1- Sua Marca

Antes da marca

Cidade de Arcádia
Ano: 2018
8:00H

Estar em uma fase de independência é o processo mais difícil da minha vida agora, sem falar na questão sentimental.
Eu me chamo Serena, sendo realista não consigo me definir na escala entre beleza e feiúra, admito que posso estar no meio desses extremos...
Morena, cabelos e olhos castanhos escuro, com 1,65 de altura, recentemente estou em um relacionamento que podemos considerar em processo de desgaste, falando nisso...
Me vi perdida na cama pensando em Dante, ele foi meu primeiro namorado e me sinto culpada, fui responsável por minha própria infelicidade sentimental, eu deixei ele para ficar com meu atual, Marcus, ele é do tipo alto, pele levemente bronzeada, cabelo preto em corte baixo com seus olhos castanhos, na época era a minha nova aventura.
Eu sei o quanto foi uma escolha idiota, Dante estava sempre ao meu lado, ele era alto, branco, cabelo loiro, os olhos azuis, tínhamos o costume de ficar juntos no quarto cantando músicas, tenho umas coisas guardadas aqui. No guarda roupas encontrei uma caixinha de lembranças, tem fotos, bilhetes, embalagens de chocolates e doces, um cordão com um pingente cristalino.

8:55h

Tem alguém batendo na porta. Era meu namorado...
- Marcus, cadê sua chave?
- NÃO SEI SERENA...Perdi essa porra!
- E por que esse mau humor?
- Tô irritado e não tô afim de conversar.
Entrou no quarto e disse:
- Mano que porra é essa aqui?
- O que?
Ele segurava a caixa de lembranças, me aproximei e tirei de suas mãos e guardei.
- Tá pensando naquele otário agora?
- Não...
Ele segurou meu braço e aproximou seu rosto ao meu, quase tomando meu ar.
- Tá arrependida?
- Me solta agora!
- Responde...
- Marcus me faz um favor, me deixa!
Me afastei e ele largou meu braço, troquei de roupa e resolvi sair, ele tava parado na porta de braços cruzados.
- Aonde você vai?
- Preciso sair...
- Você que sabe Serena.
- Isso é uma ameaça Marcus?
Assustado ele se aproxima e eu recuso a aproximação.
- Não amor, calma aí, eu apenas queria que ficasse aqui comigo.
- Sai da minha frente, eu vou ter que ir.
Ele saiu irritado, resmungando,se jogou no sofá ligando a TV, eu saí e no meio da caminhada senti estar sendo observada mas ignorei, passei no café que eu costumava frequentar com Dante, o atendente ainda era Ygor um amigo em comum, ele me olhou surpreso e disse:
- Bom dia! Quanto tempo Serena, o de sempre?
- Sim, estou precisando de uma dose de cafeína.
Ele preparava com a mesma habilidade, me entregou um café achocolatado de Alpino e dois pacotes de Fini sabor uva.
Paguei, tomei um gole do café e fiquei olhando em volta, meus olhos ficaram marejados e ele disse:
- Sei que não é da minha conta, mas você tem notícias dele?
- Tudo bem... Não tive notícias, eu iria perguntar a mesma coisa a você...
- Da última vez que o vi ele veio aqui e parecia revoltado, pediu o mesmo de sempre e sentou naquela última mesa e com um tempo pagou e saiu, daí nunca mais apareceu.
- Entendi...
- Sinto muito, você ainda está com aquele cara?
- É assim mesmo... Estou com ele por enquanto.
- Serena se não te faz bem siga em frente, vai que o destino reserva algo novo, alguém que mude sua vida...
- Duvido muito, isso só eu morrendo e nascendo de novo.
- Confia no que eu disse para você.
- Tá bom, vou acreditar... Mas acho difícil, preciso ir, obrigada.
- Até mais, vê se aparece mais vezes.
- Até depois, prometo que volto.
Eu estava tomada por uma emoção tão forte, era uma vontade de me libertar e quebrar essas amarras do meu coração, em certo tempo após deixar Dante e escolher Marcus eu deixei minha rotina para tentar me manter firme nessa relação e após ouvir aquilo de Ygor entendo que ele pode ter razão.
Por agora me sinto decidida a pedir um tempo para que eu possa organizar minha mente.

9:30h
Meu telefone tocava, era Marcus.
- Oi...
- Vai voltar que horas ?
- Já já, eu estou resolvendo umas coisas.
- Vê se não demora.
- Tá Marcus... Quando eu chegar preciso conversar com você.
- Tchau.
Saí para a livraria, no trajeto vi uma moto passar em alta velocidade um arrepio em meu corpo me deixou com o coração acelerado, aumentei os passos e cheguei até a livraria que fiz um estágio. Entrei e comecei a explorar as estantes que tinham a temática de literatura internacional. Acabei não encontrando um livro e decidi voltar para casa, novamente a mesma moto passa e eu sinto a mesma sensação.
Chegando em casa Marcus havia comprado sorvete e estava sentado com uma aparência leve, me abraçou forte e disse:
- Desculpa pelo acontecido de hoje?
- Marcus eu...
- Escuta, eu comprei seu sorvete preferido, vamos curtir é um sábado, vamos ficar bem.
- Marcus é sério, preciso conversar.
- Tá bom amor pode falar.
Sentei ao lado dele e comecei:
- Recentemente eu tenho acumulado muita coisa dentro de mim, nossa relação tá me sufocando e eu preciso que seja compreensivo.
- Mas estou aqui, vamos resolver isso.
- Marcus eu quero dar um tempo...
- O quê?
- Eu preciso que me entenda.
Ele se levanta do sofá e andando para todos os lados com os punhos cerrados começou a ficar alterado.
- Você tá conhecendo outro Serena?
- Você está ficando louco?
- Do nada isso, eu não vou aceitar esse tempo.
- Eu preciso disso.
- Você precisa de mim, vamos ficar juntos. Pode esquecer essa idéia.
- Eu não sou obrigada a ficar sofrendo só para suprir suas vontades.
- Foda-se você e sua crise.
- Crise, é sério isso, o problema é você e seu maldito descontrole.
- Você não vai fazer comigo o que fez com o otário do seu ex.
- Bem, eu já tomei minha decisão e quero que se retire, vai ser melhor para nós, eu não estou terminando com você entende.
Ele ficou parado e foi para a cozinha, copos, pratos, talheres tudo foi lançado aos ares, comecei a chorar e ele apareceu com a mão cortada, enrolou a mão com uma camisa e foi para o quarto. Eu escuto um monte de palavrão e pancadas vindos de lá, ele apareceu com uma mochila e disse:
- Tô indo passar uns dias na casa de um amigo, tem o seu tempo, mas quando eu decidir voltar teremos uma conversa séria.
- Marcus...
- Não quero saber, ainda tem roupas e objetos meu aqui, eu volto.
Bateu a porta com força e saiu na moto.