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Katharine

Tive dificuldade de novo para dormir, então andei na ponta dos pés pelo corredor, abrindo a porta de Richard. Naquela noite, ele estava de bruços, abraçado com o travesseiro com um braço e o outro estava pendurado na cama gigante. Ele ainda estava roncando — um barulho baixo e rouco que eu precisava ouvir.

Analisei o rosto dele na luz da lua. Contornei meus lábios com o dedo, ainda chocada por ele ter me beijado, me segurado nos braços e dançado comigo. Eu sabia que tudo fazia parte de um grande plano, mas havia momentos, vislumbres, de um homem diferente a que eu estava acostumada a ver. O flash de um sorriso, um brilho em seu olho, até uma palavra gentil — tudo isso me pegou desprevenida naquela noite.

Queria que ele deixasse mais vezes essa sua característica aparecer, mas ele guardava seus sentimentos — os positivos — com chave. Eu já tinha percebido isso. Sabia que, se dissesse alguma coisa, ele se trancaria ainda mais. Então, permaneci em silêncio, pelo menos por ora. Tinha de admitir, no entanto, que beijá-lo não foi nada ruim. Considerando o veneno que sua boca podia produzir, seus lábios eram quentes, macios e carnudos, e seu toque era gentil.

Ele resmungou e se virou, levando os cobertores com ele, seu tórax comprido e esguio agora ficara exposto. Engoli, parcialmente me sentindo culpada por encará-lo, parcialmente maravilhada. Ele era um homem lindo — pelo menos por fora. Ele murmurou alguma coisa incoerente, e eu recuei, saindo da porta, voltando para meu quarto.

Ele ficou um pouco mais feliz naquela noite, mas duvido que reagiria bem se me visse encarando-o enquanto ele dormia.

Ainda assim, seus roncos baixinhos me levaram para um sono tranquilo.

Saí cedo e fui visitar Penny. Ela estava bem acordada e com bom humor. Ela me reconheceu, espremeu meu nariz e nós conversamos e rimos até ela cair no sono. Bebi meu café enquanto ela dormia, olhando alguns dos quadros que ela estava pintando. Escolhi um que estava gostando particularmente de algumas flores selvagens, e o estava admirando quando ela se agitou. Ela me observou, depois virou sua cadeira e apontou para a pintura.

— Gosto deste. — Sorri. — Me lembra de quando saíamos para colher flores no verão.

Ela assentiu, parecendo distraída.

— Vai ter de perguntar à minha filha se está à venda. Não sei onde ela está.

Minha respiração parou na garganta. Ela havia desaparecido de novo. Os instantes de lucidez estavam ficando cada vez mais raros, e eu sabia que era melhor não chateá-la.

— Talvez eu possa pegá-lo e tentar encontrá-la.

Ela pegou o pincel, virando-se para seu cavalete.

— Pode tentar. Ela deve estar na escola. Minha Katy é uma menina ocupada.

— Obrigada pelo seu tempo, sra. Johnson.

Ela apontou para a porta, me dispensando. Saí do quarto, agarrada à pintura, sufocando as lágrimas. Ela não me reconhecia, mas, lá no fundo do coração, ela ainda pensava em mim como sua filha. Da mesma forma que eu pensava nela como minha família.

Era um lembrete do motivo pelo qual estava fazendo aquilo com Richard. Fingindo ser quem eu não era.

Era por ela.

Sequei meus olhos e voltei para o apartamento.
Quando abri a porta, Richard me recebeu com uma cara feia.

— Onde você estava? Tem compromisso!

Inspirei fundo e contei até dez.

— Bom dia para você também, Richard. São só dez horas. Meu compromisso é às onze. Tenho muito tempo.

o contratoWhere stories live. Discover now