4. VENUS

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Escrito por P. W. Oliveira

A água da banheira tinha cor de leite. Com o corpo mergulhado e a cabeça parcialmente submersa, restando seu rosto para fora, fechou os olhos e deixou que os sais de banho fizessem o trabalho. Perfumado de flores silvestres, o banheiro ganhou uma fragrância delirante, capaz de preencher jardins inteiros e causar enjoos em crianças.

Holly deslizou a mão pálida no líquido que a abraçava, afundando os dedos delgados entre as pétalas flutuantes. Aquele era um dos seus momentos preferidos, quando podia relaxar completamente antes do encontro anual com as mulheres que deveriam acompanhá-la em uma noite de reencontros, afeto e união.

— Holly? — A voz apontou da porta.

— Entre.

— Estou atrapalhando? — Adentrou no cômodo, trazendo consigo um roupão e um sorriso contemplativo. Pendurou a veste em um suporte, observando a mulher de longos cabelos ruivos erguer o corpo da água.

— Você nunca me atrapalha, Jorja.

Holly não se importou com seu busto nu à mostra, procurando apoiar as mãos nas laterais da banheira e alcançar uma pequena toalha de rosto.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou ao pressionar a toalha contra as bochechas. — Parece que comeram sua língua. — Sorriu.

— Não, querida, imagina. — Jorja corou. Repousou as mãos dentro do bolso do macacão branco de tecido leve que usava. O caimento da roupa em seu corpo largo era perfeito, dando-lhe vislumbres de uma vida espiritualizada. — Talvez eu tenha meditado demais.

— Fez bem, minha amiga. E antes que me esqueça... — Holly esticou o braço, esperando que Jorja fizesse o mesmo. As palmas das mãos tocaram-se. — Muito obrigada por aceitar vir com antecedência para me ajudar com os preparativos. Você é uma joia.

— Pode parar. Não fiz um favor, eu gosto de ser útil e sabe o quanto quis ver os cristais de perto. — Interpelou. — Nunca pensei que pudesse existir um lugar como esse e quando você compartilhou o seu recanto com a gente, fiquei tão empolgada! Foi uma boa ideia a escolha do local ter caído nas suas mãos esse ano.

— Acha que eu decepcionaria minhas amigas? Vocês merecem.

— Nós merecemos. — Jorja piscou assim que chegou até a porta. — Ia te avisar que as garotas estão chegando. Elas querem aproveitar o pôr-do-sol no mirante. E, caso não vá recepcioná-las com seus belos atributos físicos de fora, eu diria para se apressar. — Arqueou as sobrancelhas.

Holly riu.

— Jorja, uma última coisa.

— Pode falar.

— Ela confirmou?

— Se estiver falando da Avory, — acenou positivamente — ela está vindo.

Holly assentiu, vendo-a fechar a porta.

Após a notícia da chegada de Avory para se juntar ao grupo, pôde se aliviar. A cada reunião, elas tinham a missão de agregar um novo membro, sendo esta, uma tarefa para a anfitriã da vez. Seu propósito com o encontro era dar àquelas mulheres a oportunidade de viver uma noite transcendental, longe da realidade massante, dos problemas e de tudo que afetasse suas existências. Ao todo, somavam-se cinco anos.

Holly lembrou do mantra que aprendeu e encarou os dizeres na tatuagem discreta no alto da coxa:

"Filha de Vênus, de corpo sagrado e alma limpa".

X-X-X

O sol se punha no horizonte rochoso e risadas acaloradas preenchiam a natureza. Abraçadas sobre uma toalha de piquenique e degustando de tortilhas, cortesia de Jorja, o grupo via a esfera flamejante e incandescente ser engolida pelas montanhas distantes. O céu tinha um toque sutil de fúcsia, transformando o cenário no momento perfeito para uma canção.

The Wicked TalesOnde histórias criam vida. Descubra agora