doze ➳ Going "home" part 2

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"Eu também gosto muito de ti." Ele abraça-me.

Enquanto ele demonstra o seu carinho por mim num abraço calmo e apertado eu limito-me a existir. Tal como na minha própria vida. Eu limito-me a existir. O abraço dele é-me estranho. Eu acho que nós apenas não temos aquela ligação. Ele volta a afastar me, para me olhar.

"Está tudo bem?" Limito-me a assenar positivamente com a cabeça e a sorrir lhe.

Pego na mala de viagem já feita e, com Brownie, vou à sua procura. Assim que May nos vê sorri e estende os braços, como se dissesse "olhem, para vocês os dois, tão fofos" o que me parece uma coisa que ela faria.

"Já estou pronta." digo-lhe calmamente. Brownie parece confuso, acho que ele ainda não sabe que eu decidi ir viver para casa da enfermeira May por alguns dias.

"A menina Violet decidiu que se iria sentir mais confortável se fosse viver comigo durante algum tempo." a enfermeira explica-lhe. Ele limita-se a olhar para mim e a sorrir.

"Ainda bem que decidiste ir em frente com a ideia de ires para a minha escola e finalmente saíres daqui. Não pensei que aceitasses assim tão facilmente." ele diz e sinceramente concordo com ele.

"Ainda não falei com o meu marido nem nada sobre a tua breve mudança para nossa casa." ela ri sozinha. "Ele de certeza não se vai importar." a enfermeira simpática tenta descansar-me. "Vou buscar as coisas para ir ir-mos." ela diz antes de deixar-me com o Brownie.

"Estou mesmo contente que venhas para a minha faculdade. Assim posso te vigiar 24h por dia!" ele olha pra mim com um ar sério mas depois ri-se.

"Brownie... e-eu preciso de tempo e espaço." digo calmamente.
"Eu apenas... eu não estou habituada a ter tanta atenção. E eu sinto que me estás a pressionar e isso. E eu nem sei o que sinto por ti, porque foste o meu primeiro amigo e estiveste sempre lá. E eu magoei-te, vezes e vezes sem conta, mas tu apenas pareces não perceber que eu não sou uma boa pessoa. Eu... eu só faço merda! Mas tu não te afastas. Tu continuas comigo, e desculpas-me. E estou te grata por isso, mas eu apenas não sei. Eu não sei metade do que deveria saber, e por isso acho que antes de arranjar um namorado e isso acho que devia descobrir o meu mundo e os meus sentimentos, sentimentos que nunca tive." digo-lhe sinceramente.

A expresssão na cara dele magoa-me. Ele apenas parece despedaçado. Uma lágrima escorre lentamente. Apanho-a quando cai da cara dele. Ele puxa-me para um abraço. Não um abraço qualquer, um abraço cheio de carinho e calma. Abraço-o de volta e "enterro" a minha cara no seu peito. Fecho os olhos e uma lágrima escorre inevitavelmente pela minha cara.

"Desculpa por te ter pressionado. Não era minha intenção, eu apenas gosto tanto de ti." quando ele sussurra estas palavras, aperto o corpo dele contra o meu o maximo possivel.

Brownie pousa o seu queixo no topo da minha cabeça, mas por pouco tempo. Ele garra nos meus ombro e gentilmente afasta o meu corpo do dele. Ele vira-me e eu encaro a enfermeira a sorrir de canto a canto por nos ver.

"Vamos?" Ela pergunta-me ainda a sorrir. Reviro-lhe os olhos, vou buscar a minhas mala e ando até ela. Antes de deixar o hospital de vez olho para Brownie a sorrir. Ele sorri de volta e eu viro costas e fecho a porta atrás d mim.

Pomos as malas na bagageira do carro. May senta-se no lugar do condutor e eu sento-me ao seu lado. Estive a viagem toda a olhar pela janela, a descobrir a cidade onde vivo. A vista era um bocado deprimente, para ser honesta, o céu estava cinzento e a estrada deserta. Não haviam casas ao pé do hospital, só um descampado com plantas. Passados alguns minutos cortamos para uma estrada cheia de casas e um parque infantil. May pára o carro à frente de uma casa média branca, com um pequeno terráço à frente.

"Esta é a minha casa." ela informa-me e sorri. Olho para ela e sorrio da melhor forma que eu consigo o que não é muito convincente visto que estou um bocado assustada. Abro a porta do carro e sinto o frio do vento que embate rapidamente contra a minha pele. "Anda, vem para dentro." Ela diz enquanto pega nas malas, fecha a bagageira e dirige-se para a porta.

Ela procura as chaves dentro da mala enquanto eu me limito a olhar para a porta. Assim que as encontra pede-me autorização para abrir a porta muito gentilmente. Assim que eu lhe sorrio por breves momentos a porta abre sem ranger nem um bocado.

