Começo a ouvir vozes distorcidas. "Ela está bem? Isto é normal?" soou uma voz preocupada. "Sim. Vê?! Ela já está a acordar." outra voz fez-se ouvir. Uma sombra, provavelmente a enfermeira, ajudou-me a sentar, enquanto, lentamente, recuperava a visão. O médico apontava uma luz para os meus olhos. Depois diz um simples "Está tudo bem", como se estivessemos todos ansiosamente há espera que ele nos disse-se o meu estado.
"Foi só um pequeno desmaio." a enfermeira diz, sentando-se ao pé de mim. "Agora que já tratei de si, vou continuar o meu trabalho. Oh, e está a haver uma pequena festa na sala de convívio. Esteja há vontade." ela sorri. Levanta-se e depressa Brownie ocupa o seu lugar, olhando-me de olhos abertos.
"Eu... desculpa. Eu não devia ter explodido, mas tu não parecias tão... hum... normal." normal? É assim? Eu já não sou normal? "Não é que... posso começar do princípio?" eu sorrio. "Desculpa, eu não devia ter agido assim." ele finaliza o seu pedido de desculpas. Após uns momentos de silêncio ele finalmente fala. "Vai haver uma festa cá. Parece fixe, certo?" Ele tentou fazer conversa. Respondi com um rolar de olhos. O meu cabelo castanho caía-me sobre os olhos. Soprei-o para conseguir ver melhor. Brownie, é chamado por alguém e vai ao seu encontro.
Levanto-me e caminho em direção à sala de convívio. Enquanto ando pelo corredor ouço alguns barulhos vindos de um quarto. Do quarto 129. Caminho de vagar até lá. Estão lá muitas enfermeiras, incluindo a enfermeira May. Consigo ver as pernas de alguém, movendo-se depressa. Há vozes misturadas, mas consigo ouvir pequenas frases da paciente. "Ele está ali. Ele vai matar-me. Eu não quero. Deixem-me ir por favor!" a rapariga diz. Ela tenta levantar-se mas as enfermeiras param-na. Ponho-me em bicos-de-pés, de modo a ver melhor o que estava a acontecer.
"Não, não, não, não, não! Vocês não o vão deixar pois não? Não, não me toques! Não o deixem tocar-me, por favor." As palavras eram gritadas misturadas com um choro compulsivo e nervoso. Dei por mim a aproximar-me. Ninguém reparara na minha entrada no quarto, estavam todos em volta da outra rapariga. Ela era bonita. Tinha os cabelos escuros, quase pretos, curtos - estes encontravam-se completamente despenteados - e olhos cor de avelã salpicados de verde. Que pena alguém como ela ter uma doença assim. Ela parou de gritar e começou a chorar desesperadamente. Reparei que uma caneta caíra do bolso de May e aterrou nos meus pés. Agachei-me e peguei nela, rodando-a nos dedos.
"Por favor." Ela olhou-me directamente nos olhos como se me pedisse algo. Tentei perceber o quê e cheguei à conclusão de que era a caneta. O meu olhar saltou entre a rapariga e a caneta.
"Levem-na, já!" A voz da enfermeira May soou entre as ordens do médico. Ela estendeu a mão e estalou os dedos na minha direção. Os meus pés colaram-se ao chão. May olhou em volta e fez um sinal com a cabeça na minha direção. Um homem dirigiu-se a mim e segurou-me pelo braço, arrastando-me violentamente pela sala. Antes de abandonar a divisão lotada atirei a caneta ao chão e esta rolou até debaixo da cama dela. A rapariga sorriu-me brevemente antes de ser posta a dormir.
Foi tudo o que vi.
VOCÊ ESTÁ LENDO
silence ➳ fictional story
Teen FictionPessoas dizem que eu sou autista. Pessoas dizem que sou anormal. Pessoas dizem que tenho amnésia. Pessoas dizem que tenho problemas ou deficiências. Pessoas também dizem que sou psicopata. Pessoas. As pessoas conseguem destruir tudo apenas com palav...