Acordo calmamente. Penso em como será quando for para casa outra vez e no que isso pode dar. Já estou tão habituada a estar aqui, neste hospital... nem me lembro bem como é que era o sítio onde vivia antes. Pego no mp3 e ponho os phones. Agora já tenho mais músicas, a maior parte rock, mas também tenho muitas assim mais calmas, para pensar na vida. Fecho os olhos e começo a cantar baixinho as músicas que sei de cor. Fico assim durante um bocado, mas depois acabo por me levantar da cama e sair do quarto.
Ando com os meus pés descalços até a alguém que aqui trabalhe. "Que dia e que mês é hoje?" a enfermeira/médica olha para mim de alto a baixo e acaba por responder.
"É dia 10 de Maio." Ela dá-me um sorriso fraco e eu retribuo mas muito mais falsamente.
Viro costas e procuro a enfermeira May, afinal, não faço basicamente mais nada do que isso. Encontro-a a tratar de outro paciente qualquer. Encosto-me à porta aberta e espero que ela fale comigo. Ela nota a minha presença e por isso apressa-se um bocado mais.
"Bom dia. O menino Brownie não está cá." ela diz-me como se ela soubesse que eu ia perguntar isso, o que não ia.
"Ótimo, e-eu tenho de falar con-consigo." a enfermeira olha para mim e levemente traz uma mão até às minhas costas e anda, fazendo um bocado de pressão, para andar-mos ao mesmo ritmo. "Eu não sei se quero ir para casa dos... deles."
"Eles são seus pais, quer queira quer não. E, legalmente, tem de estar com a sua família. Além disso se não ficasse em casa dos seus pais, onde é que podia ficar?"
"Sinceramente, May, você é mais familia para mim do que os meus supostos pais que me vieram visitar umas 3 vezes desde que aqui estou. Você está sempre comigo, tem sempre paciência." digo-lhe com as minhas mais honestas palavras. "E por isso talvez eu podésse ficar consigo, só durante algumas noites." concluo o meu pedido.
"A menina sabe que eu sou casada e que tenho um filho beb e uma filha? Eu não acho que a menina iria gostar muito de viver comigo lá, nesse ambiente... mas se acha que está mais confortável comigo do que com os seus pais então acho que talvez possâmos ver se funciona" ela sorri e eu retribuo carinhosamente.
Sinceramente não sabia que a enfermeira é casada e tem um filho, mas não acho que isso seja um problema, desde que não deixem a criança sozinha comigo. Eu não devo ser boa com crianças.
"A menina está a evoluir muito. Muito mesmo. Talvez o menino Brownie tenha alguma coisa a ver com isso, não?" Ela pergunta sorridente e orgulhosa. Limito-me a virar os olhos, a sorrir um bocado.
"Ah! A menina gosta dele, eu soube logo desde o primeiro dia em que se conheceram, quando ele me foi lá chamar e a menina estava lá toda sorridente" ela pisca-me o olho e dá uma pequena gargalhada querida.
"Por favor May, vamos não falar sobre o Brownie." peço-lhe a rir. Ela diz apenas "Com certeza, como a menina quiser" sorrindo muito.
"Tem de se apressar a arrumar as coisas. Quanto mais cedo se "mudar" para minha casa, melhor." ela diz e eu concordo com ela apenas com um movimento com a cabeça.
Rapidamente viro costas e dirijo-me ao meu quarto. Abro o armário e sento-me na cama a olhar para ele. De facto, não há aqui muita coisa. Alguns caixotes com fotografias e roupas que já nem sequer me servem e cruzetas vazias. Isto é mesmo deprimente, rio com o meu pensamento. Acho que não há muito que eu possa levar para casa de May. Preparo a minha mala de viagem o melhor que sei, visto a primeira coisa que vejo e que me sirva e levo a mala enquanto vou à procura de May.
Em vez de encontrar May encontro Brownie, que sorri logo que me vê. Sei que ele gosta de mim, ou pelo menos aparenta gostar. E eu também gosto dele, quer dizer, pelo menos acho que sim, é só que ele é tão simpático, mas ultimamente tem me dado um pouco de seca. Não é totalmente minha culpa, eu apenas me canso das coisas muito rápidamente. E eu sei que estou a ser uma cabra ao chamar-lhe "coisa", mas é assim que me sinto.
Paro à frente dele, de modo a ter a sua atenção."Brownie, eu..." O que é que eu estou a fazer? Não lhe posso apenas dizer que ele me dá seca ou que se eu queria um cão ia ao canil! Agora não posso simplesmente calar-me já comecei a falar e já tenho a sua atenção. "Eu gosto muito de ti." acabo por dizer da boca para fora.
"Eu também gosto muito de ti." Ele abraça-me.
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silence ➳ fictional story
Подростковая литератураPessoas dizem que eu sou autista. Pessoas dizem que sou anormal. Pessoas dizem que tenho amnésia. Pessoas dizem que tenho problemas ou deficiências. Pessoas também dizem que sou psicopata. Pessoas. As pessoas conseguem destruir tudo apenas com palav...