E D U A R D A
Início de Agosto
Acordo mais um dia na casa vazia, o que já não é mais uma novidade.Aos meus 18 anos não preciso de mais ninguém tomando conta de mim enquanto minha avó viaja a trabalho pelo país. Então estou acostumada a estar na minha própria companhia nos últimos três anos.
Moro com a minha avó, somos apenas nós duas desde a perda dos meus pais. Ela era mãe da minha mãe e já vivia solitária nesta casa desde o falecimento do meu avô, quando eu tinha 2 anos de idade. Me lembro de minha mãe dizer quando eu era pequena que tinha medo de como minha avó lidaria com a solidão, por isso estivemos sempre por perto, mas tudo mudou quando nos tornamos só nós duas.
Principalmente a minha avó.
Os primeiros anos de perda pra mim foram muito complicados, principalmente devido às circunstâncias, mas precisei superar para conseguir sobreviver. Ao mesmo tempo minha avó precisou lidar com as perdas em profusão enquanto criava a sua neta, e de certa forma, o peso o mundo sobre suas costas fez dela uma mulher fria e distante.
Com sua companhia, — que as vezes era tão distante que passava despercebida — há 3 anos tenho me segurado no furacão Milena. Nos conhecemos na escola e o jeito espontâneo dela me conquistou imediatamente e não fui capaz de desgrudar dessa maluca.
Atrasada como sempre, me arrumo e faço minha higiene matinal antes de ir para a escola. Faço o caminho na maior velocidade que consigo e minha melhor amiga me espera na entrada da escola onde estudamos com sua habitual cara de bunda.
— Porra, Eduarda! Não tem relógio em casa, não? Mora aqui do lado e chega atrasada, eu me desloco do morro da Rocinha até aqui e sou obrigada a ficar plantada esperando a rainha da Inglaterra dar à luz da graça? — Ela dispara sobre mim assim que me aproximo.
— Bom dia pra você também, coisa linda! Sempre um prazer te encontrar de bom humor todas as manhãs... — Provoco e abraço ela de lado.
— Existe perdão que só funciona à base de troca. — Ela diz, com os braços cruzados, enquanto entramos pelo pátio.
— Lá vem...
— Você vai ao baile comigo hoje! — Tenho certeza que isso não foi uma pergunta e sim uma constatação. Olho pra ela como quem diz "não sei, não" e ela continua na tarefa de convencer sua companhia. — Ah, amiga, fala sério! Você já foi a um baile comigo, saiu viva, chegou bem. Hoje é sexta, podemos curtir e você vai ficar trancada em casa? Aposto que sua avó não chega tão cedo...
Realmente minha avó está para chegar só no domingo ou na segunda, por isso eu passo a considerar a ideia. Bem, acho que chegou ao momento de passar a agir como uma garota na minha idade e parar de pensar tanto.
— Ok, querida. Vou pensar no seu caso... — Uma frase já é o suficiente para animá-la pelo resto da manhã enquanto a todo instante possível fala sobre seus esquemas e os desenrolos que ela pretende pra mim.
✶✶✶
Com uma mochila nas costas contendo algumas peças de roupa e maquiagem, envio uma mensagem para minha melhor amiga dizendo que estou no pé do morro, solicitando que ela venha ao meu encontro. Já fui até a casa dela algumas vezes e tudo correu bem, mas isso não muda o fato de que sou uma completa desconhecida para a maioria das pessoas aqui, o que me deixa receosa de subir sozinha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Herdeiro Do Crime
RomanceEfeito borboleta - variações muito pequenas podem parecer insignificantes, mas gerarão enormes mudanças ao longo do tempo, provocando uma sensação de caos. Uma noite une o destino de Lucas e Eduarda pelo resto de suas vidas. Uma noite de baile. Cami...