35. MIDNIGHT PASSENGER

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Escrito por Lucas Pinheiro

ATO 1: FRACASSO

Quando fechava os olhos, ainda conseguia sentir os lábios dela nos seus. Faris queria sonhar para sempre, pois quando a visão voltava e se deparava com a realidade de não mais tê-la, questionava o sentido de sua existência.

 Faris queria sonhar para sempre, pois quando a visão voltava e se deparava com a realidade de não mais tê-la, questionava o sentido de sua existência

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As lembranças, a dor, a vergonha, tudo ainda estava lá, na mesma intensidade, assim como a nítida visão que o atormentava a cada instante. Um dia seria pouco para apagar de sua memória, mas ele não sabia até onde suportaria aquela tortura.

— Não deveria sofrer por ela assim, seu idiota. — Não reconheceu a própria imagem diante do espelho manchado. Uma imagem pela qual lutou tantos anos para ter, mesmo quando ainda estava preso em um corpo que não era seu e agora, após a longa transição, finalmente externar um lindo homem, um homem que refletia sua alma. Agora olhava para ele e sentia apenas vergonha.

Cuspiu, observando o líquido espesso transparente sujar ainda mais o vidro.

— Ela te traiu, te rejeitou. Ela não merece nenhuma lágrima.

Enfurecido por ainda pensar nela com afeto, Faris fugiu do próprio reflexo. Queria odiá-la. Queria transformar a vergonha e o amor em ódio. Nora manchou a própria cama, na qual dividiram tantos momentos inesquecíveis, nos braços de outro. Mas por mais que tentasse e por mais que a visão do doloroso flagra ainda estivesse presente, não conseguia deixar de amá-la.

A parte vazia do armário era uma das incontáveis lembranças físicas do seu maior fracasso. Todas as roupas de Nora estavam em sacos plásticos na portaria do prédio e, apesar de concluir rapidamente a missão de se livrar de cada item seu, tudo naquele apartamento lembrava dela. Faris surtaria se passasse mais uma hora ali. Precisava sair, ao menos por aquela noite.

Atentou-se para os frascos vazios e voltou para o espelho, tentando fazer as pazes consigo mesmo. Resolveu olhar para a parte que mais gostava. As cicatrizes ainda estavam lá, porém cada vez mais sutis, como dois pequenos sorrisos na altura do diafragma. Faris as amava mais que tudo e queria que elas nunca sumissem. Sabia bem o quanto elas revelavam da sua história, história que viveu ao lado de Nora, mas que agora precisava aprender a viver sozinho.

Enquanto ajustava o Binder sobre as cicatrizes, envolvendo o peito peludo de uma forma mais apertada que o habitual, abriu as mensagens mais recentes. Tomou a chave do automóvel nas mãos enquanto reproduzia o áudio de Amir.

Soube que você bloqueou a Nora... — Um silêncio constrangedor revelava alguém que calculava o que diria. — Cara, eu sou amigo dos dois. Você entende a situação delicada que eu estou agora? Ela veio falar comigo. Está desesperada e arrependida. Ela ainda te ama, Faris. Eu sei que não é fácil, mas pensa bem se vale a pena jogar oito anos fora por causa de um erro. A Nora...

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