Capítulo 36 - Divino

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Nenhuma palavra saía da boca de Vivien. Seus lábios pareciam secos, como se ela tivesse caminhado uma semana inteira no deserto, e o olhar "amigável" de sua mãe se tornava mais e mais descontente conforme os segundos passavam e a jovem Blanchard não apresentava uma resposta.

Parecia algo digno de um pesadelo, uma paralisia do sono...

Mas era "só" sua mãe.

A mulher que lhe forçou a treinar mais a cada dia, a sofrer cada vez mais.

A mulher que não lhe deixou seguir seus sonhos.

A mulher responsável pela morte de Robert III.

A mulher que... não era mais uma mulher.

Era um demônio.

Assim como todas as outras Blanchards que trilharam o caminho sombrio do IND.

- Ugh, você está terrivelmente alterada e ainda por cima, com esse bafo de vinho horroroso. Vá pro seu quarto. Depois nós conversamos. - a senhora Blanchard disse, finalmente largando o rosto da filha com visível ódio. Mas todas as outras pessoas ali apenas batiam palmas, hipnotizadas, como se estivessem na frente de uma visão divina.

Vivien ainda sentia seu coração acelerado e seus músculos tremendo. Suas pernas não funcionavam direito e sua mão procurava pela rapieira que ficava ao lado de sua cintura. Seus olhos, arregalados por conta do horror, tentavam encontrar o núcleo daquela coisa na sua frente. A desobediência deixou a Sra. Blanchard ainda mais possessa.

- Vá para o seu quarto, AGORA! - a última palavra surgiu como um rugido e finalmente tirou Vivien de seu transe. Ela levantou num pulo e desviando o olhar, se preparou para sair.

- Sim, senhora. - e seguiu pra fora da sala de jantar, pegando uma garrafa de vinho assim que saiu das vistas de sua mãe, que logo voltava a ser paparicada pela plateia de marionetes como se nada tivesse acontecido.

As mãos de Vivien tremiam tanto. Com certo esforço, ela seguiu até seu quarto e abriu a porta, bebendo um longo gole de vinho antes de entrar no cômodo. Estava do mesmo jeito que ela deixou quando saiu, exceto pela ausência de seu melhor amigo. Ele estaria deitado na cama, preguiçoso, e faria alguma gracinha pra lhe chamar a atenção e ganhar carinho. Quando pensou nessa cena, Vivien se deixou desabar no chão do quarto e chorou como nunca havia feito.

--//--

- Hã? Você tá falando sério? - Salvatierra perguntou um tanto incrédula ao receber a notícia, e ficou visivelmente aborrecida quando a soldado confirmou o que havia dito. Pegou a garrafa e serviu uma dose generosa de uísque, bufando.

- Sim, General. Recebemos uma chamada da Ordem da Fé. Na verdade, um pedido de socorro... Pelo que disseram, a sede deles foi atacada por demônios e eles estão pedindo por ajuda.

A General passou a mão no rosto, ainda incrédula.

- Era só o que me faltava... Aquele bando de virgem misógino querendo que as minhas soldados vão até lá pra limpar a bunda deles. - Susana bebeu com gosto, encarando o copo por alguns segundos - Eles disseram o tamanho do estrago?

- Não, senhora. Mas disseram que é extremamente urgente, então imaginamos que...

- Certo, certo, nós vamos dar um jeito nisso. É o nosso trabalho, no fim das contas. Está dispensada, eu vou falar com as oficiais sobre isso.

A soldado saiu e Salvatierra deixou seu corpo pesar na cadeira, bebendo mais um gole do uísque.

- Mas eles podem esperar mais um pouco.

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