Capítulo 6 - Afinidade

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As duas estavam paradas do lado de fora do estádio enquanto Angelica esperava pela limousine que a levaria de volta para casa. Claro que ela havia passado, ora essa, treinou a vida inteira para aquilo. Mas o último teste ainda martelava um pouco em sua cabeça.

- O que você acha que era aquele negócio, hein? - ela pergunta para Kuldra, que estava ali por educação. Pelo visto elas eram duplas agora, coisa que nenhuma das duas tinham conhecimento até as médicas as informarem – Algum reagente químico? Uma superarma? Porra, meu braço ainda tá ardendo!

Kuldra deu de ombros.

- Aff, sério que me botaram com uma muda? Puta que pariu, era só o que faltava... Pelo menos espero que esses teus músculos compensem, grandona! Se você me atrasar eu me livro de você, ok?

Dessa vez Kuldra não deu de ombros, apenas respirou fundo. Sua dupla parecia ser uma pessoa difícil apesar da aparência fofa.

-/-/-

Quando ela chegou no quarto indicado, tomou um leve susto com a cena. Angelica segurava uma escova de cabelo e cantava em alto e bom som a letra de um hip-hop obsceno que tocava em seu celular, sem nenhuma vergonha do que as letras diziam. Não que Kuldra fosse uma pessoa pudica, mas essa era uma cena que ela não acreditaria se alguém dissesse que era verdade...

Bem, pelo menos até agora.

Ela entrou no quarto e Angelica largou a escova na cama, a encarando.

- Finalmente! Você demorou pra chegar! Era pra estar aqui umas duas horas mais cedo! - e a baixinha bufou - Espero de verdade que você não me atrase, sua... Qual seu nome mesmo? É verdade, você é muda! Cacete!

Mais uma vez, Kuldra suspirou e foi guardar suas coisas no armário deixado pra ela. Era um quarto consideravelmente grande, bem melhor do que o que ela vivia antes. Tinham duas camas de solteiro, dois armários, duas mesinhas de cabeceira, duas mesas e cadeiras para estudo ou leituras e uma TV. Também tinha um banheiro para cada dupla, claro.

- Eu vou ter de aprender linguagem de sinais pra falar contigo? - Angelica perguntou, suspirando. Kuldra só deu de ombros - Ótimo...

- Kuldra. Meu nome é Kuldra N'Kosi. - a grandona respondeu enquanto terminava de organizar suas coisas. Angelica quase tomou um susto com aquele vozeirão – E meu ônibus quebrou no meio do caminho. Desculpa.

- Você fala! - então ela pareceu ficar puta - Por que não me respondeu no outro dia, hein?

- Eu não sabia o que era aquilo. Não faria muita diferença se eu falasse ou não.

Angelica suspirou.

- Ok, grandona... o negócio é o seguinte: Deu pra ver no teste que você é forte, então ou você me ajuda a ser a melhor soldado que esse lugar já viu ou eu te troco por outra, beleza?

Kuldra respirou fundo e fez que sim com a cabeça.

- Sério que vai ficar só acenando com a cabeça, porra? Ugh...

Mais uma vez, Kuldra suspirou. Sua dupla, com certeza, era uma pessoa difícil.

-/-/-

Já era tarde quando a enfermeira surgiu no quarto de Daniela, sendo séria, curta e grossa como sempre. Parecia que todas as veteranas eram assim.

- Está liberada. Pode voltar ao seu quarto. - ela disse enquanto assinava alguns papéis e conferia se tudo estava certo.

- Sério? - Dani nem conseguia acreditar. Passou tanto tempo ali que achou que viraria uma só com a maca ou coisa do tipo. A enfermeira fez que sim com a cabeça enquanto virava de costas pra fazer alguma coisa. "É a mesma do outro dia,", Daniela pensou, "aquela que parecia ter alguma coisa se mexendo por baixo do jaleco."

I.N.D.Onde histórias criam vida. Descubra agora