dois ➳ that paper about me

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Os meus olhos piscaram lentamente. Estava na cadeira em frente à janela. Ainda tenho o cobertor a tapar as minhas pernas, ainda tenho a cadeira virada para os prédios de Nova York. Ha! Lembrei-me. Bato palmas mentais para mim. "Obrigada, obrigada." Sento-me direita e olho em volta. Os meus olhos alcançam um rapaz de cabelo castanho, de cabeça enterrada nas mãos, cotovelos a perfurarem as pernas. Desencosto-me da cadeira, cruzo a perna e olho diretamente para ele. Ele levanta a cabeça calmamente. Os olhos dele estão inchados e raiados de vermelho, as bochechas molhadas. Os olhos dele encontram os meus. Depois de alguns segundos assim, a estabelecer, apenas, contacto visual, inclino a cabeça ligeiramente para o lado, tentando perguntar-lhe o que se passava. Ele agarra no banco onde estava anteriormente sentado, anda até mim, não muito perto, não muito longe e senta-se a olhar para mim.

"A minha irmã está a morrer." ele desculpa-se após algum tempo. Não o vou abraçar, nem consolar. Já foi uma sorte ter-lhe perguntado o que se tinha passado. O meu olhar voltou para a janela diante de mim. "Sabes, fui eu que te agarrei, juntamente com a enfermeira May, há um bocado. Quero dizer, há umas horas. Quando tu estavas a... hum.. não sei o que estavas a fazer. Estavas-te a mexer muito e a dizer coisas sem sentido. Depois de teres gritado por veres alguma coisa." O puzzle.

Acho que, numa questão de segundos, passei a odiar este rapaz, que nem sequer conheço.

"Tu não falas muito, pois não? Vamos descobrir porque é que estás aqui." ele diz depois de limpar as lágrimas, algumas já secas. "Okay, tu podes não vir, mas eu vou buscar a enfermeira May para aqui." ele avisa antes de se levantar. 

Passados alguns minutos a enfermeira entra na sala, com um andar apressado. O rapaz corre atrás dela a tentar falar com ela. A enfermeira ignora-o, o que me faz rir. Ela chega até mim e senta-se no banco onde antes estava o rapaz. Fitou-me com os olhos verdes e esboçou um pequeno sorriso.

"Bem, vejo que acordou bem disposta." disse a enfermeira.

"Posso ver a folha dela?" ele diz como se fosse um médico, o que me faz rir, outra vez.

"Ai! Não, Brownie! A menina Sherwood é uma paciente, não podes simplesmente pedir-me a folha dela. Tens de perguntar-lhe e como ela não vai responder..." ele interrompe a enfermeira.

"Não vai? Porquê? Ela não fala? É por isso que está aqui?"

"Não. Agora se me das licença, tenho de ver a minha paciente. Sai daqui." o meu olhar segue-o enquanto ele se vai embora. Virou a cabeça na minha direção antes de sair da sala completamente. A enfermeira anota e escreve num papel das folhas que este hospital tem acerca de mim. " A menina gostou dele, não foi?" eu olho-a de uma forma esquisita e torci o nariz. Eu não sei bem se gostei. Quer dizer, ele é simpático, mas não sei nada sobre ele. Nem o nome. Esta é a coisa boa, não há sentimentos. Quer dizer, haver há, mas não estão misturados e são mais fáceis de ignorar. "E o que é que sabe sobre ele?"  olhei-a atentamente durante uns segundos e acabei por encolher os ombros. Ela esboçou meio sorriso e voltou a sentar-se na cadeira.

"O Brownie é muito bom rapaz. Quando era pequeno vinha sempre visitar-nos quando a mãe dele trabalhava nesta unidade." Ela suspirou e deixou o sorriso desvanecer. Ela levou uma mão aos caracóis vermelhos e deixou o braço caír-lhe no colo de seguida. "Mais uma perda em vão. Deus sabe que era uma grande mulher, a mãe daquele rapaz. É uma pena." Deus sabe. Expressão engraçada. "E agora está em vias de perder a Nancy. Com 13 anos, seria uma tragédia perdê-la assim para uma doença como aquela. Ela é esquizofrénica, pobrezinha. Rezo por aquela miúda todos os dias." Não sei bem porquê, mas eu simplesmente não estava a adorar esta conversa. Bom, é mais May a falar para mim o que equivale a falar para as paredes mas continua a ser... desinteressante? Para além de me dar uma vontade de reclamar a 'pena' que ela tem da tal Nancy, e daqueles 'rezo por ela todos os dias'. Um barulho soa do bolso da enfermeira. "Tenho de ir, o dever chama." a enfermeira diz enquanto se levanta. "Eu venho vê-la mais tarde."

 Acabo por me encostar a observar as vidas miseraveis das pessoas. Consegui visualizar uma parte de uma birra de uma criança. Ele gritava e puxava a mãe para trás, enquanto a mãe lhe levantava a mão. Ele continua a berrar e a demarrar lágrimas despropositadamente. As pessoas começam a olhar para a criança e a mãe apenas sorri, envergonhadamente. Levanto-me e dirigo-me à janela, de modo a ver melhor a cena. Assim que a maioria das pessoas passam, a mãe dá balanço com a mão e faz a mesma chocar rapidamente com a cara da criança. Com aquele acto, encolho-me, como se estivesse a acontecer comigo, mas sem a parte da dor.

"Olá, olá." uma voz interrompe os meus pensamentos. Viro-me para encarar uma figura alta e sorridente. Respiro fundo e ando até à cadeira. Sento-me de pernas cruzadas, de frente para a cadeira vazia, que depressa foi ocupada por ele. "Olha o que eu encontrei." ele diz erguendo uma placa com um papel. "É a tua folha. Vamos lá ver..." surpreende-me que ele tenha encontrado a minha folha. "Por tanto, diz aqui que te chamas Violet. És tu?" mando-lhe um pequeno sorriso.

"Diz aqui que tens 17 anos. Também diz que fazes anos no dia 4 de Janeiro." ele passa o dedo por mais factos sobre mim até olhar para mim a sorrir. "E aqui está a temida pergunta. Tenho aqui, por baixo do meu dedo, a razão por estares neste hospital. E a razão por estares aqui é..." ele tira o dedo e lê atentamente as palavras escritas à mão pelo médico que me mandou vir para aqui. "Tu és autista? E tens amnésia? E ilusões?" ele pergunta-me boqueaberto. "Mas tu tens falado comigo, não muito, não com palavras, mas tens falado." ele começa a falar mais de pressa.

Ele fica em silêncio durante uns segundos. "Eu tenho entendido e nós temos comunicado." as palavras e os sons começam a ficar imcompreensíveis. Os meus olhos começam a ficar pesados e tudo anda à roda. Acabo por os fechar e adormecer repentinamente.

 (N/A: oises. Desculpem n ter postado mas estão a ver a minha pequena embaixadora ela n me deixava postar, e provavelmente quando vir isto vai se passar e proibir me de postar até ter tipo 20 votos no prox cap. por isso o que eu vos queria mesmo pedir era para votar, só mesmo votar, é fácil, pk se vcs não votarem eu n poderei postar. ;(   

Sorry pela demora

obg por lerem)

silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora