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EDUARDA

Hoje fui para a escola, não seria apenas abandonar o barco faltando três meses para acabar, tendo que refazer tudo depois. Infelizmente não recebi nenhuma ligação em relação a uma vaga de emprego, e isso está me perturbando.

Para ajudar a aliviar minha angústia, o irmão da Milena falou que viria antes, ainda entre hoje e amanhã, ou seja, estou ferrada.

Serei eternamente grato a tia Maria por deixar que eu fique lá mesmo que por pouco tempo. A casa é pequena e não é tão igual coração de mãe. Realmente fica muito apertado.

Na hora da saída fui em direção à escola e falei que eu precisava ter uma conversa com a diretora, como estava disponível, logo deixei que eu entrasse.

— Eduarda, o que você traz aqui?

— Ei, Míriam! — É chato contar a mesma história, e eu estou muito envergonhado com toda a situação que me meti. — Vim falar sobre uma coisa que aconteceu e ver o que vocês podem fazer por mim. — Tento passar o máximo de tranquilidade possível, mas minha voz entrega minha aflição.

— OK, sinta-se. — Faça o que ela pede e me sente na cadeira ficando de frente para ela.

— Então, estou até com um pouco de vergonha, mas enfim, descobri há um pouco tempo que estou grávida. — Jogo a bomba sem nem olhar em seu rosto. — A senhora sabe que depois do que aconteceu com meus pais eu morava com a minha avó, né? — Desta vez desvie meus olhos para os que me encaram.

— Sim, eu sei.

— Então, ela não aceitou muito bem a história...

— E o pai? — Disse.

— Um escroto. — Respondo na lata.

— Puxa vida! — Ela solta um suspiro. — Com certeza não foi planejado, então sinto muito. Você é maior, então sua avó não tem mais a obrigação de manter você. Onde tem ficado e como tem se mantido?

— Está tudo bem. Estou ficando com uma amiga, e em breve as coisas vão entrar nos eixos. — Pelo menos é o que eu desejo.

— Que tipo de ajuda que você procurou veio até aqui? — Ela é uma pergunta cautelosa, afinal eu realmente não deixei claro.

— Estou procurando um emprego, mas não queria desistir da escola agora que falta tão pouco. Queria saber se tem alguma forma de eu fazer as provas e os trabalhos, mesmo não vindo a todas as aulas, sei lá, algo assim.

— Olha, vou ver o que posso fazer por você. Vou conversar com os professores no conselho que vai acontecer mais tarde. O fato de você ser uma boa aluna deve contribuir. Segunda você passa aqui para ver o que foi resolvido.

- Tabom! Muito obrigada! — Digo me levantando.

– Por nada. — Ela estende a mão, e eu aperto com a minha. — Desejo de coração que tudo realmente se acerte pra você, e que tenha muita sorte nessa fase. — Ouço quando estou alcançando a porta, e me viro para dar um sorriso em agradecimento.

— Amém! — Murmuro antes de sair.

No pátio, com a mochila nas costas e o celular na mão, Milena me espera apoiada na pilastra.

— Vamos? — digo-me aproximando.

— Bora!

Nós vamos andando, enquanto observamos os poucos alunos que ainda saem da escola.

—Deu em que? — Minha amiga pergunta alguns passos à frente.

— Ela vai levar para o conselho e ver o que eles podem fazer por mim.

— Eles devem liberar pra você fazer as provas e entregar os trabalhos.

— Deve ser... — Concordo torcendo para que sim. — Bora que eu estou azul de fome! — Revelo sentindo meu estômago reclamando.

Assim que chegamos, sentado no sofá estava Maurício.

— Mau! — Milena grita e vai abraçar o irmão.

— Ei! — digo assim que entrei.

— Mau, essa é a Duda, minha amiga que está passando um tempinho aqui. Amiga, esse é meu irmão Maurício.

—Prazer. — Ele diz, mas percebeu seu incômodo quando Milena falou que estou passando um tempo aqui.

— Igualmente. — Sorrio simpática engolindo o mal-estar que se instala em mim com a percepção que tive.

Durante o dia Maurício se mostrou bem bacana, mas aqui não é o meu lugar.

Para amanhã, resolvi que vou tentar falar com a minha avó de novo, já que tentar Deus deixou.

✶✶✶

No dia seguinte, assim como o planejado vou na minha antiga casa, já se passaram das duas da tarde e sigo na força do ódio, acordei passando mais mal do que nunca.

É doloroso olhar para a casa em que eu dizia ser minha e nem saber se vou poder entrar de novo.

Toco a campainha e espero. Quando dona Lídia abre a porta e dá de cara comigo seu rosto se fecha na hora.

— Já falei que não é para aparecer aqui. — Diz rispidamente.

— Vó, por favor, vamos conversar. — Praticamente imploro a ela.

— Não, eu não tenho netos. — A cada frase parece que perco mais um pedaço de mim.

— Não faz isso, por favor.

— Tchau! — Ela diz e batendo a porta.

Achei que nada seria pior do que a forma que ela me mandou ir embora, mas estava enganada. Ouvir essas palavras abriu ainda mais a ferida. Tento segurar as lágrimas, mas é uma luta perdida. Decido ir à praia, preciso urgentemente da calma que ela me passa.

"Eu não tenho netos!"

Perco a noção de quanto tempo fiquei ali sentada olhando para o mar, tentando clarear a mente e pedindo que Deus me ajude.

Passam das 7 quando chego ao pé do morro. Vou subindo lentamente, acho que nunca vou me acostumar com o cansaço que subir a ladeira me causa. Pelo menos não sou barrada. Acho que os meninos já sabem que estou morando por aqui.

Quando chego na metade do caminho uma jarrada de tiros me assusta. Sinto o desespero subindo pela minha espinha enquanto procuro um lugar para me abrigar.

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