37. THE ART OF HIDING A DEAD BODY

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Escrito por Vinicius Camargo

De certa maneira, sou um servidor público dos metamorfos

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De certa maneira, sou um servidor público dos metamorfos. Nós, metamorfos, ainda vivemos em segredo (mais ou menos), ocultos pela ignorância alheia e pelo tecido do absurdo que costura o universo das teorias conspiratórias: ninguém chutaria que a Rainha Elizabeth era uma metamorfa quando as teorias dela sendo uma reptiliana são muito mais interessantes. Mas metamorfos existem, e reptilianos... fica pra próxima.

Fui selecionado para esse cargo por outros de minha espécie, da mesma maneira que outros metamorfos foram posicionados em cargos específicos na saúde e na educação: seja para ajudar a identificar novos metamorfos que não sabem o que são e que precisam de assistência; seja entender suas necessidades, ou apenas posicioná-los no jogo cabalístico de gato e rato que é ser um metamorfo.

Fui colocado no Departamento de Denúncias Anônimas com Quinn há quatro anos. Quaisquer aberrações envolvendo transformações são encaminhadas para nosso setor, e tratamos de desmentir as histórias e fornecer respostas que encaixem na mente dos "normais" (que é como nos referimos a não-metamorfos, parece ofensivo para nós, mas na verdade é nosso charme).

Pigarreio e tento retomar o rumo da conversa no telefone:

— Deixa eu entender: a senhora tá dizendo que viu o seu vizinho se transformando numa morena alta? É isso mesmo?

— Vi com meus próprios olhos, Policial. Deus sabe o que eu vi. Vocês precisam investigar aquele senhor...

— Não sou policial, senhora... Mas como já disse: muitos homens se vestem de mulher também. A senhora não parou pra refletir se seu vizinho não pode ser drag queen?

Como?

— Drag Queen, senhora. Uma pessoa, geralmente do sexo masculino, que se veste de mulher. Senhora, é 2024!

— Sei o que é Drag Queen! Mas ele se transformou... na minha frente.

— Ele se transformou em Drag Queen na casa da senhora?

— Não... Ele tava no quintal da casa dele...

— Se ele não tava na casa da senhora, então por que a senhora tá ligando?

— Vocês precisam investigar...

— Nós vamos é investigar a senhora que fica de olho na casa dos vizinhos! Deixa o homem ter privacidade! Com todo o respeito, a senhora é uma stalker, isso sim. Sabe quantos anos isso tá dando de cadeia?

Não...

— Então me dá uns segundos que vou dar um Google.

Eu...

— Seis anos, senhora, seis anos! Passar bem!

Desligo o telefone. Quincy parou o trabalho para acompanhar o atendimento.

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