Capitulo 6

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Má ideia. Má ideia. Péssima ideia. Pensou Miguel, atravessando o corredor silencioso ao lado de Max. Isso é o que minha mãe chamaria de Plano M.

— Viu? Eu disse que iria funcionar. — disse Max, entre o eco de seus sapatos contra o chão.

Miguel olhou a própria camisa.

— Funcionar? Olha só o que você fez comigo, eu to nojento!

— É o preço que nós tínhamos que pagar.

— Nós? — protestou Miguel. — Não vejo você coberto de resto de comida.

— Exato, mas fui eu quem teve de atuar, não foi? — justificou Max — Cumprimos com nossas partes do plano, deu tudo certo.

— Um péssimo plano. Se tivesse me contado antes, poderíamos ter pensado em algo...

— Se eu tivesse dito, você iria desistir. Agora, a segunda parte do plano é: não faça barulho.

O infeliz plano de Max foi guardar alguns biscoitos de água e sal após o intervalo. Miguel olhou para ele confuso enquanto Max jogava os biscoitos dentro do bolso de seu jeans.

— O que tá fazendo? Sabe que não pode levar comida para a sala de aula.

— Isso não é comida. — disse Max — É nosso plano de fuga.

Dito isto, Max não respondeu a nenhuma outra pergunta que Miguel fez. Caminharam até a sala de aula, que estava razoavelmente cheia para uma tarde de segunda, sentaram-se em carteiras vizinhas, debaixo do ventilador de teto que rangia mais do que soprava o vento. Ana, a professora de Matemática entrou na sala, saudou os alunos, Miguel jogou o caderno por cima da mesa e buscou as canetas, então Max tirou os biscoitos quebrados do bolso e jogou dentro da boca.

Miguel lançou-lhe um olhar inquisidor. Max fez uma cara torta, como um sorriso desesperado, coberto por farelos de biscoito e Miguel nunca soube bem o que aquilo queria dizer. No momento seguinte, Max abriu sua garrafa e jogou água para dentro da boca, Miguel franziu o cenho porque aquilo já começava a ficar nojento de se assistir, mas não teve tempo de desviar os olhos de Max, porque antes ele cuspiu tudo para cima de Miguel.

Miguel ficou parado e boquiaberto, encarando a própria camisa coberta de água, saliva e biscoitos de água e sal mastigados. Ele olhou para Max, que fingia estar engasgado com um som superficial de enjoo contínuo. A turma inteira estava virada para os dois, Miguel encontrou Z, que o encarava cobrindo a boca com a palma da mão.

Miguel sabia bem o que fazer.

— Professora — disse ele, ficando de pé — Max vomitou em mim! Precisamos ir ao banheiro, porque eu preciso me limpar e Max esta... — Virou-se para Max, apoiado com as mãos nos joelhos, se espremendo para fingir alguns engasgos. — ... assim.

— Que nojo! — gritou Duda, amiga de Z.

— Tirem eles daqui — disse Daisy, que sentava nos fundos da sala. — Acho que vou vomitar também!

Por fim, Ana até abriu a porta para que saíssem da sala, tinha um olhar enojado por trás dos óculos redondos. Agora Miguel já tinha passado direto pelo banheiro masculino — onde deveria estar se limpando — e continuava enojado, porque agora o biscoito mastigado estava seco e voltava a ser sólido, grudado em sua camisa.

— É esse. — disse Max, apontando para o armário de número 309.

— Tem certeza? — perguntou Miguel, se aproximando.

— Tenho, porque, ao contrário de você que esteve olhando para aquela ruiva o dia inteiro, eu o vi abrindo esse armário aqui pra tirar o livro de inglês, que é a aula que ele está assistindo agora.

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