3. HOTEL YPIRANGA

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Escrito por Marcio Vinicius

Era fim de tarde.


Estela caminhava pelo hall do imponente Hotel Ypiranga. A cada passo em direção a porta dupla de entrada do hotel, os sapatos produziam um som característico ao entrar em contato com o piso de madeira.

De repente parou e observou por alguns instantes uma fotografia localizada em uma das paredes. Esta exibia a figura de um homem e fora pintada à mão, seguindo uma técnica antiga. Achava aquela pintura muito bonita, apesar de alguns hóspedes e funcionários
confessarem que sentiam arrepios ao olhar a imagem.

Não era nenhuma novidade para Estela. Estava acostumada com esses comentários.

A mulher era a proprietária atual da fazenda Ypiranga, onde se localizava o
imponente hotel datado da década de 40, a cerca de 20 minutos do centro da cidade.

Anteriormente o Hotel Ypiranga foi um local famoso na região e atraía todo tipo de público. Não era o mais econômico, nem o mais conveniente, mas certamente era um dos mais célebres.

Chegou na porta dupla de entrada e a atravessou, parando debaixo da marquise. Olhou para o céu e percebeu que enormes nuvens acinzentadas avançavam sob a cidade.

Justamente hoje essa tempestade vai acontecer, parece até ironia... — Pensou e no seu íntimo, seu coração apertou. Contudo, logo deixou essa intuição de lado.

Talvez estivesse sendo sugestionada por Duarte, que ao receber o pedido de Estela ficou ressabiado, mas aceitou em seguida mesmo com avisos direcionados à mulher. O dia de 13 de novembro não era uma data qualquer e seria um marco naquele ano, pois completariam-se trinta anos de horror. Entretanto, nos anos anteriores nada aconteceu. Estava tudo sob controle.

Para ela, a tragédia do passado não era o maior problema e sim a decadência e o
ostracismo do que um dia fora um glamouroso local de hospedagem. Ela fazia o possível para manter o prédio em funcionamento, mas os gastos estavam suplantando os lucros que ganhava com as reservas. A falência era um fantasma que rondava Estela a todo momento.

Se ao menos os órgãos públicos agilizassem o processo de tombamento...

Estela sentiu a leve brisa do fim de tarde da primavera balançar seus cabelos loiros. Encarou a imensidão verdejante à sua frente, entre planícies e morros até onde sua vista alcançava. Respirou fundo, observando o pôr-do-sol.


Ela sabia que seria uma longa e taciturna noite. O passado continuaria a ser uma constante companhia para na passagem do tempo dentro do hotel Ypiranga. Contudo, nem todas as memórias traumáticas estavam enterradas.

Entre o limiar da vida e da morte e fadado a viver em uma eterna maldição, alguém constantemente a observava.

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𝚃𝚑𝚎 𝚆𝚒𝚌𝚔𝚎𝚍 𝚃𝚊𝚕𝚎𝚜
𝙲𝚘𝚗𝚝𝚘 𝟹
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ℍ𝕠𝕥𝕖𝕝 𝕐𝕡𝕚𝕣𝕒𝕟𝕘𝕒

The Wicked TalesOnde histórias criam vida. Descubra agora