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Katharine

Fiquei do outro lado da rua do prédio do sr. Van Ryan, olhando para a estrutura alta. Era intimidador e emanava riqueza — todo vidro e concreto pintado agigantavam-se sobre a cidade, lembrando-me do homem que morava lá. Frio, distante, inalcançável. Estremeci um pouco ao olhar para ele, imaginando por que estaria ali.

O prédio se encontrava a aproximadamente dez minutos de caminhada da minha casa, e eu cheguei na hora certa. Não foi uma boa visita com Penny hoje; ela estava chateada e agitada, recusando-se a comer ou conversar comigo, e acabei saindo mais cedo. Fiquei decepcionada.

Ela ficara bem a semana toda, e eu esperava que hoje fosse do mesmo jeito; que eu conseguiria conversar conforme de costume, mas não foi o que aconteceu. Em vez disso, o dia só ficou mais estressante e esquisito. Saí de casa me sentindo desanimada, e em dúvida do motivo de eu estar indo encontrar o sr. Van Ryan.

Sr. Van Ryan.

Ele já havia me confundido pedindo para ir à casa dele naquela noite. Seu comportamento no restante da tarde provava que estava igualmente bizarro. Quando ele voltou de sua reunião, pediu outro café e um sanduíche.

Me pediu!

Não mandou, não foi sarcástico ou bateu a porta.

Em vez disso, parou em frente à minha mesa e pediu o almoço com educação. Ele até disse "obrigado". De novo. Não saiu de seu escritório o resto do dia até ir embora, quando parou, perguntando se eu tinha o cartão dele. Quando murmurei que sim, ele assentiu, agradecendo, e saiu, sem bater a porta.

Eu estava mais do que confusa, nervos à flor da pele e com o estômago revirado. Não fazia ideia do que estava fazendo na casa dele, muito menos do por quê.

Inspirei fundo para me acalmar. Havia apenas uma forma de descobrir. Endireitei meus ombros e atravessei a rua.

O sr. Van Ryan abriu a porta e eu tentei não encará-lo. Nunca o havia visto tão casual. Não vestia o terno de alfaiataria e a camisa branca de que tanto gostava. Em vez disso, ele estava vestindo uma camiseta térmica de manga comprida e jeans, e estava descalço. Por algum motivo, eu queria rir de seus dedos do pé compridos, mas contive essa reação esquisita. Ele indicou para que eu entrasse e recuou, deixando-me passar. Ele pegou meu casaco e nós ficamos parados olhando um para o outro. Eu nunca o havia visto desconfortável. Ele segurou sua nuca, limpando a garganta.

— Estou jantando. Gostaria de me acompanhar?

— Estou bem — menti. Estava morrendo de fome. Ele fez uma careta.

— Duvido.

— Como é?

— Você está muito magra. Precisa comer mais.

Antes de eu conseguir falar alguma coisa, ele pegou meu cotovelo e me guiou para o balcão alto que separava a cozinha da sala de estar.

— Sente-se — ele ordenou, apontando para os banquinhos altos acolchoados.

Sabendo que era melhor não discutir com ele, eu o fiz. Conforme ele entrou na cozinha, olhei em volta para o espaço aberto enorme. Piso de madeira escura, dois sofás grandes de cor chocolate e as paredes brancas destacavam a imensidão do cômodo. As paredes não eram decoradas, com exceção da TV gigante pendurada acima da lareira — sem fotos pessoais ou enfeites.

Até a mobília estava vazia — sem almofadas ou cobertor jogado em algum lugar. Apesar da grandeza do lugar, era frio e impessoal. Como o estúdio de uma revista, bem decorado e primitivo, sem nada que indicasse o homem que morava ali. Vislumbrei o corredor comprido e um lance de escadas chiques que presumi levarem aos quartos. Voltei o olhar para a cozinha — o estilo era parecido, uma mistura de escuro e claro, e livre de toques pessoais.

o contratoWhere stories live. Discover now