sete ➳ the kiss

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Ele olha para mim. Os seus olhos mexem um pouco nervosamente. Depois de se acalmar, ele olha-me nos olhos. Desvio os olhos por um bocado. A mão de Brownie encontra o meu queixo e move-o de modo a eu olha-lo e a ficarmos a distâncias curtas um do outro. Ele começa-se a mover em direção a mim.


"Ahhhh!" um grito corta o nosso pequeno "momento". Olho para trás e a enfermeira May tenta subir.


Assim que chega ao telhado, ajeita a sua ropa e olha para nós. Eu coro e olhos para baixo, e Brownie agarra os cabelos da parte de trás da sua nuca, ficando com o braço em forma de "< ", corando um pouco.


" Vamos lá meninos, cada um para o seu canto." ela diz.

Eu levanto-me, passo-a, passo a multidão de pessoas e entro no hospital, dirijo-me para a minha cadeira. Minutos depois a enfermeira May vem a meu encontro.


"A menina ficou um bocado chateada, não foi?" olho-a com um acara séria. "Não foi culpa minha, eu estava a subir e a minha mão escorregou, como pensei que ia cair gritei um bocadinho. Não fique chateada." suspirei eu dei-lhe um pequeno sorriso. "Obrigada, agora tenho de ir." ela diz antes de me deixar sozinha.


Mais uma vez sou deixada sozinha na minha cadeira. Parece que toda a gente gosta de me deixar sozinha, sinceramente não percebo. Sou um a companhia tão boa... não falo muito, mas até falo.


Depressa comecei a pensar no que tinha acontecido ou quase acontecido com o Brownie. Eu não se porque não o afastei ou porque não virei logo a cara. A verdade é que eu acho que estava um bocado hipnotizada. E não me sentia mal por me estarem a olhar fixamente.

E quando ele avançou eu senti mesmo que já sabia o que é que ia acontecer. Quer dizer é um bocado um grande passo, o primeiro beijo. Sim, quer dizer não iria andar por aí, num hospital, o tentar dar o meu primeiro beijo. Ainda por cima com pessoas que estão a morrer lentamente. Amores em hospitais são de evitar. De repente ouço alguém a chamar o meu nome.


Levanto-me e olho à minha volta, mas ninguém olha para mim. Olho para o relógio. Fodasse, já são 11.27a.m.  Dirijo-me para o meu quarto mas antes do corredor o meu braço é agarrado com um bocado de força. Preparo-me para gritar e para dar um estalo a quem quer que esteja a agarrar-me, mas a mão que me agarrava solta-me e tapa-me a boca e a outra mão pára a minha mão de lhe bater, agarrando-a. Nesse momento reparei que era Brownie, quem me agarrava. Ele largou os meus braços e eu posicionei-me à sua frente.


"Desculpa, é que eu precisava de te ver." ele diz e nesse momento umas pequenas covinhas, perto dos cantos da minha boca, iluminaram a minha cara. Ele passou a sua mão pela minha cara, pondo os meus cabelos para trás da minha orelha. "Além disso, acho que eu deixei uma pequena coisa por fazer." ele diz, enquanto me encosta lentamente à parede.


Os lábios dele roçam nos meus. Os meus olhos estão fechados, mas parece que nos consigo ver, como se eu fosse outra pessoa a olhar para nós. Os lábios molhados e fofos dele e os meus movem-se em perfeita sintonia. Ele afasta-se um pouco de mim, mas só passados alguns segundo é que eu abro os olhos e entro em mim de novo. Ele sorri orgulhosamente.


"Brownie?! Onde estás?" uma enfermeira qualquer chama. Brownie rola os olhos, e depois olha-me com um olhar de quem diz "desculpa" e aponta para onde foi chamado.


Eu sorriu e faço-lhe um sinal com a mão tipo a dizer "não faz mal, vai lá". Ele sai, mais uma vez, tal como toda a gente, deixando-me sozinha. Deixo-me estar, encostada à parede, e começo a pensar no que realmente acabou de acontecer, o que me faz começar a sorrir e encostar a cabeça à parede, de modo a ficar a olhar para o teto. Segundos depois olho para a divisão entre o corredor e sala de estar e o rapaz que à momentos me beijou olha para mim a sorrir.


"Eu sei que estás a pensar no que aconteceu." ele diz como se fosse óbvio. Ele anda até mim e beija-me a bochecha. Passados alguns segundos ele afasta-se, respira fundo, como se fosse para fazer um discurso, mas a mesma enfermeira que o chamara à alguns minutos/segundos chama o nome dele, com uma voz cada vez mais irritante.


Brownie respira fundo ao mesmo tempo que rola os olhos e depois olha para mim. Eu continuo com as sobrancelhas um bocado levantadas, por causa de reação dele. Ele sorri, encolhe os ombros e vai ter com a enfermeira. Viro-me e sigo caminho até ao meu quarto. Entro no meu quarto e deito-me na minha cama. Vasculho por entre as minhas coisas o meu telemóvel. Encontro-o ainda na caixa que os meus pais fizeram antes de me enternarem aqui. Felizmente ainda sei a palavra-pass do telemóvel.  É sempre a mesma, "0401".


Enquanto o telemóvel carrega e desbloqueia penso, mais uma vez, em Brownie e no que não só "quase acontecia", como "aconteceu". Rio com o meu pensamento parvo e quando volto ao meu mundo. A imagem de fundo continua a ser aquelas com que vêm com os telemóveis.


No telemóvel estavam algumas fotografias minhas com 13/14 anos. Numa fotografia estavamos eu, a minha melhor amiga e o meu melhor amigo nessa altura, mas que me vieram ambos visitar umas 3 vezes, desde que aqui estou. Depois de alguns momentos a refletir na minha vida deitei-me e adormeci.

silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora