Capitulo 13

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A Blockbuster era gigantesca. Miguel tinha a impressão de que, como o bosque do Soturno, a vídeo-locadora era ainda maior por dentro do que se tem noção vendo de fora. O teto era alto e tinha um azulejo branco e refletivo, garantindo que as centenas de cores por todos os lados também estivessem a vista quando os clientes olhassem para cima.

Miguel inclinou a cabeça e notou seu reflexo borrado lá em cima, enquanto passava pela recepção, onde havia uma garota e um rapaz, usando uniforme azul e boné amarelo, atendendo roboticamente os clientes.

— Uma hora no computador — disse Max, deslizando uma moeda de cinquenta centavos sobre o balcão.

O atendente com rosto em formato de meia-lua acompanhou enquanto a moeda se aproximava; os cantos de seus lábios estavam escorridos para baixo. Miguel observou o crachá do rapaz, onde ele não usava o boné amarelo, revelando uma careca lustrosa e pontuda no alto da cabeça. O nome dele era Leonardo e, mesmo na foto, ele parecia tão infeliz quanto agora.

— Cinquenta centavos são apenas trinta minutos — disse ele, com puro desdém.

Max revirou os olhos.

— Miguel, me dá cinquenta centavos — disse ele.

Miguel verificou os bolsos, por mais que tivesse certeza de que estavam vazios.

— Eu não trouxe nada. Não pensei que iria precisar de dinheiro. Deveria ter me falado antes de...

— Que seja — interrompeu Max — Pega só os cinquenta centavos então.

Leo catou a moeda do balcão e apontou para os fundos da loja.

— Os computadores ficam lá atrás,  podem usar o 3-B. — disse Leo, depois fez questão de acrescentar:  — Trinta minutos!

— Eu escutei bem da primeira vez — disse Max, virando as costas para o atendente.

Max caminhou em disparada para os fundos da loja.

— Ei, espera aí! — disse Miguel, apressando os passos na direção de Max, que já se encontrava a dois metros de distância. — O que viemos fazer aqui?

Miguel não estava confuso sem motivos, Max apenas ligou para ele às oito da manhã. Miguel ignorou a primeira ligação, na segunda já tinha perdido o sono, mas quando o celular voltou a tocar pela terceira vez, Miguel saltou da cama e atendeu a ligação de Max com o mal humor de quem não dormia há dias.

— Você não deve ter percebido, mas hoje é domingo! — grasnou Miguel, ao telefone. — Eu planejava dormir até mais tarde, sabia?

— Não vai rolar. Se veste e me encontra daqui a meia hora na frente da Vídeo-Locadora.

— O quê? Por quê?

— Eu preciso te mostrar uma coisa. — disse Max — Não dá pra explicar agora. E também não dava pra te esperar acordar. Vamos logo, levante da cama e se vista!

— Eu estou fora da cama...

— E tome um banho. Está com um cheiro horrivel. — disse Max, antes de encerrar a ligação na cara de Miguel.

Só pode estar de sacanagem, suspirou Miguel, logo antes de abrir o guarda-roupas e catar uma camisa preta. Vinte minutos mais tarde, estava na frente da Blockbuster que inaugurou no início do ano.

Era um enorme bloco metalizado, retangular como uma caixa de sapatos; alto como uma casa de dois andares e longo como uma quadra de esportes. À frente da vídeo-locadora, havia grandes janelas de vidro fumê, mal dava ver o que se passava lá dentro, a não ser quando as portas automáticas se abriam e fechavam, deslizando confortavelmente de um lado para o outro, abrindo caminho para crianças sorridentes e pais desgastados. Acima das portas automáticas havia um letreiro com enormes fontes de forma, brilhantes em leds vermelhos, mesmo durante o dia. Blockbuster era o nome, por mais que todo e qualquer morador de rosário a chamasse apenas pelo seu interesse, podendo alternar entre fliperama, sinuca,  lan house ou, a mais usada, locadora.

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