o principal motivo para esta noite ser especial é a presença da minha filha. Bea, obrigado por ter me ensinado que às vezes o que mais tememos é justamente aquilo de que nossa alma mais precisa. Essa última canção foi composta recentemente. Demorei para terminá-la, porque ela é muito importante para mim. Eu a compus para ela. O nome da música é “Bea, menina linda”.

A imensidão do meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora