três ➳ all I saw that day.

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Começo a ouvir vozes distorcidas. "Ela está bem? Isto é normal?" soou uma voz preocupada. "Sim. Vê?! Ela já está a acordar." outra voz fez-se ouvir. Uma sombra, provavelmente a enfermeira, ajudou-me a sentar, enquanto, lentamente, recuperava a visão. O médico apontava uma luz para os meus olhos. Depois diz um simples "Está tudo bem", como se estivessemos todos ansiosamente há espera que ele nos disse-se o meu estado.

"Foi só um pequeno desmaio." a enfermeira diz, sentando-se ao pé de mim. "Agora que já tratei de si, vou continuar o meu trabalho. Oh, e está a haver uma pequena festa na sala de convívio. Esteja há vontade." ela sorri. Levanta-se e depressa Brownie ocupa o seu lugar, olhando-me de olhos abertos.

"Eu... desculpa. Eu não devia ter explodido, mas tu não parecias tão... hum... normal." normal? É assim? Eu já não sou normal? "Não é que... posso começar do princípio?" eu sorrio. "Desculpa, eu não devia ter agido assim." ele finaliza o seu pedido de desculpas. Após uns momentos de silêncio ele finalmente fala. "Vai haver uma festa cá. Parece fixe, certo?" Ele tentou fazer conversa. Respondi com um rolar de olhos. O meu cabelo castanho caía-me sobre os olhos. Soprei-o para conseguir ver melhor. Brownie, é chamado por alguém e vai ao seu encontro.

Levanto-me e caminho em direção à sala de convívio. Enquanto ando pelo corredor ouço alguns barulhos vindos de um quarto. Do quarto 129. Caminho de vagar até lá. Estão lá muitas enfermeiras, incluindo a enfermeira May. Consigo ver as pernas de alguém, movendo-se depressa. Há vozes misturadas, mas consigo ouvir pequenas frases da paciente. "Ele está ali. Ele vai matar-me. Eu não quero. Deixem-me ir por favor!" a rapariga diz. Ela tenta levantar-se mas as enfermeiras param-na. Ponho-me em bicos-de-pés, de modo a ver melhor o que estava a acontecer.

"Não, não, não, não, não! Vocês não o vão deixar pois não? Não, não me toques! Não o deixem tocar-me, por favor." As palavras eram gritadas misturadas com um choro compulsivo e nervoso. Dei por mim a aproximar-me. Ninguém reparara na minha entrada no quarto, estavam todos em volta da outra rapariga. Ela era bonita. Tinha os cabelos escuros, quase pretos, curtos - estes encontravam-se completamente despenteados - e olhos cor de avelã salpicados de verde. Que pena alguém como ela ter uma doença assim. Ela parou de gritar e começou a chorar desesperadamente. Reparei que uma caneta caíra do bolso de May e aterrou nos meus pés. Agachei-me e peguei nela, rodando-a nos dedos.

"Por favor." Ela olhou-me directamente nos olhos como se me pedisse algo. Tentei perceber o quê e cheguei à conclusão de que era a caneta. O meu olhar saltou entre a rapariga e a caneta.

"Levem-na, já!" A voz da enfermeira May soou entre as ordens do médico. Ela estendeu a mão e estalou os dedos na minha direção. Os meus pés colaram-se ao chão. May olhou em volta e fez um sinal com a cabeça na minha direção. Um homem dirigiu-se a mim e segurou-me pelo braço, arrastando-me violentamente pela sala. Antes de abandonar a divisão lotada atirei a caneta ao chão e esta rolou até debaixo da cama dela. A rapariga sorriu-me brevemente antes de ser posta a dormir.

Foi tudo o que vi.

silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora