Capítulo 2 - Cadetes

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Daniela sabia que o horário que o despertador tocava era às cinco da manhã, por isso ela já estava de pé, com a farda alinhada e os coturnos brilhando meia hora antes. Sendo sincera, despertador era um apelido carinhoso para aquela sirene horrenda que parecia um grito grave vindo direto das profundezas do inferno, e saber que teria que ouvir aquele som todo dia era meio... Err... Preocupante para seus tímpanos.

Mas só pra ter certeza de que estava tudo perfeitamente alinhado, ela parou novamente na frente do espelho do banheiro e ajeitou o cabelo avermelhado mais uma vez. O corte de cabelo estava novinho em folha, feito especialmente para a ocasião, e ela até foi num salão invés de cortar sozinha em casa como costumava fazer, pois sabia que era importante passar uma boa primeira impressão para a general Salvatierra. Passou mais um pouquinho de desodorante, arregalou os olhos castanhos pra ver se não tinha nenhuma remela por perto, conferiu o sorriso (muito bonito, por sinal) e ao ver o reflexo branquelo lhe encarando pelo espelho, quase se cagou nas calças.

- Mas que... Susto! - ela se virou rapidamente e saiu do banheiro, meio irritada por quase ter infartado logo tão cedo - Você sempre encara as pessoas assim, porra?

- Bom dia pra você também. - Vivien falou não muito alto enquanto se levantava, pegava suas coisas e andava pro banheiro. Não era a pessoa mais amigável do universo. Não tentava ser. E Daniela sabia claramente o motivo...

Ela era rica.

"Sim, mãe, eu passei!" ela dizia no celular, animada "Mas não sei porque me botaram junto de uma riquinha de nariz em pé... Eu nem tava ligada que a gente era obrigada a trabalhar em duplas, a general tá sempre sozinha! É, mãe, duplas... Pensa numa mulher rica branquela daqueles comerciais, é tipo ela. Hã? Não, mãe, isso não é ser racista, é reparação histórica! Agora eu vou desligar, tá? A gente se fala depois! Também te amo, mãe!"

Essa conversa de Dani com a mãe foi o tempo que Vivien precisava para se arrumar e sair do banheiro. A pele branca estava levemente pálida e dava motivos pra Daniela ter se assustado antes. Os olhos eram de um azul-claro, meio opacos. Seus longos cabelos loiros estavam devidamente penteados e soltos, com apenas duas mechas separadas e presas pra trás, formando um arco levemente ondulado. Os lábios rosados se abriram levemente, como se sua dona quisesse dizer algo mas desistisse no meio do caminho.

E mesmo se ela dissesse algo, a sirene ensurdecedora não deixaria sua colega de quarto ouvir.

- Vamos, vamos logo! Não quero chegar atrasada pro café, já éramos pra estar no refeitório! - Dani comenta, saindo do quarto bem animada.

Era meio doido acreditar que havia passado. A farda preta com um risco do pentagrama bordado em seu braço lhe servia tão bem! Lhe dava um ar sério, imponente, confiável! E não bastasse isso, ela ajudaria a manter o mundo seguro!

E claro, não bastasse só isso, ela ajudaria sua mãe a manter sua família em boas condições!

Ela queria pular de alegria! Talvez ela desse um pulinho...

- Novata. - alguém pigarreou e ela ajeitou a postura na hora, entrando na fila pro café da manhã. Vivien entrou logo atrás. Elas pegaram suas comidas e foram pra mesa.

- Não sei porque está tão animada. - ela comentou, bebendo um pouco do suco de laranja e comendo uma maçã. Era sério? Como ela enfrentaria demônios comendo só aquilo? Dani sentiu-se levemente ofendida. Parecia que sua dupla não estava levando o trabalho a sério.

- Não sabe? Não sabe? - e Daniela dá uma mordida potente no pão com presunto, bebe um gole de café e manda três colheradas de ovo mexido pra dentro em questão de segundos - Nós entramos na porra do IND! Somos cadetes e logo vamos estar rasgando demônios como se fosse manteiga! É por nossa causa que as pessoas continuarão seguras!

I.N.D.Onde histórias criam vida. Descubra agora