Prólogo - A Estrela da Tempestade

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Por quase cinco mil anos, o Império de Saryan floresceu por entre inúmeras provações. Inúmeras guerras, fome, pestes arcanas e até mesmo criaturas imortais foram inimigas de um pequeno condado que hoje ostenta a bandeira mais temida de toda Myracroduon, uma história que poucos elfos podem se lembrar ou estão vivos para dizer.

Dentre os que ergueram os estandartes da guerra, alguns tiveram seus nomes cravados na história como lendas que fazem tremer o coração de qualquer um que ouse ser rival de Saryan. E por mais que a maioria desse seleto grupo tenha se voltado a uma vida pacífica numa tentativa de deixar um passado encharcado em sangue para trás, alguns simplesmente não são capazes de deixar a espada descansar.


...


Os fios prata perolados de seus longos cabelos dançam suavemente por entre os entalhes delicados num chiado baixo contra o metal de aço prateado forjado na união de Elfos e Maksar em Althunrain, uma liga extraordinária de Aço Vallax, prata de fogo e mithril reforçada com leves e pequenos cristais de Obtinerio negro no centro das peças. Cada desenho de flores feitas a mão com prata de fogo reluz especialmente contra o vermelho escuro do sangue dos inúmeros que matou em sua subida, e contra os muitos relâmpagos que cortam nuvens de um céu nublado que variam de tons de cinza e preto.

Os trovões rugindo acima dela não lhe deixam perder a concentração, principalmente ao olhar para a sua mão direita, que segura firme o cabo de madeira de Fhae'llo de oito esferas e brande a lâmina da espada limpando para o lado o sangue escuro dos demônios que matou na sua jornada até o topo desta montanha, pintando-a de preto contra o branco. E outro raio cruza o céu num trovão alto que não permitia o seu olhar azul brilhante como safiras mude de direção, pois observa a espada que já conjurou terror no coração de tantos inimigos.

Feita dos fios de um amanhecer dourado, ouro e esperança, ela agora é uma ferramenta sagrada, e o mero vislumbre de tudo que realizou por si só não compensam uma vergonha humilde de tê-la usado tão somente para matar e derramar sangue.

Um pensamento vacilante passa pelo seu olhar, uma mera lembrança, um pensamento de tudo que já protegeu que não a permite recuar jamais. Já faz tantos anos que se viu nessa mesma situação, prestes a lutar contra a fonte de toda a guerra, o adversário comandante de toda essa loucura, que já não é capaz de sentir medo, porém, ainda há uma tensão em seu coração que tenta draga-la para um pântano de dúvida lodosa e impregnante.

Seus lábios finos e brancos pelo frio tremem por um instante, porém, com o som de algo vindo pela sua direita a força a se concentrar um pouco mais, e não precisa virar o olhar para saber que lá havia.

Sua voz poderosa como é desde o primeiro dia que o viu ressoa contra a ventanosa tempestade que os cercam e é como um farol, é como o Sol amanhecendo.

— Kalyn, Edelorin achou a Profecia da Morte, precisamos continuar.

Ao seu lado direito, um Axcell surge em meio ao vento violento, sua gigante silhueta se dá por suas asas castanhas tão recolhidas que mais parecem um escudo em suas costas, e no balançar das penas, por entre pode-se ver lâminas talhadas em igual forma. Seus braços fortes envoltos por faixas vermelhas balançam finas fitas carmesins como o sangue que lhe suja algumas partes do corpo, e contra o vento elas balançam suavemente e o mesmo se repete em suas patas de garras escuras e poderosas o bastante para carregar um boi. Por sobre o peito avantajado, penas brancas com bolinhas pretas são reforçadas com uma cota de malha de prata e mithril azulado envolto nas pontas com couro de Artral tão talhado que se pode ler histórias inteiras em seus desenhos, é a memória dos ursos da tempestade que o honraram como O Trovão dos Nove Relâmpagos após a Batalha de Sin-Motheris.

As Relíquias Imperiais - O Príncipe VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora