cinco ➳ Maths

111 11 4
                                    

Depois de breves momentos assim, apenas abraçada ao rapaz desfiz o abraço tão confortavel. Ele olhou-me um bocado confuso. Apontei para o pulso, tentando saber as horas.

"São quase 22h." levanto-me e preparo-me para deixar aquele quarto e ir para o meu mas ele agarra-me o braço. E pela primeira vez não me fez confusão tocarem-me.

Olheio nos olhos, mas desvio logo o olhar. Não consigo olhar uma pessoa nos olhos durante muito tempo, faz-me imensa confusão.

"Já vais? Vais onde?" Viro-me e ando rapidamente até ao meu quarto. Quarto número 302. Ele segue-me a sorrir.

Entro primeiro e ando para o lado, para ele passar por mim e ver o meu estranho quarto. Brownie entra com um sorriso na cara, pelo meu quarto a dentro, mas depressa o seu sorriso cai. Ele olha em volta e depois os seus olhos encontra-me me a sorrir estranhamente. Ele anda até ao meio do quarto.

"Como..? Como é que tu..?" ele tenta formatar uma simples pergunta. Ele roda em torno de si mesmo, de forma a ver o quarto todo e a minha "obra prima".

Números, fórmulas matemáticas, sinais... Por todas as paredes, escrito com giz, canetas e até tintas. Todos os dias a enfermeira May passa pelo meu quarto para me fornecer mais giz, tinta e as canetas que precisar.

"Tu és um génio na matemática. Tu és genial, Violet." ele diz enquanto se aproxima de mim, agarrando os meus ante-braços, juntando, um pouco mais os nossos corpos. "Tu és esperta. E desististe da escola, pela tua doença." solto-me dos braços dele e ando lentamente até atrás dele.

"Do-doença-ca? É pena, nã-nã-não é? To-toda a gente aqui é do-doente. É um jogo mate-mate-matemático." digo antes de me sentar na minha cama, fazendo movimentos com as mãos. "Matemática" olho-o nos olhos e sorrio preversamente antes de entrar numa enorme dor de cabeça. Grito, bem alto. Ouve-se um grande alarilho fora do corredor.

Começa tudo a escurecer. O meu quarto começa a ficar mais pequeno. Olho para baixo, e vejo a cidade toda. Sinto-me quente, e sinto como se tivesse coisas a rebentar na minha cabeça. Agora tenho uma vista de mim mesma. Altos começam-se a formar na minha testa e na minha cara e a rebentar lentamente. O sangue, vermelho vivo e quente, escorre pela minha cara até cair na cidade, onde será invisível. Olho para o meu corpo. Um tecido resistente aperta-me, não me deixando mover. As minhas mãos dão uma volta à minhas sintura, cruzando-se, e separando-se para caminhos diferentes. A temperatura aumenta drásticamente. Sinto como se tivesse de fugir de alguma coisa ou alguém. Como não me consigo mexer solto gritos extridentes a pedir que me soltem. As luzes começam-se a apagar atrás de mim.

Grito enquanto, rapidamente, o medo começa a tomar conta de mim. Um chora incondicional controla-me, enquanto vejo uma sombra a aproximar-se rapidamente de mim. Uma figura assustadora pára a meros centimetros de mim. Fexo os olhos com força, tentando que tudo desapareça.                                                                                                                                             

Acordo, lentamente, na minha cama. A meu lado está a enfermeira May, a olhar para mim. Ela sorri.

"Vejo que já acordou. Sabe, os seus "pesadelos" estão cada vez a ficar mais... hum... como é que eu ei de dizer?" ela pergunta-se a si mesma. Depois de alguns segundos ela encontra a palavra que procurava. "Assustadores e nítidos. Eles estão, como se tivessem a ficar mais poderosos. E isso é dado a um medo qualquer que tenha. Talvez ainda não se tenha aprecebido desse medo, ou alguma coisa parecida. Mas, há alguma coisa que a preocupa?" ela pergunta.

Obviamente não responderei, mas vou ter a pergunta dela na minha mente, e pensar se realmente alguma coisa me preocupa.

"Bem, o Brownie está lá fora à espera para a ver. Posso mandá-lo entrar?" assinto com a cabeça positivamente. Ela levanta-se a sorrir e abre a porta.

Brownie entra e a enfermeira May fecha a porta atrás dele, deixando-nos a sós. Ele vem até mim e senta-se na ponta da cama.

"Sabes, eu estive a falar com a enfermeira May. E ela contou-me sobre os teus "pesadelos" estarem a ficar mais fortes." ela diz, a olhar para baixo. "E eu pensei que podia ser por teres algum tipo de medo ou alguma coisa que influenciasse essas ilusões. E eu só queria saber se há alguma coisa. Provavelmente não me vais respoder a mim, mas se houver alguma coisa, por favor diz à enfermeira May."

Sorrio e pouso a minha mão na dele, tentando sossegá-lo. Depressa retiro-a e escondo-a debaixo da minha outra mão.

"A enfermeira May também me disse que tu nunca tinhas levado mais ninguém ao teu quarto. Sinto-me honrado em ter sido o primeiro." Brownie olha para mim e ri. Tento perceber o motivo daquela pequena gargalhada. "É que parece que acabei de te tirar a virgindade. "Sinto-me honrado em ter sido o primeiro". Parece um bocado não é?" ele ri mais uma vez e olha para mim. Sorrio-lhe e ele retribui.

A verdade é que ele é estranho. Apesar de eu não falar com ele, ele continua a tentar.

"Alguma vez contas-te a alguém as tuas ilusões?" ele pergunta. "Eu acho fascinante... hum... tudo. Sim. É simplesmente fascinante como tudo funciona. E como vocês vêm as coisas de maneira diferente. E como o vosso cérebro funciona. Eu gostava de aprender mais sobre vocês. Gostava de te perceber." ele sorri. Em consequência sorrio também. "Olha. hum, eu peço desculpa, mas hum, eu tenho d ir, já se faz tarde." ele desculpa-se. "Amanhã estou cá outra vez." ele garante-me. Brownie anda até à porta mas pára. Ele manda-me um pequeno sorriso envergonhado e fecha a porta atrás dele.

E assim sou deixada outra vez sozinha no meu quarto.

silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora