XVI - Criminal Law

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★━━━━━━━━ αѵisσs: ∂irєiτσ criмiทαℓ ━━━━━━━━━★

AISHA MERCURY

Frequentar uma faculdade nunca era fácil, desde calouro até o mais veterano. Responsabilidades da vida adulta frequentemente nos faziam ponderar sobre desistir, mas, reconsiderando, percebi que não poderia vacilar justamente no meu último período.

Hoje, precisava resolver burocracias na faculdade, mas a solidão dos últimos tempos, imersa em um país completamente diferente da minha cultura, me levou a decidir trocar os turnos para participar das aulas presenciais como qualquer outra pessoa.

Minha situação era complicada; afinal, as leis americanas e alemãs divergiam. No entanto, se me dedicasse ao dobro, talvez pudesse concluir o último período sem necessidade de refazê-lo.

'Bata na porta', pensei comigo mesma, antes de tocar na sala do professor de direito constitucional.

— Deve ser a srta. Mercury, certo? — sorriu o senhor de cabelos grisalhos. — Entre.

— Sim, Aisha Mercury. Perdoe-me pelo atraso, ainda estou me acostumando com o trânsito de Los Angeles.

— Tudo bem, a aula acabou de começar. Por favor, sente-se ali. — apontou para um lugar vazio no auditório.

Enquanto caminhava, sentei-me ao lado de um rapaz negro, notavelmente atraente.

— Por que escolheu Direito, srta. Mercury? — perguntou o professor.

— De onde venho, as mulheres têm poucos direitos, quase nenhum, na verdade. Escolhi uma faculdade onde pudesse aprender para tentar mudar essa perspectiva em meu país.

— Me disseram que você veio da Alemanha, mas isso não é o que está dizendo, não é mesmo?

— Não, estou falando da Arábia Saudita.

— Arábia Saudita? — sussurrou o rapaz ao meu lado, olhando-me de cima a baixo.

— Mercury não é um sobrenome árabe. — o professor comenta. — Tem alguma relação com Freddie Mercury?

'Que velho enxerido', penso antes de responder sua pergunta.

— Sim, ele é meu pai. — respondi sem muita emoção, ciente do burburinho que aquilo causaria.

— Eu pensava que ele fosse gay. — uma garota comentou, fazendo a turma - exceto o rapaz ao meu lado - rir.

— E eu pensava que você soubesse cuidar da sua vida. — respondi à altura, e a turma se calou.

— Certo, vamos começar a aula. — interrompeu o professor.

Ouvindo o anúncio do final da aula, levantei-me com os outros alunos para seguir até a próxima sala.

— Não ligue para o que a Rachel disse. — o rapaz que antes estava ao meu lado começou a puxar conversa enquanto caminhávamos juntos.

— Quem?

— A que falou do seu pai. Provavelmente ela estava apenas tentando te provocar porque você estava sentada comigo. Já fomos namorados, e ela ainda não superou.

— Que falta de amor próprio. — ri.

— A propósito, me chamo Benjamin, mas pode me chamar de Ben. O que pretende fazer quando acabar a faculdade?

— Meu pai quer que eu abra um escritório. Acho que, se trabalhar na área do entretenimento, talvez consiga até colaborar com ele.

— Com essa cara de criminal? — riu. — Com o tempo, você vai perceber que cada aluno da nossa turma tem cara de uma área diferente. Rachel parece estar aqui apenas porque o pai a obrigou, então, no máximo, vai trabalhar com divórcios e pensões. Eu vou ser juiz, mas você... Você tem uma cara de quem seria capaz de enfrentar até o júri para defender seu cliente.

Não consegui evitar rir com a descrição dele.

— Você é um bom observador!

— Apenas com quem estou interessado. — flertou com um sorriso de canto. — Vamos ter um trabalho em dupla sobre responsabilidade civil em casos de danos ambientais. Quer fazer comigo?

— E se eu já tiver um parceiro? — entramos na sala do outro professor e nos sentamos juntos.

— Não tem, sou a única pessoa que falou com você desde que a aula começou.

— Tudo bem, eu faço com você. Qual o prazo do trabalho?

— Semana que vem.

— Você está livre hoje?

— Claro. Na minha casa ou na sua?

— Pode ser na minha. Esteja lá às 15h. — anotei meu endereço e entreguei para ele.

...

— Me conta mais sobre esse cara misterioso! — Ana implorava enquanto me ajudava a organizar os livros da faculdade.

— O que quer saber tanto?!

— Como ele é!

— Ele é bem alto, deve ter mais de 1,90, tem braços fortes, é tatuado e tem ombros largos.

— Deve ter uma... hum, 'parte masculina' impressionante!

— Anastacia Smith! — ri, totalmente sem graça.

— Como se você também não tivesse pensado nisso. Mas ele não deu em cima de você? Nada? Se esse aí for gay, até eu desisto.

— Não é gay, mas flertou de forma sutil.

— Esse aí você terá um mês de namoro e três anos de terapia... Falando em gay, teu pai foi embora sem nem se despedir de mim!

Fiz com que ela se calasse ao ouvir a campainha tocar.

— Ele chegou, rápido, saia daqui! — fomos até a porta dos fundos.

— Coloquei preservativos no teu quarto, viu! Mas agora fiquei até preocupada. Se não couber, use a cortina! — ria.

— Sai daqui, Anastacia! — quase matei ela de vergonha.

Fecho a porta, a campainha toca novamente, e eu caminho até a porta da frente, abrindo-a. Óculos escuros, jaqueta preta, blusa branca... Era ele.

— Veio fazer um trabalho ou ir a um show? — brinquei para descontrair enquanto ele entrava.

— Nunca sairia de casa tão simples para ver uma mulher bonita. — flertou novamente, cumprimentando-me com um beijo no rosto.

— Eu separei alguns materiais para o trabalho. Quer beber algo? Suco? Refrigerante? Talvez um whisky? — ofereci enquanto pegava a garrafa de bebida alcoólica e nos acomodávamos à mesa.

Depois de servir nossos copos, uma troca casual de histórias revelou um pouco mais sobre o passado de Ben e minhas experiências culturais sendo uma árabe que cresceu em outro país. A conversa fluiu suavemente até nos concentrarmos no trabalho em mãos.

Enquanto discutíamos meticulosamente uma lei complexa sobre danos ambientais, nossos olhares encontraram-se. O instante congelou, e os olhos dele, por um breve momento, desviaram-se para meus lábios. Uma tensão sutil preencheu o espaço, e então, Ben aproximou-se com suavidade, seus lábios tocando os meus num gesto suave, embora repleto de emoção contida. O toque delicado de seus lábios revelava a crescente intensidade do momento compartilhado. Por um breve lapso temporal, mergulhamos nessa conexão íntima, sentindo o calor do instante que nos envolvia, fazendo-nos esquecer o tempo ao redor.

A interrupção abrupta do beijo veio com o som da campainha, clamando por atenção. Rapidamente, fui atender pensando em matar quem interrompeu o que poderia ser meu melhor sexo e me deparei com um entregador segurando um buquê de rosas destinado a mim.

— Sou eu. — Peguei o buquê, confusa, enquanto Ben observava curioso e tão confuso quanto.

Fechei a porta ao mesmo tempo em que minha atenção era mantida no buquê em minhas mãos e um cartão, oculto entre as flores, continha o nome da alma desgraçada que quebrou o clima com o preto mais gostoso que eu já havia visto.

'Axl, eu juro que ainda te mato!' penso ao ler o nome do curupira ridículo.

Volto a me sentar na mesa, totalmente sem graça e então voltamos a fazer o trabalho sem dizer mais nada.

CONTINUA...

Filha da LendaOnde histórias criam vida. Descubra agora