Ressentimento: 35

303 18 126
                                    


Alessandro correu para dentro da emergência com uma Simone desmaiada nos braços. Estava desesperado para que a atendessem. Trouxeram uma maca e quiseram a levar sozinha, o mesmo não aceitou e adentrou aquelas portas sem largar a sua mão inerte. Não se importava se tivesse de esperar do lado de fora da sala naquele grande corredor. Deixou de lado suas incertezas e chateação. Apenas queria sua mulher e sua filha bem, faria o que fosse por elas. Fez preces ao divino pelas duas pessoas a quem mais adorava naquela vida. Estava pálida como um fantasma, desacordada como se não fosse mais acordar e respirando devagar... O medo daquela visão era um soco em seu estômago.

- Eu tô aqui, meu amor... estou aqui com vocês duas, vai ficar tudo bem - Acariciou os cabelos dela, beijou docemente sua testa e com gentileza tocou sua barriga.

- A paciente passou por um princípio de aborto, mas ela e a bebê estão estáveis agora. Pode ser estresse, esforço ou má alimentação... Assim que sua esposa despertar avaliaremos em um exame de imagem como está o desenvolvimento da bebê - Contou, a médica, olhando o prontuário e checando as medicações no acesso - Sua filha é uma guerreira, senhor - Sorriu suavemente para ele.

- Ela puxou a mãe! - O homem soltou um longo suspirou e entrelaçou sua mão a de Simone querendo passar conforto.

- Aconselho, por hora, que cuide bem de sua mulher e a faça repousar mais... Se quiserem evitar um aborto ou parto prematuro - Seu tom era sério.

- Farei tudo para que as duas estejam saudáveis e tranquilas. - Garantiu.

Quando a doutora saiu, o Molon se sentou ao lado dela e observou seu sono sereno. Naquele momento ela parecia o ser mais pacífico. Estava dividido entre sentir raiva pela mentira dela e estar compadecido de seu estado. Observou as olheiras em torno de seus olhos e lamentou que todos os acontecimentos, o mais doloroso sendo a partida de Fábio, a estivesse maltratando daquele modo cruel. O polegar fez um sutil carinho nas costas de sua mão. Afagou seu ventre saliente abaixo do lençol, poder sentir sua filha era um privilégio do qual se sentia pouco merecedor, mas seu coração transbordava em imenso amor. A tendo ali sentia que seu peito possuía escudos e que a protegeria de tudo.

- O papai aqui, filha... Eu te amo tanto, te espero com tanta ansiedade! Você foi meu maior acerto e é meu melhor sonho se tornando realidade - Falou baixinho perto da barriga, não soltava a mão da morena por nada - Sou tão orgulhoso da sua força, luta mais um pouquinho tá bom? O seu pai quer muito te dar um oi aqui fora. Vou sempre estar com vocês duas, eu prometo! Vai ficar tudo bem agora.

Simone despertou aos poucos. Seus olhos abriam e se adaptavam a luz forte naquele quarto. Sua mente, passo por passo, recordava o que acontecera e onde poderia estar. Uma mão quente afastou seu temor e a voz dele a fez respirar com mais calma após arfar em pânico. Olhos brandos cruzaram com os seus, ela pensou que encontraria um mar violento de raiva, mas encontrou apenas um delicado cuidado. Suspirou na máscara de oxigênio, as mãos foram ao ventre buscando sentir algo que provasse que não perdera sua filha. Estava desesperada de ter a levado para longe, os olhos brilhando em lágrimas de remorso. Ele percebeu o que ela estava pensando e prontamente lhe abraçou.

- Me diz que... - Seu coração quase não batia, seu estômago perfurava e seus pulmões não entravam ar - Minha filha, e-ela... - As palavras não saiam e sua mente quebrava.

O reflexo em seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora