treze ➳ New neighborhood

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Assim que saio do banho, uso uma toalha para enrolar o cabelo e outra para secar o corpo. Visto o pijama, afinal já devem ser umas 7 da noite. Tiro a toalha do cabelo, deixando-a cair no chão, ligo a ficha do secador, e seco o meu cabelo. A porta da casa de banho abre-se de repente, fazendo com que eu me assuste.

"Ai peço desculpa querida, não era minha intenção assustar-te." May pede desculpa. Rio-me de me ter assustado tanto e depois sorrio, tentando que May não se sentisse mal. "Eu vim aqui apenas avisá-la que já cheguei, e trouxe coisas giras para experimentar!" ela pisca-me o olho.

"Eu hoje estou um bocado cansada, será que podemos deixar isto para amanhã, por favor?" pedi-lhe muito sinceramente.

"Oh sim claro que sim, temos um quarto de hospedes, se não se importar de ficar lá." ela preocupa-se de mais, claro que não há problema.

"Muito obrigada por me receber na sua casa." agradeço. Não sei mesmo o que teria feito se May não me tivesse deixado ficar. Talvez tivesse ficado no hospital.

May acompanha-me até onde irei ficar. Ela parece-me preocupada. Tento sossegá-la ao máximo e sorrio-lhe mas ela força um sorriso nada convincente.

"Eu deixo-a sozinha agora." ela diz simplesmente antes de sair do quarto de hóspedes.

Deixo-me simplesmente cair na cama a olhar para o teto. Eu não quero que a minha vida mude mais. Mas também estou cansada da minha vida secante. Não sei bem o que fazer. Em relação a Brownie, em relação a esta nova casa, em relação a uma ida para uma escola, em relação à sociedade. Em relação a pessoas. Não sei bem como reagir com pessoas.

. . . . . . . . . . . . . . .

Acordo no quarto que ainda mal conheço. Olho para o relógio/despertador na mesa de cabeceira ao lado da cama. Ainda é demasiado cedo para estar alguém acordado. Levanto-me e acendo a luz. Reparo que a cadeira a frente da secretaria está cheia de roupa. Aproximo-me e desarrumo tudo de modo a ver a roupa que May ache que me 'serve'. As roupas que May me comprou são um pouco justas de mais... e talvez um pouco reveladoras de mais também. Acabo por vestir umas calças pretas simples, umas sapatilhas pretas e uma sweater larga cinzenta.

Saio do meu quarto silenciosamente e ando até à sala. Como há luz na rua há luminosidade suficiente na sala. Perto da porta há uma taça, com chaves. Sei bem que não devia fazer isto. Mas quero. Tiro uma das chaves, procuro um papel e uma caneta e deixo uma mensagem para May.
'Bom dia, desculpa May, se estão à procura das chaves, tenho-as eu. Desculpa eu quis vir dar uma volta para conhecer este bairro. Eu volto antes do almoço, provavelmente. Não se preocupem comigo. Já agora, obrigada pela roupa.'
Deixo o bilhete em cima da mesa.

Depois disto saio de casa com as chaves no bolso e com a maior delicadeza possivel para não acordar ninguém. Decido caminhar pelo passeio a frente da casa de May. Vêm se casas e jardins privados. É demasiado cedo para ver alguem na rua o que torna isto muito mais facil para mim. Vejo a uns metros um jardim que me parece publico. Tem baloiços, escorregas, até o jogo da macaca no chão. Já não vou a um parque infantil há alguns anos. Como ninguém esta acordado decido experimentar. Os baloiços estão molhados por causa das gotas de orvalho mas mesmo assim parecem tão divertidos. Limito-me a sentar e a balançar com os pés.
Ainda nao me esqueci de como se anda de baloiço mas... traz tantas memórias. Memórias de quando ainda era livre e não tinha quaisquer preocupações com o que as outras pessoas pensam de mim, por exemplo. Sinto falta desses tempos. Desembaraço-me desses pensamentos e começo a andar. Depressa comecei a sentir aquelas borboletas no estômago. E então, tal como uma criança comecei a rir enquanto andava.

Um carro passa e por esse motivo decido que tenho de parar e ir para casa antes que alguém me veja. Balanço-me só umas últimas vezes, só para me recordar, afinal não sei quando é que poderei voltar aqui sem que ninguém me veja.  Tenho um pressentimento estranho de que alguém está a olhar para mim. Lentamente paro o baloiço. Passo pelos escorregas e, como estava no caminho de qualquer maneira, jogo um pouco do jogo da macaca antes de deixar o parque por completo.

silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora