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Fé cega. Essa foi a única coisa que me fez sobreviver ao primeiro mês longe de Lan Wangji. De algum modo, eu simplesmente tive que me convencer a confiar em suas atitudes e em sua capacidade de julgamento, embora não estivesse lá para ver o que acontecia de fato.

Ele telefonava todas as noites. Às vezes, ligava no período que ele chamava de hora do relaxamento, por volta das oito da noite, antes da apresentação das nove. Mas também podia ser na hora do almoço ou do jantar. Pelo que Wangji havia contado, seu itinerário diário era repleto de passagens de som e ensaios em cada nova casa de shows. O único horário livre era depois da apresentação, quando ele era arrastado para festas ou estava simplesmente exausto. Se a banda passava mais de uma noite na mesma cidade, todos se hospedavam em um hotel. Se tinham que viajar para estar em outro lugar no dia seguinte, passavam a noite no ônibus da turnê.

Eram dois ônibus, um para Calvin e a banda principal, outro para Wangji e o restante da equipe. Cada ônibus acomodava cerca de doze pessoas, e eu nunca perguntei em qual dos veículos Zizhen dormia, pois tinha medo de ouvir a resposta.

Fé cega.

Mesmo tendo escolhido confiar nele, encontrei uma janelinha para esse mundo novo, uma brecha que satisfazia meus episódios de paranoia: o Instagram de Song Zizhen.

Quando Qingyang morava com a gente na ilha e reclamava do ômega comentando em todas as fotos de Wangji, procurei o perfil dele na  internet. E fucei em suas redes sociais algumas vezes antes mesmo de Wangji ir embora. Ele postava fotos da turnê todos os dias. Muitas eram só das paisagens, como o nascer do sol visto do ônibus quando entravam em uma nova cidade ou a comida que a banda e a equipe estavam saboreando. Outras fotos eram de Calvin e da banda nos bastidores.

Uma noite, quando Bea estava dormindo, acessei o Instagram. Zizhen havia postado uma foto de Wangji no palco. Era uma foto simples dele diante do microfone, com o holofote iluminando seu rosto bonito . Aquilo me fez querer estar lá, assistir à apresentação ao vivo. Quando rolei a página, notei as hashtags.

#Garanhão

#LanWangji

#Pegador

#ExNoInstagram

Aquilo me incomodou, mas não toquei no assunto com ele, me recusei a fazer o papel do namorado ciumento, principalmente porque ele nem disse que eu era seu namorado.

As batidas na porta me assustaram, e eu fechei o laptop.

Quem poderia ser a esta hora da noite?

Felizmente, além do sistema de alarme, Wangji havia instalado um olho mágico na porta antes de ir embora.

Do outro lado, um homem baixinho comcabelos castanhos tremia de frio. Parecia inocente, e eu abri a porta.

— Pois não?

— Oi. — Ele sorriu. — Você é Wei Wuxian, não é?

— Sim.

— Queria me apresentar. Sou Guangyao, moro na casa azul ao lado da sua.

— Ah. Mingjue se mudou?

— Não. Eu sou o esposo dele.

Esposo?

— Ah, pensei que ele fosse...

— Divorciado? — Ele sorriu.

— Sim.

 — Ele é. Teoricamente. Nós nos reconciliamos na última vez em que ele foi visitar nossa filha em Irvine. O combinado era que ele ficaria durante uma semana, mas foram três. QinSu e eu voltamos para cá com ele.

A imensidão do meu amorOnde histórias criam vida. Descubra agora