Sentimentos feridos: 23

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Simone deixava o hospital tendo a cadeira de rodas, na qual estava sentada, empurrada com calma por Eduarda. As filhas quando chegaram ao lugar prontamente a abraçaram fortemente e com uma preocupação acentuada quiseram confirmar de todas as formas que ela e o bebê estavam bem. Ficaram claramente aliviadas quando garantiram que a mãe e o futuro novo membro da família estavam fora de perigo. Em meio a um cochilo pôde ouvir xingamentos baixos contra Alessandro enquanto elas conversavam discretamente com Fábio. Em outras circunstâncias aquela cena a teria feito gargalhar incansavelmente, mas no presente momento apenas sentia o estômago revirar em tão somente ouvir o nome dele. Agora de alta, com recomendações sérias de manter repouso na volta para casa, protegia com uma mão seus olhos dos ofuscantes raios solares da manhã. Com a ajuda de Fábio adentrara cuidadosamente o carro enquanto Fernanda guardava sua mala dos curtos dias passados internada ali. Estava aliviada em voltar ao seu lar, não suportava estar enclausurada em um quarto de hospital. Era reconfortante o retorno à um lugar que sentia-se segura.

- Leva ela pra cama, Nanda, que eu e Fábio vamos preparar algo pra tomarmos café da manhã - Eduarda sugeriu.

- Eu não quero comer... não precisam se preocupar comigo - Simone tentou manter-se sozinha de pé, mesmo com uma aparência doente, e fora segurada de volta por Fernanda quando titubeou.

- Vamos com calma, minha senhora - Fernanda a agarrou perto - Você vai comer sim, precisa disso e a Catarina também - Reforçou.

- Não nos olha com essa carinha de cachorro abandonado - Indicou Eduarda - Vai comer ao menos um pouquinho pra fortalecer você e nossa pitica aí dentro - Se aproximou da mãe e acariciou seu ventre.

- Agora todos afirmam convictos que é uma menina?! - Sorriu suavemente.

- Só precisamos que ela dê a última palavra - Fábio apontou para barriga da Tebet - Mas é quase certeza.

- Vamos deixar essa mamãe aqui descansar um pouquinho agora - Fernanda guiou a morena até o quarto deixando os irmãos para trás.

- Filha, você poderia buscar um copo de água pra mim? Me sinto um pouco enjoada - Usou a náusea como pretexto para estar alguns minutos sozinha.

- É claro, volto já - A mais velha da Tebet a deixou acomodada na cama, ajustando as almofadas em sua volta e nas costas, e saiu.

Quando a mulher se viu sozinha naquele quarto solitário ela deixou que lágrimas caíssem de seus olhos e descessem até o queixo. Repousou a cabeça na cabeceira, abraçou o abdômen com os braços fortemente, e sufocou os soluços. Estavam entalada com palavras que ainda tinha para dizer ao reitor, sentimentos morriam na ponta da língua, os olhos fechavam buscando afastar toda a dor. Balançou a cabeça se negando a sentir o que não podia evitar. Poderia dizer que não conseguia respirar tamanha era a necessidade que lhe afogava por ele. Uma tempestade devastadora se alastrava pelo âmago de sua alma, por cada centímetro de pele que resfriava sem o calor daquela avassaladora paixão que saboreou.

Havia um pedaço daquele amor entregue, vivido, provado crescendo em seu ventre. As promessas não cumpridas, esquecidas, rompidas envolviam aquele pequeno ser e o afetava. Ela protegeria seu bebê, daria o melhor de si para que a criança estivesse bem, amada e segura. Jamais deixaria que tirassem aquele momento especial dela, nem mesmo a tristeza que agora acompanhava sua chegada. Seu pai não estaria por perto, não saberia ser dele, não poderia dedicar o amor que pareceu sentir quando soube de sua existência. Ela rogava aos céus conseguir contornar isso e não ganhar o desprezo por uma mentira usada como devolução de mágoa.

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora