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EDUARDA


Mais cedo Milena mandou a mensagem pedindo para que Lucas viesse, e o tal GB disse que ele viria mais tarde até nós. Resultado de toda espera: não tenho mais unhas.

— Amiga, ele nem deve vir. — Digo ao conferir as horas e perceber que se aproximava de 9 da noite. — Estou nervosa e não sei se tenho coragem...

— Se não vier, a gente vai atrás dele. E pode parar de palhaçada que de hoje não passa. Não tem essa de coragem! Vocês tiveram na hora de fazer... — Seu tom é de repreenda, mas eu aceito. Ela está certa.

Assim que ela termina a frase ouço passos ecoando pelo corredor e meu olhar é atraído diretamente para a porta escancarada. Lá está ele.

PUTA QUE PARIU!

No instante em que seu olhar foca em mim a minha garganta seca. Acompanho seu olhar para Milena, sentindo um calafrio tomar meu corpo com sua voz grossa.

— Qual foi? O que está pegando? — Meu Senhor, não tem mais pra onde correr. É agora ou nunca.

— Um "oi" para os educados, né LC? — Mi provoca e os olhos de Lucas se reviram. — Na verdade quem tem algo para falar é ela. — E os olhos escuros de Lucas se dirigem para mim mais uma vez, me fazendo prender o ar.

— Então solta o papo. — Sinto vontade de dizer que ele deveria ter ao menos me cumprimentado quando chegou com o objetivo de desviar do grande assunto, mas ao mesmo tempo tenho consciência que não há como fugir.

— É que... que... — Seria tão bom se minha boca conseguisse processar tudo o que meu cérebro quer dizer, e não travasse como todo o resto do meu corpo, não conseguindo formular a merda de uma frase.

— O que? — Lucas me apressa e eu engulo o bolo localizado na minha garganta.

— Calma! Pressionar não ajuda. — Milena interfere e eu olho rapidamente para ela como agradecimento.

— Então... — Fecho os olhos e suspiro. — Não tenho como dizer de outra maneira que não seja a mais direta possível. Primeiramente você é o único homem que me relacionei, então não existe nenhuma sombra de dúvidas. Eu estou grávida. — A última frase sai em um tom baixo.

— VOCÊ ESTÁ O QUE? — Ao contrário de mim, ele praticamente grita.

— Grávida! Você não ouviu que ela está grávida? — Milena interfere mais uma vez, me salvando de outra. Ele solta uma breve risada.

— E eu com isso? — Quando ouço-o dizer, eu paraliso.

— Será que é por que eu não fiz com o dedo? — Meu tom sai mais ríspido do que em todo o resto da conversa.

— Tá, e quem me garante que é meu? — Meu rosto indignado já responde por mim, então ele continua. — E mesmo se fosse, o que mais tem nesse morro é mulher querendo me segurar, e se você acha que vou cair nessa de filho você está muito enganada. Comigo não cola.

Ele só pode estar de sacanagem.

Me levanto e caminho até ele, olhando diretamente em seu rosto enquanto cuspo tudo o que está engasgado.

— Não estou entendendo porque você está supondo que eu quero te dar um golpe, mas eu sinceramente não estou fazendo questão nenhuma que você entenda o contrário. Eu não preciso dar golpe nenhum, porque tinha tudo até ontem. Quando fiquei com você, eu nem sabia que você era dono de uma porra de morro. Se soubesse você pode ter certeza que nada teria acontecido. Depois disso tenho a certeza de que não preciso mesmo de você, vou passar um aperto enfrentando essa barra sozinha, mas não quero olhar na sua cara. — Desvio do seu corpo e saio do quarto. Como ele pôde dizer isso? Ele nem me conhece!

LUCAS NARRANDO

Aperto os dentes sem conseguir acreditar nessa merda. Como assim a mina estava grávida? Eu nunca vacilava com isso de prevenção.

Realmente nada me garante que o filho é meu além da palavra dela. Não vai ter essa merda de jogar uma criança no meu colo e me tirar de otário do ano.

A loirinha sai batendo o pé, talvez esteja chorando, mas sinceramente eu estou cagando e andando pra isso. Volto meu olhar para Milena, que me encara com o semblante mais fechado e irritado que já vi nela.

— É sério isso, Lucas? Quanto tempo eu dormi pra você ter se tornado isso sem que eu nem tenha percebido?

— Não vem com essa, pretinha.

— Não vem com essa? Porra — se levantou e parou na minha frente. — Agora eu vou falar com o Lucas, não esse LC que você se tornou. O Lucas que me protegia nas brincadeiras, que corria pra cima e pra baixo descalço, que eu vi crescendo e me viu crescer. Eu vi tudo o que você passou, e entendo, mas não é justo tento vivido tudo na pele, que você deixe o seu filho crescer sem um pai bom pra ele.

— Meu filho? — dou sorrisinho debochado.

— Não dá de maluco, que você sabe muito bem que o pai é você. Ela é uma garota de 18 anos, que está vendo todos os seus planos de vida indo por ralo, morando de favor na casa da melhor amiga, onde vai ter que sair em pouco tempo. Tendo a responsabilidade de assumir um filho sozinha, sem família, sem casa, sem emprego, vendo o pai do filho cuspindo um monte de merda na cara dela.

Puta merda!

— Se você não vai ser homem o suficiente de estar presente, beleza. Só não seja ruim a ponto de deixá-la desamparada com seu filho na barriga.

— Caralho... — Passo as mãos pelos cabelos — Que porra! Vou ver que merda vou fazer.

Saio daquela casa e vou pro meu barraco. Entro, vou direto atrás de um banho, preciso relaxar.

Como posso ter dado esse mole, cara? Se tivesse encapado o pinto nada disso estaria acontecendo. Essa porra já começou toda errada, nem tinha como dar certo.

Deito para dormir, mas não prego os olhos a noite toda pensando nisso.

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Não esqueçam do voto


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