oito ➳ little talks part 1

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 Acordo bem disposta, o que ninguém esprava, visto que consigo sempre arranjar alguma coisa para me queixar. Levanto-me antes do sol e caminho outra vez para o local onde no dia anterior Brownie me tinha quase beijado. Sento-me novamente no chão e olho para o céu, agora colorido e quase todo iluminado. Depois do Sol estar completamente a cima da linha do horizonte levanto-me. Depois de uma longa batalha com o meu subconsciente, decido que vou falar, ou pelo menos tentar.


"O-o-o.... O-olá." digo e riu depois de me aperceber o quão estúpido isto parece. "Es-estou a a fazer fi-fi-fi... figura de ur-urso. Vou tentar ca-cada vez ga-gague-gaguejar menos." e assim fico, a tentar tornar-me numa perita em línguas. Depois de algum tempo assim, entro novamente no meu quarto e procuro o meu telemóvel, mas infelizmente não tenho lá músicas. Já há muito tempo que não falava, já me tinha esquecido como a minha voz era.


 Saio do meu quarto e procuro a enfermeira May. Entro na secção de empergados, funcionários, enfermeiros e médicos. Entro em todos os quartos à procura da enfermeira desaparecida, até que finalmente a encontro. Entro pelo quarto a dentro e tento ganhar coragem para a acordar. Aproximo a minha mão do ombro dela mas depressa retiro-o de lá. Aproximo outra vez e desta vez empurro levemente para a frente e para trás. Os seus olhos começam a abrir lentamente.


"shhh.... o-o-olá." disse-lhe. Ela arregála os olhos e levanta-se rapidamente.


"A... a menina consegue falar!" diz espantada. Faço um movimento com a mão em sinal de "mais ou menos".


"Eu que-que-quero um mp3."


"É claro. Tudo que quiser."


 Ela levanta-se e anda até ao telefone mais próximo, na sala de estar, onde as visitas estão com os pacientes. Lá encontra-se uma enfermeira, a que esteve comigo, quando a enfermeira May esteve a tratar do caso da irmã de Brownie. May ligou para alguém e pediu "um mp3 de emergência". Depois de alguns "sim", "só?!", "não", May olha para mim e sorri.


 "Não deve demorar muito até o seu mp3 estar aqui. Mas porque é que precisa dele?" como sempre virei costas. Dei dois ou três passos, mas parei, depois de me lembrar que eu de facto precisava de treinar a minha linguagem. Voltei atrás e posicionei-me à frente da enfermeira que agora me olhava um bocado desconfiada.


 "Mú-música ajuda a..." parei para pensar na palavra que me tinha escapado. Ainda sem me lembrar May decide tentar descobrir a palavra que me falta.


 "Descobrir?" aceno negativamente. "Treinar?" aceno mais uma vez negativamente. "Corrigir?" isso! Era isso.


 "Sim. Música a-ajuda a corrigir os me-meus e-erros." sorriu pela minha frase bem contruida e quase totalmente precetível.


 Viro costas e ando até ao meu quarto. Deito-me na cama com as pernas encostadas à parede branca. Talvez eu devesse pintar estas paredes. São tão chatas e monótonas... Se calhar azul ficava bem, ou preto. Também quero fotografias e coisas assim para colar nas paredes e recodar-me de pequenas partes da minha vida que até nem são muito más.


"Menina Sherwood?!" a porta do meu quarto abre, interrompendo oos meus pensamentos. "Aqui tem o seu mp3."  Ela poisa a caixa na minha cama, um bocado a medo. "O menino Brownie chegou há pouco tempo. Não deve faltar muito para perguntar por si. Posso dizer-lhe que está aqui?"


 Apesar de estar agora a pensar na minha vida e não querer que ele aqui esteja a fazer perguntas às quais não obterá respostas, acenei positivamente com a cabeça. Preciso de passar músicas para o mp3 e não consigo fazê-lo. Também duvido que May consiga.


"Posso dizer-lhe que está a aprender a... hum... falar?" ela agarra o pulso da outra mão um pouco a baixo da barriga. Levanto-me um bocado bruscamente.


 "Não! Va-vai ser uma sur-surpresa."  ela assente, como se compreendesse e sai do quarto, sem dizer mais nada.


 Deito-me outra vez na cama e abro a caixa. As pequenas placas de esferovite protegem o eletrónico. Desembrulho o mp3 do último plástico que o rodeia e tiro também o manual de instruções. Trato de descobrir o botão de ligar. Canto superior direito.


 "Truz, truz..." a voz inconfundível de Brownie soa à medida que a porta se abre, dando um pouco mais de luminosidade ao meu quarto. Eu apenas sorrio ao rapaz que entra no meu quarto. "Woww... tens aí uma máquina do tempo!" ele ironiza a voz. "Pensava que eras uma pessoa mais do tipo de telegramas."   ele ri, mas quando vê que eu não riu pára, o que me faz rir.


"Então... gostas deste tipo de música?" Ele pergunta ao por uma música no telemóvel dele. "É Country." Ele informa-me. A música até é divertida, mas não gosto muito dela. Abano a cabeça negativamente. "Okay, next!" ele põe a tocar uma música que era só com instrumentos. Parecia bonita. "É música clássica." faço uma cara de enjoada e ele percebe que eu não sou grande fã da música.


(...)


 Depois de me mostrar imensas músicas das quais poucas me lembro do nome, ele, também já saturado de estar ali a ouvir 40 segundos de cada música, passa outra música. "Isto é trip rock."  Começava com uma batida rápida e por volta dos 20 segundos começava uma música tipo de coro. Deixei continuar pois até me estava a divertir a ouvir as músicas daquela banda. Começo a movimentar-me ao som da música.


Brownie olhar para mim há espera que eu lhe diga que não ou lhe mande um ar de enjoada, porque é isso que eu faço. Eu, para variar, sorrio-lhe. A  música tinha um rap, dos quais eu não gosto nada, mas que ficava bem na música.

"Gostas desta? Queres passar esta para o teu mp3?" eu acinto positivamente.








silence ➳ fictional storyOnde histórias criam vida. Descubra agora