"Cheguei." ela diz assim que fecha a porta de casa e pousa as malas no chão. "Senta-te aí minha querida, eu vou ali falar com o meu marido." ela informa. Acabo por me sentar no sofá confortável à espera de ambos.

Tento ao máximo não ouvir a conversa deles, mas estou preocupada com reação dele. Ouço os sapatos de May, até que se ouve um 'shh'. May informa o seu marido que "A 'menina Violet' esta aqui. Ela não tem onde dormir, porque tem uma relação dificil com a família." Durante alguns periodos de tempo não ouço nenhum som, o que me faz sentir cada vez mais preocupada. "Ela está aqui? E tu não me dizes nada? Esta casa também não é minha? E se assim do meio do nada eu trouxesse um colega do trabalho para aqui sem te dizer nada?!" ele fala alto. "Não digas isso, ela está aqui ao lado! E não fales tão alto, a Sophia está a dormir!" May diz-lhe.

Com isto, não sei porquê mas tive de ir ter com eles. Quando os encontro eles ambos olham para mim surpreendidos.

"E-eu entendo a sua reação. Desculpe po-por tudo." digo antes de voltar para trás, até à porta. Abro a porta e saio da casa onde entrei apenas alguns minutos atrás.

Assim que fecho a porta atrás de mim sinto, mais uma vez, o frio do vento a soprar. Ando, até ao passeio, mesmo à berma da estrada. Como aqui não passam muitos carros, pelo que vi até agora, continuo até ao meio da estrada de asfalto quase nova. Ahh fodasse esqueci-me da minha mala lá dentro! Olho para um lado e para o outro tentando descobrir para onde ir... E então embateu contra mim como um comboio... Eu não tenho para onde ir. Não vou voltar para o hospital, não vou para casa dos meus pais ou da minha irmã, não sei onde é. Eu não tenho mesmo mais nenhum lugar para onde ir. E é isto que me irrita profundamente, estár dependente de alguém. Enquanto me perco nos meus pensamentos sobre o quanto a minha vida é apenas estúpida, a porta de casa de May abre-se.

"Podes chegar aqui, por favor?" um homem alto, de fato e gravata, de cabelo arranjado e barba feita pede-me. Um pouco hesitante aproximei-me dele. "Desculpa-me. Eu apenas não estava preparado para receber uma paciente da May. Apesar de saber muito sobre ti, pelo que a minha mulher me conta, nunca pensei que nos iriamos conhecer. Estive a falar com a May e agora que já percebi melhor as coisas, podes ficar o tempo que quiseres. Desculpa teres ouvido aquilo. Só te aviso que se quiseres ficar aqui, vais ter de lidar com uma bebé e uma adolescente de 12 anos." ele ri um pouco depois de acabar o seu mini discurso.

"Espero que saiba que lhe estou muito grata. Se eu não pudesse ficar aqui acho que não teria outro lugar onde ficar. E não se preocupe com os suas filhas. Não é que esteja muito habituada a crianças, mas mesmo assim vou dar o meu melhor, muito obrigada." Dei-lhe o meu melhor sorriso.

"Vamos entrar? Está frio aqui fora." Levantamo-nos e ele abre a porta. Lá dentro estava à espera May, sentada no sofá. Depois de ele fechar a porta, eu decido que tenho de fazer uma pergunta altamente constrangedora mas que tinha de ser feita eventualmente.

"Peço desculpa, mas será que eu poderia tomar um banho? Peço mesmo imensa desculpa por perguntar."

"Oh deixe-se disso, por favor menina Violet, é claro que sim!" a enfermeira levanta-se. Agarro na minha mala de viagem e ela guia-me até à casa de banho. Uma casa de banho de luxo, já agora, nada a ver com as casas de banho do hospital. Diz me o que devo usar e estende-me uma toalha para quando eu sair. "Olhe está-me a apetecer ir fazer umas compras eu agora vou lá só buscar algumas roupas para si, porque, peço imensa desculpa, mas o que está a usar é muito feio." olho para o que estou a usar e acabo por concordar, além de me estár pequeno é um tanto feio.

"Mas e-eu na-não sei se tenho tempo pa-para ir às compras agora." digo enquanto ela me estende duas toalhas

"Então deixe isso comigo, eu vou lá agora e se vir alguma coisa que eu ache que lhe fique bem eu trago. Você deve vestir o S e de calças deve ser um 36, acho. Bem, se for preciso trocar eu vou lá. Até já, qualquer coisa o meu marido está aqui." Ela despede-se de mim e fecha a porta.

Ligo a água, espero que aqueça, dispo-me e entro no banho.

silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora